quinta-feira, 29 de setembro de 2011

ACABOU-SE A PAPA DOCE

Isto de andar a mamar à custa dos outros dá sempre mau
resultado no final. Depois de muito mamar à conta do Estado, o Zé
Povinho vai agora sentir na pele as consequencias do inconsciente
sistema de vida que criou com as "amplas liberdades" do 25 de Abril.
Enquanto nos entretinhamos por aqui a brincar com coisas sérias mas
sem ferir os interesses dos nossos sócios estrangeiros, todos faziam
de conta (isso a gente sabe fazer bem) de que tudo corria às mil
maravilhas, sem pensar que o que hoje gasto não tenho para amanhã.
Pois o amanhã já chegou desde que a globalização apareceu (o Zé
portuga nem sabe o que isso é) com o sub-prime atrás e as alavancagens
bancárias a ajudar.
A entrevista televisiva de ontem do Presidente da
Republica foi o sinal de alerta de que a vida vai mudar a partir do
próximo ano. O homem foi claro, sem as habituais papas na lingua e as
insinuações bacocas que normalmente usa. Com o Orçamento para 2012 a
apresentar no próximo mes, o governo vai anunciar a dureza de vida que
nos espera. Fim dos privilégios, aumento do custo de vida, progressão
do desemprego, enfim, pobreza e contenção à vista para o Zé Povinho. E
desta vez não há cá alternativas democráticas. Greves, eleições
antecipadas, compromissos partidários, nada disto vai evitar o suor e
as lágrimas que nos esperam. E não vai haver nem selecção nacional nem
Futebol Clube do Porto para animar a malta. Chegou o momento de
pagarmos com lingua de palmo os desmandos que fizemos em 35 anos de
democracia. Olhemos para os nossos primos gregos e teremos uma imagem
do que nos espera. Quanto mais levantarmos cabelo maior será a porrada
que levaremos. Isto de pertencer ao euro tem destas coisas.
Gerações inteiras nadas e criadas nesta bandalheira em
que vivemos vão estranhar (eu diria mesmo que já estarão a estranhar)
a mudança de registos (como hoje se diz) que a nova vida vai trazer
aos portugueses. A designação de "geração à rasca" atribuida a essa
gente não é mais do que o traço definidor entre aqueles que se
resignarão (os do fascismo nunca mais) e os que se irão rebelar por
não conhecerem alternativas (os chamados desesperados). Se quizermos
ter uma ideia do que estou a querer dizer, basta voltar a olhar para
os gregos que (por terem estado sempre uns passos à nossa frente)
estão a mostrar o caminho que nos espera. Não é por acaso que a maior
preocupação do governo portugues é tentar marcar as diferenças de
situação entre a Grécia e Portugal. Contudo essas diferenças
infelizmente não existem. A nossa única vantagem sobre eles é estarmos
inseridos na Peninsula ibérica e assim podermos vir a contagiar a
Espanha com as nossas atitudes disparatadas. Não fora essa
circunstancia e nem santo António nos valeria. Saibamos perceber o
molho de bróculos onde estamos metidos e aceitemos inteligentemente o
nosso destino. Os mais velhos já conhecem a receita. Receio porem que
a tal geração à rasca não compreenda que há que abdicar do acessório
para manter o essencial. E o essencial é sobreviver com a dignidade
possivel dentro dos condicionalismos que as gerações anteriores lhe
proporcionaram.

