quinta-feira, 19 de junho de 2014

LA REINA PLEBEYA


          Embora em teoria nada tenhamos que ver com o que se está a passar aqui ao lado na nossa vizinha Espanha (gostamos sempre muito de adjectivar carinhosamente a referencia ao nosso único vizinho) por isso mesmo parece-me oportuno dedicar a prosa de hoje àquela que vai efectivamente reinar em Espanha, sem dissimulações, nem subterfugios, de hoje em diante.
          A escolha de Letizia Ortiz como esposa do principe que hoje vai ser entronizado no país vizinho revelou-se (contra as expectativas negativas da maioria da opinião espanhola - e não só) uma medida de grande alcance politico. Ao escolher uma plebeia para casar (depois de deixar de lado inumeras candidatas princesas ou simples aristocratas) o futuro rei de Espanha deu mostras duma sólida e prespicaz intuição politica. A Espanha nunca foi verdadeiramente monárquica depois da abdicação forçada de Alfonso XIII, em 1932.  Após a vitória na guerra civil de 36/39, Franco considerou-se a si mesmo como Regente duma monarquia reposta pelas armas contra uma republica esquerdista (e no fim já proto-comunista) que teria levado a Espanha para caminhos ínvios se tivesse saido vencedora da sangrenta guerra fratricida. A decisão do ditador foi mais uma afirmação de vontade oposta ao regime vencido, do que assente numa verdadeira convicção no sistema. A monarquia convinha mais ao franquismo pois era mais estável e mais susceptivel de controlar. Daí a escolha dum candidato dócil à partida (como Juan Carlos aparentava, ao contrário de seu pai, mais rebelde contra o franquismo) e sobretudo domável (o pai do actual rei foi literalmente raptado à familia exilada no Estoril quando cumpriu 16 anos para ser educado por Franco para um dia lhe suceder e preservar o regime por tempos imemoriais). Casando-o com a princesa grega Sofia, filha da feroz e estrita rainha Frederica da Dinamarca, que dava garantias de manter o destravado Bourbon na linha, Franco assegurou o regime pelo menos até à sua morte. A democracia espanhola muito deve à sensatez e à personalidade fria de Sofia que sempre esteve à altura do que dela se esperava, aconselhando o marido nos momentos mais dificeis e travando os instintos campuchanos do monarca que, à medida que envelhecia se revelava cada vez mais Borbón.
          Apercebendo-se de que não seria trazendo uma princesa insosssa para um país de salerosas que a monarquia espanhola poderia perpetuar-se , Felipe apostou bem numa espanhola de gema, politicamente motivada, preparada intelectualmente como ele e com passado como todas as raparigas de hoje. Além disso é uma mulher do povo, com o qual o povo se identifica e que o povo conhece. Poderia ser filha de qualquer um, ou irmã de outra qualquer. Felipe percebeu (se calhar depois de falar com a mãe) que na Espanha de hoje já não cabem duas classes (os aristocratas e os outros), que os privilégios para serem aceites têm que corresponder ao mérito, e que os reis que não se identificam com o seu povo são recambiados (ou pura e simplesmente eliminados).
          Esperemos (pelo menos os monarquicos espanhois devem esperar) que Letizia não se deslumbre (é esse o mal das plebeias quando mudam de classe social) e que saiba (como a sogra) acompanhar dignamente e bem aconselhar o marido que, não tendo a índole dos Bourbons (sai à mãe, mas em manso) não tem nervo nem inteligencia, embora pareça possuir a sensatez dos burros (nisso terá saído aos Borbónes).

                                ALBINO ZEFERINO                                        19/06/2014

sábado, 14 de junho de 2014

DO QUE ESTAMOS À ESPERA?


          Agora que o partido socialista se encaminha (prudente e lânguidamente) para uma solução para os seus problemas esturturais (ou seja, para uma mudança de direcção que lhe proporcione um regresso ao poder) já nada justifica que continuemos à espera (como Cavaco pretende) para dar uma solução consistente e definitiva à complexa situação portuguesa, nascida em berço socialista, mal-tratada em sede social-democrata-cristã e vilipendiada por esquerdistas raivosos.
         Que a Cavaco lhe calhe melhor eleições em final de 2015, para assim não ter que atuar mais este bando de corujas gaiteiras em que os politicos profissionais deste país se tornaram, tentando organizar um governo estável depois dumas eleições que não vão servir para nada, só a um mais distraido escapará. Mas à custa de quê? Eu diria que Portugal já não se poderá dar ao luxo de desperdiçar mais tempo (e tempo é dinheiro, ou seja, quanto mais tempo demorarmos a endireitar-nos, mais endividados ficaremos e mais nos custará pagar as dívidas) em joguinhos de interesses partidários (e institucionais: Cavaco quer, governo apoia, oposição reclama, tribunal constitucional decide) senão arriscamo-nos a que nos metam a cabeça no cêpo (como diria Robespierre) e morramos de vez sem dar por isso.
          A partir do outono, teremos novo PS com Costa ao leme, pronto para enfrentar as vagas da governabilidade neste agitado mar da recuperação, mas ainda com a costa distante. Passos e Portas, entretanto, terão todo o tempo do mundo para fazerem as malas, enchendo-as de prebendas e de recordações, antes de serem chutados do poleiro por indecente e má figura.
          Não seria mais avisado que, uma vez Costa alçado, nova Comissão em acção em Bruxelas, coelho esfolado (ou seja, memorando esquecido) nos lancemos, nessa altura sim, num novo ciclo (espera-se mais virtuoso do que o actual) capaz de nos encaminhar decididamente para um final feliz nesta viagem tenebrosa que nos obrigaram a fazer contra nossa vontade e contra os nossos interesses? Para isso o que falta? Falta que Cavaco saia da sua modorra institucional, esqueça os desmaios e justifique afinal o lugar que exerce por nossa conta e com o nosso voto, convocando eleições logo a seguir à consagração do Costa (já com orçamento feito por estes que ainda lá estão) e que se entregue de alma e coração (arriscando novos desmaios, como o soldado arrisca a vida) na busca de um governo de coligação alargada que possa governar sem estorvos constitucionais ou histerias esganiçadas este pobre país periférico mas orgulhoso de pertencer (como dizia Guterres, futuro presidente da Republica, quem sabe?) ao pelotão da frente dos países comunitários. Não somos membros da eurozona? Não assinamos todos os tratados europeus? Não temos o nosso nome ligado ao tratado de Lisboa, ultimo bastião duma união politica ainda não alcançada?
Então porque esperamos?

