domingo, 31 de julho de 2011

DIPLOMACIA ECONÓMICA

   Fala-se muito hoje de diplomacia económica como uma actividade essencial do Estado para promover a entrada de capitais estrangeiros no país. Num momento de aperto financeiro, parece lógico à primeira vista que o governo invista neste sector. Porém a coisa não tem a simplicidade que aparenta. O dinheiro estrangeiro pode entrar em Portugal de diversas maneiras: através da exportação de bens ou serviços prestados por portugueses a estrangeiros; através da venda de activos portugueses a estrangeiros; através de investimentos directos estrangeiros em Portugal, através de remessas de dinheiro enviadas para Portugal por portugueses vivendo no estrangeiro ou por estrangeiros que pretendam aforrar aqui ou simplesmente visitar-nos e finalmente através de emprestimos contraídos por portugueses (Estado incluido) no estrangeiro. Qualquer destas formas de entrada de capitais em Portugal é independente da vontade do governo. Então para quê gastar dinheiro e esforços para promover uma coisa que depende exclusivamente da vontade de quem a pratica? E porque razão os donos do dinheiro irão aplicar o seu dinheiro em Portugal? Se as condições financeiras oferecidas por Portugal forem compensadoras (taxas de juro mais altas, impostos mais baixos, burocracias mais leves, retornos mais facilitados, condições de investimento mais tentadoras, níveis de corrupção menos pesados, etc. etc.) então o afluxo de dinheiro para Portugal aumentará independentemente do maior ou menor esforço que as autoridades portuguesas façam a nível promocional. A coisa está nas politicas que o país prossegue ou empreende. Convenhamos que será mais relevante para quem pondere o envio de dinheiro para Portugal (seja a que título fôr) as condições objectivas que o governo e o país em geral oferecem ao investidor do que quaisquer campanhas promocionais que o governo desenvolva por muito bem articulada que esteja a estratégia.
            Vejamos então o que eu queria dizer mais em detalhe. No caso dos exportadores, a quantidade de bens transacionáveis exportáveis está directamente relacionada com a capacidade de produção do exportador, com a qualidade dos bens exportáveis e com a capacidade de penetração do exportador no mercado internacional. Nada disto depende directamente do Estado portugues no que concerne ao acto de exportar, a não ser a criação de condições para uma melhor produção em qualidade e em quantidade dos bens a exportar. Quanto aos activos vendáveis ao exterior, aqui também o papel do Estado se confina à criação de condições para que o eventual vendedor venda os seus bens nas melhores condições de mercado. Nada a ver com o acto de vender. No que respeita à remessa de dinheiro para Portugal, é óbvio que se as condições de recepção não forem melhores do que as oferecidas por outros países ninguem transfere para cá nada. Compete assim ao Estado criar e desenvolver essas condições. O acto de transferir dependerá da avaliação que o remetente fará dessas condições. O mesmo se aplica ao chamado turismo estrangeiro. No que toca à concessão de empréstimos por parte de estrangeiros (seja ao Estado, seja a privados) são as agencias de rating quem mais ordena. Disso já todos temos consciencia.
            O que faz então o governo para promover a entrada de capitais estrangeiros no país? Em vez de reformar activamente as estruturas do Estado que impedem a entrada de capitais regularmente em Portugal, reslolve criar uma comissão de avaliação para o incremento do desenvolvimento sustentado da diplomacia económica, entregando a tarefa a tres antigos ministros: um das Finanças, outro da Economia e outro dos Negócios Estrangeiros. O que estes senhores vão fazer é produzir um extenso e bem elaborado relatório propondo uma reestruturação do AICEP (entidade já existente que se dedica à busca de mercados consoante detecta mais ou menos interesse dos exportadores, usando uns supostos técnicos especialistas contratados a olho e um orçamento invejável quando comparado com o dos Negócios Estrangeiros).
            Em meu entender, a coisa resolvia-se mais depressa e melhor, se houvesse o que hoje se denomina vontade política (ou seja, tomates). Em primeiro lugar, incorporava o AICEP (sem o A que nunca serviu para nada, a não ser para dar mais salário ao Basílio) no MNE como instituto autónomo (ao mesmo nível do Camões e do IPAD), libertando-o da enorme carga administrativa que os vários presidentes lhe foram sucessivamente introduzindo (ou seja, reduzindo o pessoal e a respectiva despesa para metade) e fundia-o com a DGATE (direcção-geral inutil criada por um anterior ministro de má memória, que além de incompetente era megalómano). Depois era deixar que o MNE orientasse o assunto, utilizando os melhores delegados (que os há) integrados nas Embaixadas e articulando as suas acções debaixo de uma orientação comum. Quanto ao pessoal excedentário (que tambem o há e não é pouco, despedia-o).
            Eu faria assim. Como será que os sábios o farão?