ALBINO
ZEFERINO 29/9/2011

domingo, 25 de setembro de 2011

PORTUGAL ESTÁ COM LEUCEMIA

Há que aceitar os veredictos como eles são. Tal como um
doente terminal a quem o medico com frieza profissional transmite a
sua situação clinica, Portugal tem que aceitar resignado que está a
acabar. Mas como acaba um país? Mandando toda a sua população para o
estrangeiro, fechando as fronteiras e deixando o território ao
abandono como terra de ninguem? Entregando-se resignado ao
conquistador e preparando-se para o subsequente saque? Não creio.
Quando se diz que um país está perdido, acabado, falido, quer dizer-se
que o sistema segundo o qual a sua população tem vivido está
terminado, não serve. No nosso caso o que acabou (ou que está em vias
disso) é o sistema socio-politico e económico criado a partir de 25 de
abril de 1974. Melhor dizendo, a democracia plasmada na Constituição
politica de 1976 e a prática politica dela resultante estão a dar as
ultimas. De outra maneira não se compreenderia o memorando da troika,
as ajudas financeiras dele decorrentes e o empenhamento europeu na
nossa recuperação. O regime confuso, cheio de compromissos
contraditórios e de falhas estruturais graves, saído duma revolução
popular politicamente orientada e sem regeneração possivel, acabou por
soçobrar ao cabo de 37 anos, levado na enxurrada da crise
internacional.
E qual sistema linfático, foi a infecção do sistema
bancário a causadora da morte do paciente, ou melhor dizendo do país
doente. Sem bancos que emprestem dinheiro não há economia que
progrida. É para isso que eles foram inventados. Se se pretende
fomentar o crescimento economico, haverá que reformar os bancos em
Portugal e os seus procedimentos preversos. Por isso é que a malta de
esquerda (que não acredita na auto-regeneração das sociedades) defende
a nacionalização da banca como a unica forma de sair desta embrulhada,
deixando aos escolhidos (às elites partidarias) a nobre tarefa de
conduzir o povo (totalitariamente entenda-se) no caminho da redenção.
Mas não foi isso que fizeram logo a seguir ao 25 de abril com os
resultados desastrosos que se conhecem? Dirão eles que agora (depois
da queda do muro) tudo é diferente e que estão preparados para jogar o
jogo da democracia representativa sempre que eles (os da esquerda)
fiquem a mandar. Havia de ser bonito, havia! Então é que iriamos
directa e rapidamente para o buraco.
Mas para reformar os bancos de forma a que eles ajudem ao
desenvolvimento do país em vez de gananciosamente (e por vezes
criminosamente) se governarem a si próprios, será previamente
necessario reformar as regras que orientam a sociedade. E é isto o que
a troika quer que o governo faça, sem tergiversações, sem compromissos
espurios, sem cedencias clubisticas, sem corrupções activas e
passivas, sem truques saloios, sem dó nem piedade. Faça o governo a
sua parte que o Zé Povinho, saloio mas malandreco, ignorante mas
esperto, inculto mas observador, saberá corresponder estoicamente ao
desafio, como sempre o tem feito ao longo da sua longa e rica história
de quase 900 anos. Assim seja!

ALBINO
ZEFERINO em 25/9/2011

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

O BAILINHO DA MADEIRA

O Dr. João Alberto Jardim exagerou. Estar há mais de 30
anos à testa do governo regional da Madeira leva a estas coisas.
Independentemente da razão que lhe possa assistir nesta luta sem
quartel que se avizinha, o certo é que houve exagero. Não se procede
assim contra uma decisão do governo central mesmo quando o respeito
que lhe é devido se esfumou por culpa das diatribes que Sócrates lhe
fez. Os tiques ditatoriais que a população da Madeira tem permitido a
Jardim acabaram por se virar contra ele. Não fora a atitude traidora
de Portas ameaçando Passos Coelho de abandonar a coligação se este
perdoar a dívida a Jardim, a questão madeirense ter-se-ia resolvido
como Jardim previra. Entre amigos. O azar dele são as eleições
regionais que se aproximam e todos (PS e CDS) querem as sobras de
Jardim.
A atitude do CDS de Portas veio evidenciar a fragilidade
da coligação governamental. Mas mostrou mais. Trouxe a publico aquilo
que muitos já tinham confidenciado ao primeiro ministro, ou seja, que
Portas não merecia confiança. Trocar uma solidariedade vital para o
governo central nos tempos que correm por meia duzia de votos (ainda
por cima na Madeira) que, quando muito permitirão ao CDS coligar-se
com o PS num futuro governo regional, definem o carácter do líder
centrista e aquilo que Passos pode esperar dele. Mais valia ter
convidado o amigo Seguro para o baile, o que permitiria uma maioria
mais alargada, passivel de proporcionar uma revisão constitucional
indispensável para a regeneração do país e para fazer sair Portugal
deste fosso cheio de portas e de janelas que dão para o jardim.

