sábado, 27 de junho de 2015

DO GREXIT AO BREXIT



          Afinal parece que se descobriu uma solução "politica" para resolver a tragédia criada pelos gregos à Europa caduca, confusa e desconfiada. Tsirpas (ou terá sido Merkel?) inventou um referendo cujo resultado é conhecido de antemão e que vai salvar a face ao Syrisa e o euro aos europeus. A coisa será já de amanhã a 8 dias (para despachar um assunto que já durou demasiado tempo para ser considerado um simples acidente de percurso) e voltará a por a UE em velocidade de cruzeiro (agora já mais acelerada).
          Com o aval da maioria dos gregos quanto à permanencia do seu país na zona euro (e consequentemente na UE), o Syrisa ficará de mãos livres para aceitar tudo e mais alguma coisa que Merkel e os seus próximos queiram. Depois é só aguentar as greves e as manifestações que se seguirão. Passos fez o mesmo depois de jurar que o povo portugues não iria sofrer com a intervenção da troika. Mas a honra do convento será salva.
          Merkel e os alemães é que terão que começar a abrir os cordões à bolsa a partir de agora. É a cobrança que Tsirpas lhe sacou a troco do referendo. A partir da resolução do caso grego a UE já não será a mesma. Terá que avançar resolutamente no caminho da integração politica do continente. Será um federalismo europeu, diferente dos federalismos nacionais, mas vamos ter seguramente soberanias partilhadas. Em que termos, não sei. Mas posso calcular. Controle orçamental, harmonização fiscal, união bancária, entre outras politicas comuns.
          Em contrapartida da resolução do caso grego, a UE passará a ter que enfrentar o caso britânico. Da ameaça do Grexit passará para a ameaça do Brexit. Mas aqui a coisa fia mais fino. Por um lado, a Grã- Bretanha não faz parte do euro, o que facilitará a sua saida da UE. Por outro, aliviará o orçamento comunitário pois o RU deixará de receber as verbas compensatórias que hoje recebe. Mas uma coisa será o abandono de um país marginal como a Grécia, cheio de problemas e sem peso especifico e outra  será a saida de um grande país europeu como o Reino Unido, protagonista continental, antigo império ultramarino e contribuinte liquido para o orçamento comunitário. Será certamente um abalo grande para a UE. Mas os custos duma eventual saida britanica da UE não provocarão problemas económicos e financeiros tão fortes como a saída da Grécia.  E os laços comerciais com os britanicos certamente permanecerão (são do interesse mútuo) através de um acordo de associação ao qual os ingleses não são alérgicos. Porém nunca se sabe como Cameron (que já provou ter fibra) manejará o referendo britânico. Até pode ser que os ingleses se encolham. Há que ter esperança.