                                 ALBINO ZEFERINO                              14/06/2014

sexta-feira, 6 de junho de 2014

EM POLITICA O QUE PARECE É


          Parece que afinal poderá haver eleições antecipadas em Portugal. Ao contrário do que Cavaco tem vindo a dizer aos seus subditos, de que Portugal é um país normal e civilizado desta Europa em construcção lenta e que o normal é que as eleições decorram nos prazos estabelecidos e não sistematicamente em antecipação por desgaste dos governos em funções (até poderia parecer - diria eu - que os governos portugueses não saberiam governar normalmente), parece que o presidente tem estado em reflexão acerca da forma como deverá justificar ao povinho uma eventual dissolução antecipada do Parlamento, condição necessária para a convocatória das tais eleições antecipadas, que antes não queria. O que se terá passado então?
          O miserável score eleitoral obtido pelo PS nas ultimas eleições europeias (espécie de sondagem oficial para as parlamentares seguintes - que aqui seriam normalmente dentro de um ano) sugere que, com Seguro como chefe, o PS se arrisca a não reconquistar o desejado poder tão cedo. Quando muito uma vitóriazita tangencial que o obrigaria a fazer uma coligação contranatura com os partidos da direita responsáveis (segundo eles) pela desgraça em que os portugas vivem. A solução é correr com Seguro e substitui-lo por Costa, o sebastiânico federador das esquerdas portuguesas (vamos lá a ver quais serão), na esperança de que ele consiga a pontuação suficiente para expulsar de vez os fascizantes Passos e Portas do governo. Porém, entre o querer e o fazer vai por vezes um mundo e após conversações entre facções socialistas constata-se que antes do outono não haverá condições para aplanar convenientemente o caminho para a entrada triunfal do Rei Costa na esfera do poder nacional.  Ou seja, eleições antes de Outubro, não. E mesmo assim a coisa poderia dar bronca com o orçamento para 2015 por fazer (ou feito por outros) e o expectro de um governo por duodécimos no horizonte.
          Mal por mal (pensa Cavaco) o melhor será antecipar mesmo as eleições para já (digamos Julho/Agosto), época de férias em que a malta (já com os subsidios recuperados no bolso) se estará a desforrar na praia de 3 anos de contenção e irá faltar à chamada às urnas, dando vantagem aos votantes à direita que se deslocam mais facilmente para votar.  Por outro lado, quanto mais o PS discute sobre a oportunidade (e sobretudo a forma - sempre a forma) de substituir as chefias partidárias (secretário-geral, presidente, direcção nacional, direcções distritais e regionais, apaziguamento dos barões desmontados, etc.etc.) menos confiança vai depositando nas pessoas que meditam para si mesmas no eterno dilema de como poderá o PS governar bem Portugal se não se consegue governar sequer a si próprio? Ou seja, a pequena margem de votos que a eleição europeia deu ao PS a mais do que ao PSD/CDS poderá facilmente ser invertida com a marcação de eleições legislativas antecipadas enquanto os dirigentes do PS não se entenderem. É isto que consta. Será mesmo verdade? Dizem os nossos amigos espanhois: Yo no creo en brujas, pero que las hay, las hay!