ALBINO ZEFERINO
19/9/2011

domingo, 18 de setembro de 2011

PELOS SÉCULOS DOS SÉCULOS

Portugal orgulha-se com razão de ser um dos países mais
antigos do mundo. Não será o mais antigo, mas diz-se que é o que tem
as fronteiras mais antigas. Numa época onde as fronteiras cada vez têm
menos significado, diria que esta nossa caracteristica não será
própriamente um troféu. Mas como não podemos invocar nada de
exclusivo, de primazia, quedemo-nos então pelas fronteiras.
O nosso país nasceu duma desanexação forçada do então
reino de Leão (hoje comunidade autónoma de Espanha) em meados do
seculo XII. Por uma questão de arrumação histórica diz-se que nascemos
em 1140. Contudo, o actual Portugal só se consolidou no século XIV com
a conquista do Algarve aos mouros. Poder-se-á assim dizer que o
Portugal autónomo só surgiu depois de 1380 com o advento da Ínclita
Geração. Sem a decisiva intervenção inglesa, que ajudou Álvares
Pereira, o santo, a escorraçar o legítimo pretendente castelhano na
famosa batalha de Aljubarrota, não teria sido possivel consolidar a
independencia nacional como hoje a conhecemos. Nem os descobrimentos
ultramarinos que nos trouxeram, pela primeira e unica vez na história
universal, honra, glória e poder, teriam sido possiveis sem o sangue
britanico de Filipa de Lencastre e dos seus filhos. A Inglaterra foi
assim o nosso primeiro e decisivo aliado.
Vivemos assim, ricos e sem problemas, durante mais 200
anos até que os Áustrias de Espanha (herdeiros do primeiro imperador
da Europa, Carlos V) resolveram conquistar-nos e às nossas riquezas
ultramarinas entretanto acumuladas, que alegremente dissiparam nos 60
anos seguintes. A Espanha foi portanto o nosso segundo aliado, mas
desta vez para mal dos nossos pecados. Em 1640, quando, por descuido
espanhol (que optou por conservar a Catalunha rebelada) conseguimos
escorraçar o castelhano, iniciou-se o declinio portugues. A fraqueza
dos Braganças aliada à ausencia de apoio ingles (preocupados com as
guerras europeias em que se tinham metido) nunca conseguiu ressuscitar
a grandeza de que Portugal gozara nos séculos XV e XVI. Até que surgiu
Napoleão (o segundo imperador europeu) cujos exércitos entraram por
tres vezes em Portugal forçando o rei D. João VI a fugir para o Brasil
(agora já com o apoio ingles) provocando a independencia brasileira e
arrastando Portugal para o periodo mais deprimente da sua história.
Depois veio a Republica e as suas confusões, o provinciano salazarismo
e o revolucionário abrilismo, de cujas consequencias ainda hoje
estamos a sofrer.
Poderemos assim, grosso modo, dividir a nossa existencia
como país independente entre o período da conquista árabe (1140 até
1380) onde contámos com o apoio dos cruzados (maioritariamente
franceses); o período dos descobrimentos (1380 até 1580) onde contámos
com o apoio ingles; o período espanhol (1580 até 1640) onde começou o
nosso declinio; o período deprimente (1640 até 1812) onde delapidámos
o pouco que ainda tinhamos; o período da desgraça (1812 até 1910) onde
fomos literalmente governados por franceses e depois por ingleses; o
período da confusão e do atraso estrutural (de 1910 até 1986) onde
pontificaram os republicanos, primeiro os jacobinos, depois os padres
e depois os bolcheviques e finalmente o período europeu (de 1986 até
hoje), o periodo das grandes duvidas e das grandes incógnitas, onde
vivemos dos subsidios da CEE. Até que chegou a crise!
Sem contar com as interações forçadas com os nativos
cujos territórios iamos alcançando com as nossas naus (fomos os
primeiros, isso sim, no comercio de escravos) verifica-se que desde
sempre houve influencia de estrangeiros em Portugal. Não é assim de
admirar que tivessemos feito parte de todas as organizações
internacionais que entretanto se foram formando sem que para isso
tivessemos que tomar parte integrante e decisiva nas grandes guerras
europeias e mundiais.
Agora que se discute o futuro da Europa onde nos
integrámos dos pés à cabeça, sem recursos e ciencia que possam
dispensar ajudas estrangeiras, ficámos novamente à mercê de
estrangeiros (agora alemães mais do que outros) que estão definindo o
nosso futuro, integrados ou não no euro, fazendo parte ou não da nova
Europa institucional que se desenha e com cada vez menos capacidade de
decidir por nós próprios o que mais nos convém e o que mais se adequa
aos nossos interesses e à nossa idiossincrasia.