                                                    ALBINO ZEFERINO  (correspondente diplomático em transição)  31/7/2011

sábado, 30 de julho de 2011

O LEILÃO

   Desde que os homens da leiloeira chegaram à casa da velha senhora que esta andava num desassossego enorme. Não conseguia dormir descansada, só pensava em tragédias e receava pelo seu futuro. O sobrinho jogador bem tentava acalmá-la dizendo-lhe que algo ficaria para eles depois das vendas das coisas leiloadas e que tinha grandes planos para investir o que lhes tocasse, mas a velha não se calava, recriminando o pobre rapaz pelo estado depauperado a que a familia chegara. De facto, se não tivesse sido o carácter dissipador do rapaz, que gastava o que a tia tinha e o que não tinha, não teriam chegado áquela deseperada situação. O jogo, as mulheres e os maus negócios tinham sido os grandes causadores da derrocada da familia. A própria senhora não se apercebera a tempo da escalada vertiginosa a que a natureza perdulária do sobrinho os tinha conduzido. Agora já era tarde. Desde há um mes que os homens da leiloeira tinham desembarcado na casa onde a familia vivia há tres gerações, para fazerem o inventário dos bens da velha senhora para serem leiloados, a fim de poder pagar aos credores as enormes dívidas que o sobrinho contraira com o aval da tia. Nunca a pobre senhora, na sua ingénua bondade, se apercebera de que umas simples assinaturas nuns papeis do banco que o sobrinho descontraidamente lhe ia regularmente apresentando invocando razões burocráticas, tivessem aquele desgraçado resultado. De um dia para o outro (até parecia um sonho para a velha senhora) a normalidade do dia a dia com as criadas, o jardineiro, o motorista, a cozinheira e até o rapazito dos recados, desaparecera como por milagre. Havia dias em que a velha senhora até perdia o apetite, ela nem sabia se por falta do que comer, se por puro fastio. O próprio sobrinho, antes tão gentil e educado, parecia outra pessoa. Não lhe respondia às suas aflitivas perguntas, falava-lhe por vezes em tom ríspido como se a culpa de tudo aquilo tivesse sido dela e nunca mais lhe fizera aquela agradável companhia ao serão, sobretudo nos dias em que lhe trazia papeis do banco para assinar. As amigas, que antes lhe telefonavam todos os dias, transmitindo-lhe a sensação de que tudo se passava á volta dela, deixaram de repente de a procurar. A senhora estava desesperada e até chegara a pensar que seria bom se Deus a levasse, poupando-a a estes sacrificios e áqueles que ainda haviam de vir.
           Chegou por fim o dia do leilão. A casa encheu-se de gente desconhecida, a maioria mal vestida e grosseira, afivelando caras patibulares, sem lhe ligarem nenhuma e ignorando a sua presença. O leiloeiro começou a licitação sem pedir sequer licença à senhora que, indignada, se sentou numa cadeira como se de mais uma cliente se tratasse. A licitação seguia monótona e á tarde, já a maioria das coisas tinha sido vendida. Os preços não tinham ultrapassado percentagens ridiculas do valor que a velha senhora supunha valerem as peças de familia, no meio das quais ela se habituara a viver toda a sua vida. O sobrinho, pretextando compromissos inadiáveis, nem comparecera ao leilão. No fim da sessão o leiloeiro despede-se cerimoniosamente da senhora, agradecendo e abandona a casa, deixando a velha senhora no meio dos tarecos que já não eram seus. Passeando melancolicamente entre cadeiras, mesas, aparadores, camas, tapetes, quadros, bibelots de familia, sofás e materiais de cozinha, a velha senhora parava, afagando já com saudade, alguns dos objectos vendidos. Até que, de repente, o céu de lua cheia escurece e uma enorme e pesada chuvada desaba sobre a cidade, como se estivesse em África. A velha senhora assusta-se com a violencia do temporal, pensando porem que deveria ser coisa de pouca dura, tal era a força com que a chuva caía. Contudo, em vez de sossegar, o temporal não amainava, agora acompanhado de raios e trovões ameaçadores. A velha senhora não sabe o que fazer, quase entrando em estado de pânico. Nisto, a terra começa a tremer, primeiro devagarinho, mas depois com violencia, fazendo abanar chão e paredes. O terramoto não pára até que a casa começa a desabar, primeiro uma parede, depois outra, mas logo a seguir toda a estrutura da casa desaba sobre si mesma, engolindo tudo o que se encontrava lá dentro. Antes de perder o conhecimento, a velha senhora ainda tem tempo de gritar: meu Deus, tende piedade de nós.
            No dia do enterro da velha senhora poucas pessoas compareceram. A maioria eram desconhecidos, talvez credores. Do sobrinho, nem sombra, dizem que fugira para o estrangeiro. Na pedra tumular, sobre a campa rasa, a Assembleia de Freguesia mandara gravar: " Aqui jaz Portugal, ilustre Senhora deste mundo-cão". 
 
