sábado, 30 de julho de 2016

A IBERIZAÇÃO DA PENINSULA IBÉRICA


          Já há tempos escrevi sobre este delicado assunto que faz vibrar as almas de muitos lusitanos empedrenidos, como se tocar-lhes na ferida lhes fizesse doer muito.  Compreendo bem, ao fim de 40 anos de entrega exclusiva à defesa da nacionalidade (como hoje se diz), que falar de coisas chatas, mesmo que se finjam não existir, é incómodo, aborrecido, não faz rir e até por vezes humilha os mais orgulhosos. Mas a verdade é que ela existe e está lá, por muito que finjamos não a reconhecer.
          E porque razão digo eu (e outros tambem o dizem) que Portugal tende a desaparecer, ficando integrado num espaço maior, mais importante e mais de acordo com aquilo que escolhemos fez este ano 30 anos. Ou pensavamos nós que a adesão à Comunidade europeia era só para eles nos sustentarem como em tempos ocorreu com as colónias (sobretudo com o Brasil) sem contrapartidas, sem sacrificios e sem subjugações? Está visto que não! A troco de nos mandarem uns dinheiros para não soçobrarmos vergonhosamente, exigem-nos normas de conduta próprias dos civilizados e comportamentos inteligentes de acordo com os principios consignados nos tratados, que prometemos cumprir, e que sempre que podemos disfarçamos, esperando que eles não dêem por isso.
          De tanto reclamar e contestar o seguidismo observado pelo anterior governo, este agora vai disfarçando nos procedimentos, mais para agradar às esganiçadas parceiras de parlamento do que propriamente por convicção. Mas tão cuidadosamente (manhosamente, diriam alguns) o faz, que até parece que quer uma coisa, mas faz outra. Enfim. É o que temos.
          Não valerá a pena fingir que só fazemos o que queremos (La France c´est la France, pas le Portugal ou la Gréce) pois, se não fizermos o que os tipos nos dizem para fazer, não haverá nada para ninguem. Se quisermos que nos sustentem, então teremos que mostrar que fazemos os esforços necessários para manter o déficit dentro dos parâmetros comunitários. Para isso, há que acertar o passo com os outros, fazendo o que eles fazem e não fazendo o que eles não fazem. Integrados na moeda unica não podemos ter a pretensão de agir como nos dá na real gana (ou seja de acordo com os nossos resultados eleitorais) mas sim de forma a não prejudicar os outros Estados do euro. Por isso, há uns inteligentes que defendem que nunca deveriamos ter entrado no euro para podermos continuar a fazer o que nos dava na real gana. Só que, se não tivessemos entrado no euro, já estariamos a esta hora sem nada e sem ninguem que nos ajudasse. E perguntarei onde estariamos nessa altura? Nos braços dos alemães? dos ingleses? dos paquistaneses? ou dos angolanos e dos brasileiros? Não sei. Se calhar nos braços dos espanhois, que são os unicos que olham para nós, pois estamos colados e eles e podemos pegar-lhes a sarna, se nos deixarem à solta.
          Hoje, são os bancos quem manda. São os bancos que nos dão o dinheiro necessário para vivermos. Emprestando, investindo e ficando com o dinheiro que nos cobram dos créditos que têm sobre nós. E quem dá o dinheiro aos bancos? É o Banco Central Europeu, que manda fazer as notas que nós usamos para comprar aquilo que eles querem que compremos. A soberania é um conceito nacionalista herdado dos tempos em que os governos mandavam antes de existir o euro. Hoje o dinheiro vem de fora, vem da União europeia e dos que nela mandam. Nós valemos 1% da UE, portanto a nossa soberania está limitada a 1% do que era antes. Podemos escolher os nossos governos mas sempre de acordo com as normas vigentes nos tratados europeus, ou seja, desde que façam o que a UE determina. E a UE o que quer é que o euro continue a ser uma moeda de referência. Daí que nos obriguem a mostrar-lhes os nossos orçamentos antes de serem aprovados para verificarem que não fazemos disparates que possam prejudicar a força do euro.
         Por isso é importante que os bancos estejam capitalizados e bem geridos. E se nós não sabemos (ou não queremos) gerir os bancos como eles querem, eles gerem-os por nós. Não quiseram que os Espiritos gerissem o BES à vontade deles, nem o Banif, nem os bancos que já desapareceram, nem a Caixa Geral dos Depósitos na mão dos governos para distribuirem os créditos consoante os interesses partidários, Como Portugal está na Peninsula Ibérica e os espanhois têm bancos importantes, a UE o que quer é que os bancos espanhois tomem conta do tecido financeiro portugues. Por isso, o Santander e a Caixa catalã estão a ficar progressivamente a mandar na banca portuguesa.
         Mandando na banca portuguesa os bancos espanhois mandam em Portugal. Já não precisam, como em 1580, de invadir Portugal com tropas e com canhões. Basta comprarem os bancos portugueses. Para os famintos, bacalhau basta!  Estamos assim num processo de perda progressiva de soberania a favor dos europeus, por interposta Espanha. Por isso digo que a Peninsula Ibérica se está espanholizando.