                            ALBINO ZEFERINO                                   27/6/2015

segunda-feira, 22 de junho de 2015

HÁ MAIS EUROPA PARA ALÉM DA GRÉCIA



          Diz Nicolau Santos no seu Expresso curto de hoje que "a Europa está a fazer um braço de ferro com a Grécia por causa de menos de 1/4 do que os portugueses estão a pagar com lingua de palmo devido à falência fraudulenta do BPN."
          A ser assim, então a questão não é de dinheiro. Pensando bem e depressa, o problema é mais profundo do que alguns milhões de euros que deveriam ser poupados e não são. Essencialmente o que as instituições internacionais credoras querem é que o governo grego corte nas pensões dos gregos. E o governo grego não quer. As pensões gregas são elevadissimas comparadas com as dos restantes países europeus e embora não representem no seu todo mais do que 0,5% do PNB da Grécia, reflectem uma forma de ver a vida diferente, consoante o problema seja encarado pelos países ricos do norte da Europa ou pelos países pobres do sul.
          Para os nórdicos a pensão representa a parte com que o Estado colabora na reforma do empregado. Este, logo que se emprega, estabelece com uma qualquer entidade especializada (banco, cia de seguros, fundo de capitalização, etc.) um programa de reforma que lhe permitirá gerir a sua vida de trabalho conforme deseje. A participação do Estado nesse plano é residual. É assim que os nórdicos encaram o "magno" problema das reformas nos seus países. Para os sulistas, é o Estado quem deve suportar todas as despesas que o reformado tenha, logo que este deixe de trabalhar. E como a preocupação do sulista não é trabalhar muito e bem, mas pouco e mal (preparação das férias, das pontes e dos feriados, baldas, cafézinhos a toda a hora, convivio com os colegas, telefonemas às amigas, buscar os meninos á escola, reivindicações sindicais, etc. etc.em vez de produzirem algo de positivo), será o Estado (ou seja, os impostos pagos proporcionalmente por todos, bons ou maus trabalhadores) que fica obrigado a sustenatr este bando de calões que nunca trabalhou quando devia e que agora na velhice exige ser sustentado pelos outros (os ricos que paguem a crise, como gritam os comunas deseperados pelas ruas). É este o verdadeiro problema que separa gregos e troianos, ou seja os que trabalham dos que não trabalham. E os que trabalham não estão para sustentar os que nada fizeram nem fazem. Isto passa-se em todos os países do sul e não se passa nos restantes países do norte da Europa. Por isso, alemães, finlandeses, suecos, checos e holandeses, entre outros, não estão dispostos a ceder aos gregos. Senão teriam que ceder aos espanhois, aos portugueses, aos franceses e a outros mais. Como cada vez há menos postos de trabalho (eu prefiro dizer, necessidade de mão de obra humana) e os velhos persistem em viver mais tempo (graças aos avanços da medicina e dos serviços sociais) e a demografia tem vindo a baixar na Europa, o problema tende a agravar-se de ano para ano.
          O problema não é assim exclusivamente grego, mas abrange a Europa como instituição que se pretende global e coordenadora de politicas comuns que sirvam a todos os europeus de igual forma. E esta questão, sendo global, não é encarada por todos da mesma forma, pois não nasceu nem foi tratada da mesma forma por todos os países que compõem a UE. Como resolvê-la para o bem geral e com a aquiscência de todos (bons e maus trabalhadores, velhos e novos, nortistas e sulistas, escuros e claros, obedientes e rebeldes, cultos e ignorantes, etc. etc.) não vai ser tarefa fácil, mesmo que os gregos não saiam para já da UE, o que seria uma tragédia suplementar e quiçá mais grave ainda.

                                ALBINO ZEFERINO                                                   22/6/2015

sábado, 20 de junho de 2015

A TRAGÉDIA GREGA



          A não ser que aconteça uma reviravolta inesperada nas posições extremadas do actual governo grego e dos responsáveis pelas instituições credoras da Grécia, tudo indica que a Grécia irá sair em breve da zona euro e depois da própria União europeia. O governo grego está convencido de que os alemães irão ceder à ultima hora, pois o futuro do projecto europeu a isso os obrigará. Nisto consiste a chantagem. Mas, apesar da consciencia do risco de desmembramento a prazo da UE que a Alemanha enfrenta com a manutenção deste braço de ferro, creio que os credores não irão desarmar, pois seria abrir um precedente para casos semelhantes (como o portugues e o espanhol) que certamente não perderiam a oportunidade para reclamar iguais benfeitorias .
         Enquanto os europeus se preparam para o embate na intenção de minorar ao máximo as consequencias devastadoras que o abandono da Grécia da União vai provocar, os gregos continuam numa inconsciente letargia (à espera de Godot), sem mostrarem preocupação maior pelo deflagramento duma situação por eles provocada e que vai pôr definitivamente em risco a sua subsistencia como país independente. Não vai ser o recurso à ajuda russa (que esfrega as mãos de contente com esta situação) ou a submissão militar aos ditames da NATO (a partir da Turquia vizinha) que irão salvar a Grécia da bancarrota certa que uma saida precipitada da UE vai provocar no país.
          E a UE? Aguentará incólume este embate? Tambem não creio. Não me parece contudo que, à semelhança do que ocorrerá na Grécia (a questão da Macedónia e a próximidade da Turquia a isso sugerem), a UE se venha a desfazer aos bocados. Será certamente uma ocasião para se avançar decididamente para uma integração mais institucional do continente, que evite cisões futuras. Não excluo tambem que esse aprofundamento institucional venha a cobrir outras áreas de preocupação vital para os europeus, como é o tratamento do caso dos imigrantes ilegais provenientes do norte de África. Uma tragédia nunca vem só e às vezes até traz soluções que de outro modo seriam impossiveis de alcançar.