                                                                       ALBINO ZEFERINO     30/7/2011

quinta-feira, 28 de julho de 2011

O PAÍS DOS BRANDOS COSTUMES

Neste país de brandos costumes as coisas não acontecem. Vão acontecendo. E por vezes quando parece que vão acontecer, afinal não acontecem. Borregam, como se diz na hípica. Vem isto a propósito do famigerado plano de salvamento que a «troika» nos impingiu como condição para nos continuar a emprestar o dinheiro de que precisamos para viver (ou seja, para comer e dar de comer aos nossos, pagar as nossas obrigações pecuniárias e receber os nossos salários ou ajudas do Estado).
             Passado mais de um mês desde que assumiu funções (cheio de genica), o novo governo pouco ou nada fez. Dizem os conformistas: "Estão a estudar os dossiers". Mas afinal não está tudo bem explicadinho no plano da «troika»? Para o que será preciso mais estudo? O essencial que os nossos credores querem é que deixemos de gastar à tripa forra o dinheiro deles. E como já demonstrámos não ser capazes de travar esta espiral dissipadora, fizeram-nos um "road map" para nos orientar neste dificil percurso que temos que palmilhar até à redenção.
             Conscientes de que os tugas (não sendo tão vígaros como os gregos) são porém mais malandros e dissimulados, os nossos troikanos já regressaram a Portugal para a elaboração do primeiro relatório sobre o nível do nosso empenhamento no cumprimento das suas directivas. Se até que se vão embora de novo (parece que ficarão por cá durante o maldito mês das férias no Algarve) não conseguirmos convencê-los de que algo de novo aconteceu nas terras de Portugal, tempos dificeis nos esperarão lá para o outono.
             Enquanto persistirmos em conversas, negociações, pareceres, comissões e grupos de reflexão, não chegaremos a nenhum lugar. O indispensável é cortar na despesa do Estado, suprimindo os funcionários a mais. Ou seja, despedindo pessoas bem e depressa. É aqui que 75% da despesa do Estado se consome. Tudo o resto são lérias. Não contemos pois com o apoio dos sindicatos para isso, pois eles existem precisamente para se oporem aos despedimentos. Enquanto continuarmos como bons meninos a procurar agradar a gregos e troianos não chegaremos a lugar nenhum. O tempo não está para as branduras costumeiras deste povo cobarde e calaceiro. Chegou o momento de cortar a direito. Se não o fizermos, outros virão fazê-lo por nós. Não nos iludamos. Será a nossa última oportunidade.
 