                                         ALBINO ZEFERINO                                      6/6/2014

terça-feira, 3 de junho de 2014

A CRISE CONSTITUCIONAL


          Houvesse ainda duvidas sobre a necessidade duma urgente revisão constitucional, os recentes novos chumbos da legislação reformadora emanada do governo por parte do famigerado tribunal constitucional constituiriam a prova cabal de que este regime enfrenta um impasse de natureza constitucional.
          Efectivamente, foi a oitava vez que o TC se pronunciou contra as medidas que este governo penosamente tem produzido para tentar reduzir as despesas do Estado, impedindo assim que a reforma do Estado se realize em paz e harmonia, embora sujeita sempre às reacções mais virulentas do lado dos mais conservadores. Veja-se, por exemplo, as atitudes cada vez mais radicais e objectivamente inaceitáveis que a Intersindical exibe na concertação social e depois nas ruas.
          A prosseguir este caminho, considerando a actual Constituição politica da Republica como imutável e portanto como um obstáculo a tentar ultrapassar de cada vez que algo de novo o governo pretende levar a cabo, não vejo outro desfecho senão uma confrontação entre os que legitimamente pretendem manter o país à tona de água e os que, obnubilados pelas conquistas da revolução que já não existe, não abdicam de principios e de regras caducas e manifestamente contrárias à salvação nacional de Portugal enquanto país soberano e independente. É incompreensível para a grande maioria das pessoas que o TC se oponha (por razões meramente formais) às reformas indispensáveis no sentido de diminuir as despesas excessivas que o Estado suporta resultantes precisamente da aplicação cega desses mesmos principios e dessas mesmas regras caducas. Dirão alguns até que os juizes pretendem fazer politica através do excessivo protagonismo que a blindagem constitucional lhes proporciona. A exigencia constitucional da maioria de 2/3 dos deputados para que o Parlamento possa alterar a constituição foi resultante de negociações interpartidárias à época da elaboração da lei fundamental que pretenderam evitar precisamente o que hoje sucede. A tomada de poder de alguns à custa  dos sacrificios de todos os outros.
          À crise financeira sucedeu a crise económica e a esta a crise social. Agora chegamos à crise constitucional. Definitivamente, Portugal é um país de crises e aparentemente não consegue viver sem elas. O problema é que de crise em crise vamo-nos desfazendo e, ou pomos um travão a esta tedência suicida, ou vamos mesmo todos pelo cano abaixo como a água suja. A única solução democrática que antevejo é a que poderá resultar duma mudança na direcção do PS (peça fundamental deste processo) que esteja na disposição de se juntar aos partidos reformadores (PSD e CDS) na criação duma comissão parlamentar para a revisão constitucional que rapida e eficazmente desobstrua os escolhos constitucionais dos quais os juizes se valem para fazer a vida negra às pessoas que verdadeiramente desejam reformar este belo país à beira-mar plantado.

                                               ALBINO ZEFERINO                                    3/6/2014

domingo, 1 de junho de 2014

O DESESPERO SOCIALISTA


          A vitória amarga do PS nas eleições europeias já está a trazer para a ribalta a verdadeira natureza mesquinha e oportunista daqueles que afinal o que sempre quiseram foi o poleiro mediático e luzidio das mordomias que a politica portuguesa traz aos inuteis que nada mais sabem fazer do que papaguear lugares-comuns e patacoadas incongruentes neste país de banhas da cobra e de vendedores de ilusões.
          Aproximando-se o prazo de validade deste esforçado governo de Passos e de Portas e na falta de alternativa credível que o PS do boquinhas Seguro não consegue personificar, voltam a aparecer os fantasmas dos socialistas portugueses, apavorados com a possibilidade de evicção definitiva do panorama politico do partido criado já há mais de 40 anos pelo contestatário Soares e pelos seus capangas em Bad Neuereifel, como sucedeu na Grécia com o PASOK e em Itália com o partido socialista italiano e está em vias de acontecer em Espanha com o PSOE e em França com o PSF.
          Todos se voltam para o Costa - espécie de D.Sebastião das esquerdas, que ressurge das trevas de cada vez que as nuvens da esperança socialista se adensam - como que implorando para a magnânimidade daquele que se finge desinteressado daquilo que verdadeiramente aspira e que é mandar em Portugal. À terceira é de vez, como recordam com boçalidade os apoiantes do federador das esquerdas portuguesas, urlando a sua fé no único capaz de derrotar a direita que parece renascer de cada acto eleitoral que se vai realizando.
          Ultrapassado à vista da meta, o pobre Seguro já se contenta em partilhar o poder, mas Costa, tomado de fervor democrático, apela a votos entre os socialistas, certo de que assim se verá definitivamente livre do adversário, simples parentesis entre governações socialistas. Só que Costa se esquece que o aparelho partidário está com Seguro, pacientemente tecido nestes anos de duras penas e dificilmente desmontável em pouco tempo. Costa tem a seu favor a intelectualidade, os urbanos, os que veem a "quadratura do circulo" e se distraem com as locubrações televisivas. Seguro tem as velhotas que veem em Seguro o filho ou o neto que gostariam de ter tido, ou as gajas mais novas o marido que não têm. Quem tem razão? Vencerá a ambição do Costa com a SIC e o Expresso por detrás, ou as velhinhas do Seguro que o apalpam e o beijam repenicadamente nas suas constantes visitas ao país real? Conseguirá Costa efectivamente congregar a onda socialista que a contestação ao governo da actual coligação fez nascer? Ou será Seguro quem se manterá na corrida que dentro de um ano alçará os socialistas de novo ao poder?

                         ALBINO ZEFERINO                                                1/6/2014