                            ALBINO ZEFERINO                    20/6/2015

sábado, 6 de junho de 2015

AFINAL EM QUE FICAMOS?


          Depois do grande alarido da saída da troika de Portugal duma forma limpa (limpinha, acrescentaria o grande Jesus do futebol lisboeta) eis que, passados escassos 6 meses dessa discreta (mas bem apregoada) saída, a troika regressa a Portugal (a Lisboa que é a mesma coisa) impante e escrutinadora como sempre (até os sujeitos eram os mesmos). Concluiram os ditos cujos que, apesar da limpeza (eu chamar-lhe-ia melhor, discrição) da saída, ainda haverá muito para fazer no que toca a reformas e outras coisas mais.
          Efectivamente, após tres anos de "ajustamentos" ainda faltam muitas reformas por concluir. Vejamos quais:
1. Tabela Única de suprimentos - A nova tabela está prevista na lei desde 2008 mas nunca foi posta em prática. O governo legisla, o parlamento aprova, mas o povo não quer. Não se executa.
2. Revisão da Tabela Remuneratória Única - Os funcionarios publicos já estão a passar para a nova tabela (TRU) mas, face às resistencias, o governo já prometeu uma revisão da mesma, o que significa que tudo parou.
3. As 40 horas de trabalho - Depois do alarido que a aprovação da lei aumentando de 35 para 40 horas de trabalho semanal provocou nos espiritos esclarecidos da classe trabalhadora, várias centenas de autarquias boicotaram o novo horário de trabalho para as 40 horas. Recomeçaram as negociações com os sindicatos e com as autarquias, impedindo que a lei seja aplicada.
4. Sustentabilidade das pensões - O governo desistiu de arranjar forma de substituir a CES que foi aplicada até ao ano passado. São precisos 600 milhões para este ano e a ministra das Finanças admitiu um corte nas actuais pensões para o efeito. Foi interpretado como uma bomba eleitoral e o problema ficou para ser resolvido depois das eleições.
5. Novo sistema de portagens nas SCUT - O novo modelo, mais barato e que reduz as fraudes, mas que beneficia as populações do interior país relativamente às das grandes cidades, foi adiado para depois das eleições.
6. Reclassificação dos hospitais - Apesar do muito que tem sido feito (o ministro da Saude tem sido corajoso) falta ainda fechar serviços em alguns hospitais em função da população que servem. Os sindicatos do sector têm reagido com greves.
7. Despesa com medicamentos - Sem embargo do esforço feito pelo ministério, a despesa para o Estado com medicamentos ainda ultrapassa 1% do PIB. São necessárias mais reformas e mais profundas.
8. Banco de Fomento - Ainda não arrancou. Parece que será para o final do ano em pleno periodo eleitoral.
9. Redução das rendas excessivas na energia - Ainda que o governo tenha cortado 3.400 milhões nas rendas, muito ainda há por fazer para reduzir as tarifas. Parte substancial dos cortes passou a ser assegurado pela contribuição extraordinária sobre a energia, que só terminará em 2018.
10. Leis orgânicas da PSP e da GNR - Não foram alteradas conforme combinado, nem parece que venham a ser nesta legislatura.
11. Redução das repartições de finanças em 40% - Os cobradores de impostos sempre foram privilegiados pelos poderes instituidos (vejam-se as aventuras do Robin dos Bosques).
12. Tecto às prestações sociais - Medida muito delicada de aplicar quando ainda não desapareceu a pobreza. E ainda por cima em período eleitoral.
          Mas então o que foi feito afinal? Desde que se foram embora os srs.da troika não registaram quaisquer melhorias na evolução da situação. Arriscamo-nos a que concluam que os portugueses não conseguem viver sem a troika. Não tem sido sempre assim há 900 anos?

                      ALBINO ZEFERINO                                               6/6/2015