                                               ALBINO ZEFERINO   28/7/2011

segunda-feira, 25 de julho de 2011

AFINAL A SRA. MERKEL NÃO É ASSIM TÃO BERA

Com a extensão do prazo de pagamento das dividas e o abaixamento dos respectivos juros, aliados à aprovação de mais um mega-empréstimo à Grécia, os líderes europeus afastaram por um tempo o espectro do desmembramento da zona euro. Estava em causa o arrastamento da Espanha e da Itália para o clube dos incumpridores, o que só por si iria determinar o desmembramento do euro e pôr em perigo iminente o prosseguimento do projecto integrador europeu. Muitos alemães desejam o regresso ao marco, cansados de arcar com as consequencias dos dislates governativos de certos países aliados, por força da existência duma moeda comum. Mas a chanceler Merkel (contra a expectativa de muitos arautos da desgraça) resolveu dar mais uma oportunidade aos prevaricadores.
            Não se pense contudo que o problema ficou resolvido. Ao ter proporcionado um balão de oxigénio ao aliado mais problemático evitando-lhe uma morte certa a curto prazo e dando condições aos outros parceiros mais débeis (um dos quais Portugal) para recuperarem dos seus males com menos esforço, Merkel apenas olhava para a prossecução do projecto comum europeu no qual a Alemanha está empenhada e onde tem responsabilidades cada vez mais acrescidas à medida que a integração prossegue. Numa economia cada vez mais globalizada, sem Europa, a Alemanha definhará e com ela os outros parceiros comunitários. 
            Daqui resulta, a meu ver, uma consequencia não pouco dispicienda. Por muito mal que Grécia, Portugal e quejandos se comportem, tudo indica que Alemanha, França e outros seus seguidores não os deixarão cair. O risco está porém no aproveitamento desta presunção por parte de certos sectores mais radicais das respectivas sociedades, que mais descaradamente se oporão (através de greves e outras manifestações de natureza social e corporativa) às necessárias reformas que os seus governos estão empreendendo no cumprimento dos planos de salvamento impostos aos países objecto de ajuda financeira internacional (como nós).
            A ser assim (e confesso que não vejo como possa ser de outra maneira) não restará outra solução aos líderes europeus do que impôr aos países prevaricadores (eventualmente através a criação de um governo económico e financeiro europeu) regras de conduta exigentes e obrigatórias. E como se fará essa imposição? Pois naturalmente de uma forma coerciva se tal se revelar necessário. Para isso será indispensável criar uma estrutura judicial e policial integrada que se consiga impôr às soberanias nacionais. E assim, através de pequenos passos se vai construindo a Europa do século XXI, conforme vaticinaram Monet, Schumann, Schmidt e Miterrand, entre outros grandes. Merkel e os outros membros do Conselho europeu só estão a concretizar esse vaticínio. Cabe-nos ajudá-los, cumprindo zelosamente as condições para o progresso europeu que nos foram ou venham a ser impostas.
 
                                                       ALBINO ZEFERINO    24/7/2011

quarta-feira, 20 de julho de 2011

COMEÇOU A GUERRA

  Ao cabo de mais de um mês de reflexão, o governo começou finalmente a mexer-se. Foram anunciadas medidas conducentes à execução do programa da troika que já suscitaram reacções por parte dos sindicatos. Foi o sinal. Até agora o novo governo apenas se entreteve com medidas ridiculas para a galeria, parecendo querer evitar pôr-se à frente do touro, quiçá com medo de o enraivecer. Finalmente, num assomo de insuspeitada coragem (ou teria sido mera resignação, conformada com a classificação da Moody´s?) o governo lá lançou a primeira medida séria para conter a despesa: Redução das garantias laborais em caso de despedimento. E ainda só estamos na fase da conversa. Com o rastilho comprido por dezenas de anos de regabofe, nem imagino como os Carvalhos da Silva desta terra reagirão quando começarem as vagas de despedimentos que necessariamente se terão que fazer antes e depois das privatizações já anunciadas. É que sem ovos não se podem fazer omoletes. Pois se o nosso mal é termos muitas despesas inuteis e se a maioria dessas despesas provêm de ordenados pagos a gente dispensável, não vejo outro modo de reduzir essas despesas senão dispensando (ou menos prosaicamente, despedindo) essas pessoas que nunca deveriam ter sido contratadas. O papel do Estado não é o de sustentar as pessoas arranjando-lhes trabalho onde não são necessárias, como defende o partido comunista, mas pelo contrário, aliviar o Estado das pessoas que nele foram penduradas precisamente pelos comunistas e seus capangas, quando por cá mandavam. E quando começar verdadeiramente a reforma do Estado, dando forma à redução do numero de Ministérios, concentrando funções, suprimindo as redundancias funcionais e os organismos inuteis e reduzindo necessariamente o pessoal excedentário resultante dessas reformas? E sempre se vai reduzir o numero de municipios, de freguesias e de empresas municipais como o memo prevê, apesar do Ruas?  Há que preparar as pessoas de espíritos mais simples para tudo isto antes que os Carvalhos da Silva desta terra os incendeiem. É sempre mais fácil prevenir um fogo (que uma vez ateado pode ser facilmente circunscrito e depois apagado sem dramatismos) do que reagir às chamas quando já estiverem alterosas e poderem até queimar os bombeiros. Boa sorte é o que eu desejo.
 