                        ALBINO  ZEFERINO                                                     30/7/2016
       

terça-feira, 19 de julho de 2016

ZANGAM-SE AS COMADRES DESCOBREM-SE AS VERDADES


          Afinal a geringonça está a pifar mais cedo do que os seus criadores julgavam. Não foi preciso mais do que a ameaça dumas sançõeszitas para pôr a geringonça a fumegar. Aos soluços e envolta em fumo negro, a geringonça ainda mexe, mas agora já sem controle nenhum. Aos zigue-zagues lá vai ela soluçando e dando bufas pela encosta abaixo, de rodas empenadas e gingando perigosamente em cada curva do preclitante percurso até ao fim da vereda, onde uma multidão ululante a espera para acabar definitivamente com ela. Este será, mais cedo do que se previa (Presidente incluido), o destino dum aborto nascido duma relação espúria entre um traidor e um grupo de foras da lei que secretamente fornicavam na mata, enquanto o principe preparava a festa da vitória sobre o malvado dragão que afligiu durante 3 longos anos a populaça indefesa da Portulândia, na peninsula do reino da Fantasia.
          Alegorias à parte, a inesperada crise existencial que o Brexit provocou nos espiritos comunitários bruxelenses e alemães acerca do futuro duma Europa ameaçada por todos os lados (Ingleses, italianos, espanhois - para não falar dos gregos, que já não constituem verdadeiro perigo - refugiados vindos de todo o lado e agora até pelo Deutsche Bank, ameaçado de falência) trouxe aos confundidos espiritos de Junker, Merkel, Schauble e quejandos, a ideia de exigir mais rigor aos abandalhados sócios do sul na prestação das suas contas (ou seja, o que fizeram ao dinheiro que lhes emprestámos para viver?) sob pena de lhes aplicarem sanções, que afinal não são reais. É tudo a fingir. Fingimos que somos independentes, fingimos que somos ricos, fingimos que somos unidos, fingimos que aceitamos as sanções, que afinal não são sanções mas simples trocas de cartas simpáticas com ameaças a fingir. E tudo isto enquanto a malta ladra. Os cães ladram e a caravana passa. Só que os pioneiros que conduzem a caravana que tropegamente vai passando, não contavam com o feroz Rafeiro de Alentejo que, tresmalhando-se da matilha lusitana onde pachorrentemente seguia, começou a mostrar perigosamente os dentes aos condutores da caravana. E vai daí que veio a ameaça de abandono da geringonça em que seguia, se o condutor da matilha lusitana não se desligasse da rota traçada pelos pioneiros da caravana. Não que isso não fosse esperado, mas bolas, ao menos que deixasse passar o primeiro ano de viagem. Malandro, o condutor da geringonça, sem esperança no resultado das suas manhas passadas, há muito descobertas pelos chefes da expedição, já começou os preparativos para a nova escala, que afinal surgirá mais cedo do que o previsto, já na próxima curva do sinuoso caminho empreendido pela geringonça.
          E que preparativos são esses? Intensificação do namoro com as gajas (que semprem trazem 10% de votos para o redil), declarções de amor à Merkel e ao Junker (para continuarem a passar os cheques indispensáveis para calar a malta), aproximação aos jacobinos do Hollande (vem cá para a semana a convite do presidente bem disposto) e distanciamento do Sanchez espanhol (que tem feito a vida negra ao Rajoy, que é quem vai ficar). Internamente, desacreditar Passos e os seus muchachos com a dupla intenção de conquistar votos ao PSD e de o despejar da chefia do partido (na esperança de que os laranjinhas lá ponham o mais flexivel Montenegro) para que finalmente consiga (qual Erdogan turco) ficar com todo o poder absoluto, dispensando os favores do presidente pimpão e metediço. Será que conseguirá? Não creio que os lusos matarruanos, escaldados por anos e anos de esquemas e de aldrabices, lhe dêem a maioria absoluta. Costa, o grande Houdini portugues, continuará a ser PM por mais uns tempos, mas agarradinho ás saias do Marcelo, que, uma vez livre de Passos, ficará a mandar por interposta pessoa no partido onde foi lider e de onde nunca aceitou ter sido despejado. E, assim sendo, no governo.
         O Rafeiro do Alentejo continuará a ladrar rouca e pausadamente na planicie alentejana até que um dia morrerá de exaustão sem que ninguem dê por isso.

