sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

O RECURSO INDISCRIMINADO E CONSTANTE AO VOTO POPULAR PARA ESCONDER A INCOMPETÊNCIA GOVERNATIVA


          Neste conturbado final de ano que se aproxima o que de mais relevante me parece ter ficado é a incompetência generalizada da maioria dos governos dos países organizados resultante do recurso indiscriminado e constante ao voto popular para esconder essa mesma incompetência. Vários exemplos podem ser apontados para consubstanciar a constatação deste facto: desde o famoso Trump, à contestada May, passando pelo pequeno Puigmont e pelo seu sócio de estimação Rajoy, pelo brasileiro Temer ou pelo venezuelano Maduro, até ao frances Macron ou à alemã Merkel ou ao italiano que ninguem conhece e que graças a novas eleições ontem marcadas para Maio será provavemente substituido pelo palhaço Beppe Grillo, vários são os exemplos que nos vêm imediatamente ao espirito.
          Será que a democracia que todos perseguimos de forma mecanica e com esperança redentora está esgotada como o meio representativo mais justo e mais eficaz para a governação dos Estados e das pessoas? Não sei. Vejamos então. Assentando nos partidos politicos a organização democratica dos Estados, são os seus respectivos chefes aqueles que se apresentam como candidatos ao escrutinio popular de cada vez que eles próprios resolvem convocar eleições para se legitimarem ou para tentarem substituir os seus adversários no exercicio do poder. Ou seja, sem quaisquer provas dadas ou competências comprovadas, qualquer alma ambiciosa se prontifica a mandar nos outros desde que a maioria daqueles que resolvem ir votar os eleja para isso. E muitas vezes até lá chegam por caminhos ínvios que nada tiveram que ver com a maioria dos votos recolhidos. É o caso dos governos de coligação, cada vez mais frequentes dada a dispersão dos votos dos eleitores cada vez mais confusos com as opções politicas que lhes são apresentadas e mais manobráveis pela malandrice dos que querem ser eleitos sem olhar a meios nem a escrupulos morais.
          Não será esta fórmula uma forma pouco sólida para escolher afinal aquele ou aqueles dos quais vai depender a nossa vida por um tempo? Que meios tem o vulgar cidadão para contestar ou vigiar aquele que elegeu (ou que foi eleito pelos seus adversários) na respectiva acção governativa, que implica decisivamente na sua vida e no seu futuro? A Assembleia da Republica? Como? Através da acção parlamentar dos deputados em quem votou? Deixem-me rir. Será então atraves do Provedor de Justiça? Com que meios? Com que garantias de isenção? Será através da justiça? Da Procuradoria? Dos tribunais e dos seus juizecos? Deixem-me rir outra vez. Será então atraves do recurso à justiça privada? Ao crime organizado? Ao terrrorismo mesmo? Talvez mesmo à insurreição ou à revolta. Porque não? Se os governos forem considerados ilegitimos porque não derrubá-los tambem ilegitimamente? Não foi assim com Aljubarrota em 1385? Não foi assim em 1640 com a expulsão dos espanhois? Não foi assim nas guerras liberais em 1820? Não foi assim em 1910? E em 1926? E em 1974? Não creio porem que seja este o caminho.
          Nos dias de hoje onde tudo se vê e se sabe em segundos e onde o nacionalismo já não se confunde com patriotismo, a escolha dos que nos orientarão terá que ser feita por meios mais cientificos e menos ideológicos do que até agora. A ideologia hoje é menos lirica (no sentido filosófico do termo) e mais concreta (no sentido materialista do termo). Hoje defende-se o bem-estar, o nivel social e económico e as boas relações e menos o emprego, o salário e o estatuto social. Todos têm o minimo para viver, comer, estudar e tratar-se. Até para divertir-se. O que nem todos têm é dinheiro para gastar à vontade, com caprichos e com luxos. Por isso os Ronaldos e os Mourinhos são hoje os adulados. Já não S.Francisco de Assis ou o Padre Américo. A democracia está tambem a mudar. Sob a aparência duma escolha séria, ponderada e esclarecida, as eleições servem hoje para escolher os mais bonitos, os mais bem sucedidos e os melhores actores. Depois quem manda são sempre os mesmos. Os realizadores do filme. Os produtores da realização. E os próprios actores do espectáculo.
          Assim vai o mundo e assim vamos entrando no sec. 21 mais profundamente. Bom Ano Novo.