                                                ALBINO ZEFERINO  20/7/2011

domingo, 17 de julho de 2011

PORQUE FOMOS DESCLASSIFICADOS PELA MOODY´S?

Quando uma agencia de notação internacional com as responsabilidades da Moody´s abre uma polémica como aquela que provocou com a recente desclassificação de Portugal nos seus rankings de confiança, algo vai mal no reino da Dinamarca. Dir-se-á que a nossa indignação foi acompanhada pelos grandes do nosso império, o que prova aos nossos olhos a injustiça de tal atitude. Não nos iludamos. Estamos no meio duma guerra sem piedade da qual não conhecemos nem a estratégia nem as tácticas. Somos uma tropa auxiliar, colocada num dos extremos do teatro de guerra, que não se consegue aguentar no balanço com os bombardeamentos do inimigo. No que nos diz respeito, a questão é a de saber se será mais útil para o desfecho da contenda continuarmos na luta (mesmo sem lhe aportarmos qualquer mais-valia) ou se começamos a ser considerados dispensáveis. Um pouco como aconteceu na 1ª Guerra mundial. Se a Comissão e até o governo alemão se pronunciaram agora a nosso favor foi porque ainda não era a hora de nos darem o pontapé no cu que estamos a pedir.
            Passado mais de um mês da posse do governo maravilha, vejamos então quais têm sido os progressos que já atingimos no cumprimento dos encargos que nos impuseram:
1. Levantamento de todas as despesas fiscais, imposto por imposto e respectiva estimativa de custos para 2011: Está-se ainda na fase da descoberta dos buracos deixados pelo anterior governo. Conforme eu dizia em 7 de Junho passado, nunca até hoje foi possivel determinar com rigor o volume das despesas do Estado.
2. Redução da taxa social única: Estamos ainda à procura da taxa mais conveniente, das empresas que irão beneficiar do abaixamento dessa taxa e sobretudo de qual a compensação orçamental a introduzir para a sua redução.
3. Venda do BPN: Ouvi dizer que há interessados. Quem serão? Já foi tapado o buraco dos 2 mil milhões de euros que a desgraçada nacionalização feita pelo Teixeira dos Santos provocou?
4. Avaliação dos planos de redução dos custos operacionais e estrutura de tarifas no sector empresarial do Estado: Não tenho notícias de que a atitude negativa das empresas visadas tenha sido alterada desde o governo anterior. Pelo contrário, só oiço é falar nos próximos aumentos das facturas do gás, da electricidade e da água. Talvez a anunciada saída do Estado do capital destas empresas permita uma redução das tarifas...
5. Apresentação no Parlamento de proposta de legislação para mudar as regras das indemnizações por despedimento: Os sindicatos têm estado calados, o governo mudo e o Parlamento já anunciou que em Agosto vai de férias.
6. Eliminação das golden shares: O anterior governo deixou tudo pronto e este governo já anunciou a medida. Falta agora o Estado vender as acções. Quando será? Antes ou depois das anunciadas privatizações?
7. Publicação do documento de estratégia orçamental para as Administrações Públicas: Ainda não estão sequer definidas as grandes linhas dessa estratégia, nem a dimensão que este governo prevê para as Administrações Publicas. O que se sabe é que a Associação dos municipios portugueses se opõe energicamente a qualquer concentração ou redução do numero de câmaras municipais.
8. Avaliação das 20 maiores PPP: Não se ouviu nunca mais falar do grupo de trabalho criado pelo governo anterior para o efeito.
9. Aumento das taxas moderadoras do SMS: Tambem aqui o novo governo tem estado mudo.
            Como se vê, a determinação governamental no cumprimento das obrigações vitais estabelecidas com a troika mostra sinais de algum desfalecimento, o que se reflectiu no primeiro murro no estomago sofrido pelo nosso PM. Queira Deus que o homem se aguente nas canetas nos próximos rounds senão vamos todos perder o combate por KO.
 
                                                 ALBINO ZEFERINO  16/7/2011

quarta-feira, 13 de julho de 2011

SERÁ QUE PORTUGAL CHEGOU AO LIMITE?