                        ALBINO ZEFERINO                                               19/7/2016
         

domingo, 17 de julho de 2016

O QUE PODERIA TER ACONTECIDO


          O que poderia ter acontecido se Erdogan não tivesse retomado o poder na Turquia? Ninguem sabe, mas pode adivinhar-se. Uma feroz guerra civil que se alastraria forçosamente para além das fronteiras da Turquia que, recorde-se, inclui a Siria, o Iraque, o Irão, a Russia, a Grécia e a Bulgária europeias e outros países não menos envolvidos no feroz conflito do Médio-Oriente, bem como o mar Negro, sede da poderosa frota naval russa na Crimeia. Erdogan, de férias nos confins dum país vastissimo (por si só do tamanho da Europa), conseguiu travar a furia castrense dos seus bem armados generais que reclamavam contra a politica centralizadora do seu cada vez mais muçulmano presidente, usando uma improvisada rede informática através da qual mobilizou o povo e os lideres islâmicos que o apoiavam contra o golpe aparentemente vencedor dos generais sediciosos. Obra prima da demagogia politica da qual Erdogan tem mostrado ser mestre, que virou o feitiço contra os feiticeiros e libertou o mundo da ansiedade com que mirava silencioso uma revolução através dos ecrans das televisões em directo.
          Claro que, depois disto, o mundo não voltará a ser o mesmo. As fatais consequencias internas desta sedição (que Erdogan quer que sejam exemplares) vão travar (se não mesmo adiar indefinidamente) as negociações de adesão da Turquia à UE e azedar as não menos complexas relações da Turquia com os EUA, que é como quem diz com a NATO. Se o mundo não estava calmo, esta revolução falhada veio perturbá-lo ainda mais. Mas, apesar de tudo, preservou-se a paz. Graças à forte, corajosa e determinada personalidade do lider turco.
          Com o Brexit em marcha (apesar de ainda não ter arrancado), o agravamento das crises bancárias na Itália e nos países limitrofes do sul da Europa (Portugal à cabeça), os ataques terroristas em França e a contestação às politicas de acolhimento dos refugiados encabeçadas por uma Alemanha que não quer perder o controle da UE, poderá dizer-se que, agora que foi evitado na Turquia o confronto directo entre os que querem uma Europa dos cidadãos e aqueles que pugnam pela a Europa das Nações, ou melhor dito, os que querem a manutenção da UE dos tratados ou os que desejam uma UE à la carte conforme os seus desejos e necessidades do momento, é altura de reflectir sobre como desejamos (ou melhor, como é possivel) dar um rumo a uma Europa mais unida em torno daquilo que a todos convém e menos preocupada com os problemas especificos de cada Estado-membro. É certo que os problemas que cada EM enfrenta são identicos em todos os Estados. A questão é saber como enfrentá-los conjuntamente para evitar contágios inconvenientes. O mercado unico exige jurisdição unica e aceitação das liberdades de circulação. Sem isso não será possivel progredir. Dificil será encontrar o ponto de equilibrio onde se possa circunscrever o livre acesso ao mercado e o livre acesso de pessoas e de capitais, preservando a segurança e a equidade entre os cidadãos europeus independentemente das suas raças e das suas crenças. Na diversidade está a riqueza. Mas sem compreensão, solidariedade e aceitação pacifica das regras comuns não será possivel avançar. Que os deuses das várias religiões que nos protegem nos ajudem nesta encruzilhada do caminho iniciado pelos pais da Europa que tanto prezamos e que tanto fazemos para não esquecer.