                                ALBINO  ZEFERINO                                                29/12/2017
         

sábado, 2 de dezembro de 2017

AS INCONGRUÊNCIAS GOVERNATIVAS DA GERINGONÇA OU O APROVEITAMENTO CINICO DA ILETRACIA LUSITANA


          Enquanto canta loas à possibilidade (eu diria a quase certeza) da nomeação de Centeno para lider do eurogrupo, Costa reune-se com o grego Tsirpas (que nem socialista é) para "afinarem estratégias para o próximo Conselho europeu". Se não fosse tão trágico até daria para rir.  Como quer esta alma ser levada a sério se todos os seus actos politicos estão imbuídos dum cinismo doentio que obnibula os seus crédulos compatriotas e ao mesmo tempo disfarça a sua verdadeira crença numa Europa unida donde poderá retirar os louros que o eternizem no poder.

          Ao contrário do seu antecessor, Costa finge. Para a direita, finge que é defensor do mercado livre e da iniciativa privada, a fim de não perder alguns apoios dos crédulos europeistas; para a esquerda, arvora-se em arauto do socialismo democrático (todos têm direito a tudo) para que os votos parlamentares da esquerda unida o conservem no poder (seu único e exclusivo designio).  Passos, pelo contrário, não mentia (lembram-se do seu extraordinario desabafo: "que se lixem as eleições"?).  Para Passos Coelho governar significava progredir, desenvolver, cultivar as terras e os espiritos, aumentar o produto para melhor o investir.  Para Costa não.  Para a geringonça o que é preciso é tirar aos ricos e poderosos para distribuir pelos mendigos e vagabundos (os que não trabalham nem querem trabalhar). Assim não se progride.  Numa melhor conjuntura económica talvez seja possivel melhorar os rácios, diminuir as más avaliações e até recuperar algum dinheiro perdido. Mas isso são os pressupostos. O que interessa é o que se faz ao dinheiro disponivel. Se o gastamos mal (em subsidios não verificáveis, em empréstimos bonificados para os amigos e para os amigos destes, em salários desproporcionados em função dos resultados do trabalho correspondente, em obras de fachada, na manutenção de serviços publicos inuteis ou sobrepostos, em negociações desastrosas com os sindicatos da esquerda etc.etc.) então não teria valido a pena amealhá-lo (ou melhor roubá-lo ou pedi-lo emprestado). Mais valia tê-lo deixado ficar onde estava, que assim beneficiaria uns (aqueles que foram esbulhados e assim não o teriam sido) e libertava todos de mais cangas financeiras (não aumentaria a divida publica portuguesa nem os juros dessa divida).

          Não nos iludamos com fantasias amalandradas. Centeno vai (irá?) substituir Djasselborn porque, primeiro é socialista (convém que o porta-voz do eurogrupo seja oficialmente de esquerda para não dar a impressão que as medidas restritivas aprovadas pelos ministros das Finanças do eurogrupo fiquem associadas a manobras da direita liberal e conservadora) e depois porque fala e escreve impecavelmente o ingles (idioma cada vez mais europeizado). Depois (há que reconhecê-lo) Centeno é trabalhador e competente, de formação intelectual yankee e portanto livre dos virus esquerdizantes que tomaram de assalto as universidades europeias. Quanto ao mais, nada. Qualquer simples observador desta politica da farsa ensaiada em Portugal por um malandro acanecado que tem efectivamente mostrado algum jogo de cintura e produzido alguns resultados palpáveis (mas mal aproveitados como foi dito atrás) deve-se essencialmente às cativações orçamentais (truque aparentemente milagroso, que consiste em não abrir mão das verbas orçamentadas para investimento publico) que produzem o mesmo resultado financeiro que os cortes (tão criticados e vilipendiados) de Passos Coelho impostos pela troika: abaixamento do défice publico e saneamento das contas publicas (menos despesas e mais receitas).

          Poderá dizer-se, apesar de tudo o que foi dito, que Costa é um homem de sorte. O que aparece aos olhos superficiais dos que nos lêem e escutam, é um país progressivo, livre de cargas excessivas, modernizado, em suma, na moda, onde os turistas aumentam de dia para dia na busca de sol retemperador e de segurança cidadã. Enquanto que o esforçado Passos lutava diariamente com as incompreensões dos que não aceitavam (e foram muitos) o remédio que nos foi receitado para melhorarmos da doença sócretina (ainda não acusaram o homem, mesmo depois da acusação laboriosamente arrancada pelos valentes acusadores), Costa vem usufruindo dessa receita, tendo-lhe juntado outra (não menos eficaz) proveniente da cabeça privilegiada do homem por ele inventado: Centeno, o cativador. Centeno terá contudo muito que penar e muitas explicações que dar. Como vai ele evitar que Jerónimo e Catarina se atirem a ele quando o virem, na televisão a partir de Bruxelas, defender medidas de rigor financeiro aplicáveis aos países do euro (onde felizmente tambem está Portugal) depois de terem negociado com Costa mais um aumento de despesa publica injustificado e perdulário para Portugal?

                      ALBINO  ZEFERINO                                                                    2/1272017