Estaremos a chegar ao fim?  Dependerá do que consideremos o fim. Se por fim se entender o fim do país como sociedade organizada, independente e criadora de riqueza e bem-estar para os seus cidadãos, não creio. Com mais de 800 anos de existência, Portugal já passou por grandes crises das quais saiu melhor ou pior sem que nunca tenhamos perdido a nossa identidade como país e como povo. Nem sequer durante os 60 anos de domínio espanhol durante os quais nunca perdemos a nossa identidade própria. Foi de resto por isso que em 1 de dezembro de 1640 recuperámos a nossa independencia política e a mantivemos incólume desde então.  Se porém entendermos o fim à luz do regime que actualmente vigora em Portugal, então já não estarei tão certo de que não tenhamos atingido o nosso limite.
            A recente descoberta de mais um enorme buraco orçamental escondido pelo anterior governo na amálgama de interesses confusos e desordenados como pode ser classificada a anterior gestão governativa, veio levantar de novo a questão, que muitos já se põem, da sobrevivência do país dentro das apertadas regras em que actualmente se move. Se a indispensável ajuda financeira internacional está dependente do cumprimento rigoroso das regras de conduta traçadas no memorando da «troika», o aparecimento imprevisto de mais um substancial deslize orçamental vai concerteza alterar os pressupostos nos quais assentou a elaboração do memorando e assim comprometer as metas traçadas para a nossa salvação. Foi a meu ver isto mesmo que determinou a recente classificação negativa que a agência de notação «Moody´s» atribuiu a Portugal. 
            A questão da sobrevivência de Portugal como Estado organizado, membro da União europeia e da eurozona, dependerá da capacidade que consigamos demonstrar aos nossos parceiros e ao Mundo em continuarmos a viver em democracia, dentro de regras de convivencia assentes na liberdade e na igualdade de oportunidades, no cumprimento dos direitos humanos e sociais, sem subterfugios iníquos e falsas verdades, sem esquemas ardilosos e manhas interesseiras. Enquanto suscitarmos nos outros a desconfiança nas nossas capacidades não pensemos em levantar cabeça. Quanto mais tempo demorarmos e menos determinação demonstrarmos em cumprir as regras que, por incapacidade nossa (não nos esqueçamos disto), nos foram impostas, mais próximo estaremos dos nossos limites como Estado auto-determinado. A ajuda externa só existirá enquanto a permanência de Portugal no clube europeu fôr útil aos europeus. Por essa razão é que nunca haverá apoio sem contrapartidas. Não estejamos à espera de soluções milagrosas, definitivas e duradouras que não dependam de nós, do nosso esforço e do nosso engenho. Não são os europeus que não manifestam vontade suficiente para nos ajudar . Somos nós que não nos ajudamos a nós próprios.
 
                                                     ALBINO ZEFERINO  13/7/2011  

sexta-feira, 8 de julho de 2011

A NOVA INTEGRAÇÃO EUROPEIA

O soez ataque norte-americano ao euro esta semana consubstanciado na surpreendente classificação de Portugal no ranking da Moody´s funcionou como um toque a rebate no exercito europeu que de imediato reagiu em bloco á vil afronta como se estivesse organizado. Ao contrário do que muitos temeram, o ataque não se dirigiu especificamente a Portugal, nem constituiu sequer uma ameaça ou premonição relativamente á capacidade do novo governo portugues conseguir fazer cumprir o memo da troika. Tomando como assente a falência da Grécia, a agencia de rating aproveitou a situação de impasse em Portugal (de facto nenhuma medida reestruturante ainda foi concretizada) para extrapolar a situação grega para o país seguinte, na esperança que o reflexo sistémico chegasse a Espanha, essa sim, determinante para o futuro do euro.
          A reacção europeia (BCE, Comissão, Alemanha e até as declarações a respeito feitas pela nova directora do FMI) foram unanimes quanto ao despropósito da desclassificação norte-americana de Portugal. Não que a Moody´s não possa vir a ter razão, mas por agora não havia justificação para tal ataque. O recuo da congénere Standard & Poor"s, que se preparava para seguir nas pisadas da Moody¨s, é sintomático quanto ao reconhecimento da precipitação. Não se pense porém que este desassossego teve alguma coisa que ver com o cuidado que os tugas pensam que os estranjas estão dedicando a Portugal. Nada disso. O cuidado deles é com a estabilidade do euro. Imaginemo-nos a defender um flanco numa batalha. Perante um ataque inimigo capaz de penetrar através do flanco defendido por nós no coração do Estado maior das forças a que pertencemos, o socorro que tropas aliadas nos prestam não tem nada que ver conosco mas com a preocupação que a nossa debilidade possa causar ao sucesso da batalha. Não deveremos pois embandeirar em arco, mas pelo contrário perceber que se não conseguirmos cumprir com o compromisso com a troika, o castigo será ainda maior do que o previsto até hoje.
          Esta reflexão leva-me a outra bem mais séria e profunda. Como poderá a Europa (refiro-me aos países credores em especial) sair desta encrenca em que gregos, portugueses, irlandeses e outros a meteram? Sinceramente não vejo outra solução que não seja um aprofundamento da integração europeia. No presente estado de coisas não me parece porém que uma integração harmónica, planeada e faseada possa ter lugar. A ideia de uma Europa igualitária unida em torno de grandes ideais e principios está a agonizar. O que hoje mais conta é a capacidade de produzir e de ganhar dinheiro. Para que a Europa não expluda em mil pequenas unidades inviáveis, os países mais ricos vão ter que tomar conta dos mais pobres (os que se estão já hoje a mostrar inviáveis). Não pensem os mais perguiçosos que assim poderão continuar a levar a vida que até agora levaram, pois viver á custa de outros tem os seus custos. Por cada euro que para cá mandam, os nossos credores vão exigir trabalho correspondente. Por essa razão não me admiraria que o próximo passo possa vir a ser a criação de um ministério europeu das finanças que elabore anualmente um orçamento e o faça cumprir pelos faltosos renitentes. Só assim se salvará o euro e com ele a União europeia e os países que a compõem.
 