             ALBINO ZEFERINO                                                                  17/ 7 / 2016                       17/7/2016

sexta-feira, 15 de julho de 2016

PORTUGAL EM FESTA


          Terminado o Europeu de futebol e as alegrias inerentes, voltamos ao ram-ram do costume com ralhetes da Europa, seja pela falta de confiança que a geringonça suscita quanto ao cumprimento dos limites do défice por parte de Portugal, seja pelo novo emprego do Barroso, que tem comido as papas na cabeça dos jacobinos franceses e portugueses, sobretudo invejosos pelos sucesssos que o luso tem conseguido em tudo onde se mete. Desde Delors que não se falava tanto dum presidente da Comissão, que, verdade seja dita, não deixou marca visisvel, nem no governo portugues nem no governo comunitário, mas que tem conseguido estar nas bocas do mundo desde há décadas.
          A vitória da selecção portuguesa de futebol num torneio onde entrou ao pé-coxinho, cheia de hesitações e de receios, acabando por destronar francos e outros soberbos convencidos da sua invencibilidade natural, trouxe para a ribalta um país e um povo pequenos, em território e em espirito, mas ricos em vontade e em determinação (eu diria mais em teimosia) capaz de dar surpresas a muitos dos que já nos consideravam um país passadista e sem futuro. Mas qual futuro? No futebol, os nossos grandes jogam na Europa, as nossas praias e hoteis são para os estrangeiros e as nossas boas coisas são para a exportação. O que temos nós então de bom que suscita tanto interesse? Eu diria que é o sol, que escolheu Portugal para dar a luminosidade que falta noutros sitios e a temperança que se reflecte no carácter dos portugueses e que impede, como acontece noutros lugares tambem aprazíveis, a proliferação do terrrorismo, expressão violenta da guerra que se vive fora da Europa. Invejosos pela segurança que se sente em Portugal e ansiosos pelo sol que banha as nossas praias e os nossos monumentos que relectem uma rica história de êxitos passados, os estrangeiros fixam-se por cá na esperança de poderem encontrar a boa-vida que lhes falta nas suas tristes terras.
          A expressão visivel e politica desta realidade é o constante vai-vem televisivo do PR e do PM, parecendo disputar entre eles um confronto amigável de popularidade, quais Dupond e Dupond, que parecendo um, eram na realidade dois. Eles são feiras, almoços, deslocações em falcon a Paris ou onde seja preciso para aparecerem agarrados aos Ronaldos, Nanis e Pepes (todos jogadores em equipas estrangeiras que os emprestaram à selecção para parecer que era boa), Conselhos de Estado para falar de futebol e declarações televisivas inócuas sobre problemas graves que a geringonça provocou e de cujas consequencias a UE nos tem vindo a prevenir com insistencia. Agora tambem já os amigos socialistas franceses Hollande e Moscovicy nos começam a prevenir da calamidade que os facilitismos do Costa proporcionaram (apoiado pelo presidente Marcelo enquanto for possivel) forçado pelos espúrios acordos de regime à esquerda que forçosamente (será uma questão de tempo) nos cairão abruptamente em cima, comprometendo a recuperação duma Europa enfraquecida pelo Brexit e mal preparada para o negociar.
          Dirão os mais optimistas que é da nossa natureza festejarmos as nossas alegrias e deitar para detrás das costas as nossas tristezas. Mas direi eu (e outros tambem) que sem uma forte consciencialização da preclitante situação politico-economica em que nos encontramos, enredados em escandalos financeiros sem cessar, gastando mais do que podemos e nada fazendo para alterar esta situação, estaremos condenados, a prazo (cada vez mais curto), a cair de novo no ciclo vicioso dos resgates e das suas penosas consequencias. Há que alterar as regras de convivencia que nos regem no sentido de as adaptar à realidade de hoje e não prosseguir bacocamente no caminho desenhado há 50 anos, que já morreu e que grande parte de nós ainda não se deu conta ou não quer aceitar a evidência.

                 ALBINO ZEFERINO                                                          15/7/2016