                                          ALBINO ZEFERINO    8/7/2011

quarta-feira, 6 de julho de 2011

PORTUGAL A SAQUE

Ao cabo de 37 anos de administração anárquica, os últimos 6 dos quais de gestão danosa, Portugal soçobrou. Como se o exigente (e a meu ver incumprivel) plano de resgate (ou de salvamento, como se quizer) não bastasse como prova da nossa morte, veio ontem a agencia de rating Moodie`s passar-nos a certidão de óbito destinada áqueles que ainda tinham duvidas sobre a morte institucional deste belo país à beira-mar plantado. A grande questão não tem sequer a ver com o nosso futuro como país (que já foi decidido pelo directório europeu) mas é reflexo duma luta pelo poder no mundo, que escapa completamente a Portugal: a sobrevivencia do euro como moeda de referencia em contraposição ao dólar americano. Aos europeus que contam (Alemanha e outros) a fortaleza da moeda europeia é essencial à manutenção do seu estatuto de grande potencia mundial. Pelo contrário, aos americanos (demasiado endividados com as guerras em que sucessivamente se têm metido para manter a sua supremacia planetária) não convém que o seu dólar seja substituido como meio mundial de pagamento. A China, por seu turno, vê com agrado estes arrufos americano-europeus, enquanto o seu reimimbi se vai reforçando face ao dólar (não nos esqueçamos que a China detém a maioria da colossal dívida externa norte-americana). E no meio destas guerras estranhas aos chamados países periféricos do euro, Portugal vai-se distraindo com eleições, novos governos, compromissos incumpriveis e apertos à vida dos portugas, convencido de que o sol gira à nossa volta e de que somos o umbigo do mundo.
          Afinal para que conta Portugal e o que riscamos nós neste filme? Eu diria que, desde que entrámos no clube do euro (inadvertidamente é certo), passámos a ser confrontados com um nível de exigencia orçamental e financeira ao qual não estávamos habituados e nem sequer preparados para tal. Com a inconsciencia que nos caracteriza  (para a frente e fé em Deus) não tivemos a preocupação de reformar o Estado e as mentalidades de forma a adaptar os portugueses às exigencias derivadas dessa mudança. O resultado ficou à vista. Com o nosso comportamento descuidado durante 15 anos, estamos (nós e os nossos primos gregos) a comprometer o desenvolvimento do euro como moeda universal, ameaçando as praças financeiras europeias e o próprio projecto europeu como um todo. Ora isto é inaceitável para os alemães (e para outros europeus) que já decidiram penalizar-nos. A troco do nosso salvamento (?) vamos ter que lhes entregar as nossas joias da coroa (vamos lá a ver o que é que eles querem para além do que consta do papel da troika) e reduzir-nos a viver na marquise da casa europeia (backyard em ingles técnico) nas traseiras onde vive e trabalha o pessoal, rodeados de gatos famintos e caixotes do lixo. Será este o futuro que a geração de Abril nos legou e será a partir de aqui que nós iremos deixar alguma coisa aos nossos filhos.
 
                                    ALBINO ZEFERINO   6/7/2011 

segunda-feira, 4 de julho de 2011

PORTUGAL Ä DERIVA

   Sujeito a um exigente plano de salvamento financeiro que ninguem se atreve a garantir que seja possivel cumprir, Portugal atravessa um perïodo complicado da sua já longa existência como païs independente. Por muito menos, países importantes nas suas épocas como a Prussia, os Estados italianos ou os Estados balcânicos, por exemplo, deixaram pura e simplesmente de existir. Estou em crer (mais por crença ou fé do que por convicção) que tal não sucederá a Portugal. As condições objectivas para isso apontam. Contudo, não devemos esquecer-nos de que em Portugal vivem os portugueses, raça rafeira, misto de árabe e de judeu, que nunca se entenderam entre si e que tradicionalmente se encontram em lados opostos da barricada. Sem uma liderança forte (não apenas determinada) o povo portugues não sossega, nem sabe como sair das encrencas em que se mete. Atente-se no que se passa com os primos do Médio Oriente e mais recentemente com os irmãos bastardos da África do norte.
          Nas anteriores crises em Portugal sempre emergiu uma personalidade forte, conhecedora natural da idiosincrasia do povo lusitano (porque originário dele) que naturalmente se impôs à turba assustada e conseguiu melhor ou pior preservar uma independência que nasceu frouxa e que verdadeiramente foi mais tolerada do que imposta. Desde as aventuras militares de Afonso Henriques que soube mobilizar os portucalenses para o saque às riquezas mouras do sul da Peninsula, passando pelo manhoso João das Regras que soube com mestria impôr o frade de Aviz aos espanhois casando-o depois com a inglesa Filipa de Lencastre (filha do rico duque de Gaunt) dando origem à Ínclita Geração que verdadeiramente foi quem pôs Portugal no mapa, mais ninguem até Salazar se conseguiu impôr sem discussão a este povo empedrenido e rebelde que Bordallo Pinheiro tão bem caracterizou no genial desenho do João Povinho fazendo o célebre gesto como manifestação da rebeldia contida dos portugueses. Tudo o resto foi fruto de meras circunstâncias (desde o defenestramento do Miguel de Vasconcelos, à revolta do 5 de Outubro, passando pelo regicídio e pelo 28 de maio). Do 25 de abril (fruto do desepero provocado por uma guerra incompreendida e sem solução, mas sem objectivos ideológicos que só depois foram introduzidos por Moscovo e protagonizados pelos seus sequazes portugueses) emergiu Mário Soares (o anti-Salazar) que livrou os portugueses da comunagem e empurrou Portugal para o que é hoje a União Europeia. Todas estas personalidades determinantes para a preservação da independencia de Portugal tiveram uma caracteristica em comum: como autenticos portugueses que se orgulhavam de ser, conheciam o seu próprio povo como ninguem porque dele eram originários. Soares (agnóstico convicto, era filho de um padre), Salazar (católico praticante mas já sem Fé no fim da vida, era filho de um humilde feitor), João das Regras era um filho do povo de Lisboa. Todos eles sentiam a alma portuguesa como sendo a sua. Só desta maneira se pode liderar os portugueses com sucesso. Com regras impostas de fora, por estrangeiros que não conhecem os portugueses (embora conheçam melhor do que os próprios as causas dos males que os afligem) dentro de prazos dificilimos de cumprir e num contexto internacional que lhes é estranho e que não compreendem como os poderá condicionar naquilo que julgam ser justo e solidário, será muito dificil a Passos Coelho e aos que com ele desinteressadamente empreenderam esta tormentosa viagem chegar a bom porto com o navio sem meter águas e ainda por cima dentro do horário. Com expectativas negras mas muito menos extremas do que as actuais, fugiram para o estrangeiro Guterres e Barroso, tambem estrangeirados como Passos. Será que está para chegar a vez do portugues Paulo Portas liderar Portugal e os portugueses com sucesso ? Confesso que tenho duvidas. Falta a Portas a lhaneza de espirito e sobretudo a estratégia para se impôr. Não basta ter qualidades de lider. Será preciso que as circunstancias lhe sejam propicias. Já Ortega y Gasset o dizia.
 
ALBINO ZEFERINO   4/7/2011