ALBINO ZEFERINO 18/9/2011

A GRANDE MISTIFICAÇÃO

Neste momento de grande confusão nos espíritos das
pessoas resultante da incerteza que o futuro nos reserva, caberá
perguntar para que serve o Estado, a política, as instituições e tudo
o mais que rodeia a liturgia do chamado poder politico. Cada vez mais
se levantam duvidas sobre se determinadas acções que nos são impostas
pelos nossos governantes servem para alguma coisa. Apenas nos dizem
que são sacrificios necessários para melhorar o nosso futuro, o futuro
dos nossos filhos e dos filhos deles e que não temos outro remédio
senão cumprir. Mas será mesmo assim? Temos a certeza de que o dinheiro
de que nos fazem abdicar (em impostos, na diminuição das regalias que
conquistámos com esforço, nos salários que deixamos de receber, em
sobrecargas financeiras nos serviços que o Estado nos presta, etc.)
servirá mesmo para sanear a desgraçada situação em que os anteriores
governos deixaram o país, ou será simples pretexto para os que agora
lá estão poderem continuar a viver à nossa custa e a roubar-nos como
os outros fizeram? Muito se tem dito a este respeito, o que leva
alguns crédulos como eu a pensar se realmente não estaremos a ser
levados por esta corja de bandidos que se instalou nos ramos da árvore
das patacas a que se convencionou chamar Estado e que lá do alto dos
seus poleiros grasnam imbecilidades que só atrapalham quem trabalha e
quer produzir para si e para os seus.
Pensando bem, para que servem realmente tantas
instituições publicas com atribuições contraditórias e pessoal
excedentário senão para satisfazer as exigencias da liturgia do poder?
Alguem saberá explicar com precisão e sem demagogia para que servem os
deputados? E os ministros? E o famigerado presidente da Republica? E
com estes, os directores gerais, os chefes de departamento, os chefes
de serviço, os chefes de gabinete, os chefes das casas do presidente,
os chefes das comissões, os chefes dos grupos de trabalho, os
directores e vogais das direcções das chamadas empresas publicas, os
assessores e adjuntos dos chefes, os motoristas dos chefes , as
secretárias dos chefes, as ajudas de custo dos chefes, os abonos de
representação dos chefes, as viagens dos chefes, etc. etc.? Não seria
preferivel que o Estado tivesse menos e melhor gente que trabalhasse e
produzisse mais, em vez desta corja de penduras que só se mexem para
reclamar mais salários, menos horas de trabalho, mais regalias para si
e para os seus, ocupando espaço, conspurcando os locais onde se
instala, poluindo o ar em seu redor e incomodando com a sua presença e
a sua voz quem quer trabalhar em paz e sossego ?
Apesar dos memorandos da troika, das ajudas do FMI e das
declarações da Merkel, ainda não vi nenhuma reforma de fundo feita por
este nóvel governo que pudesse trazer alguma esperança de regeneração
do Estado aos pobres espiritos dos portugas que anseiam por paz e
tranquilidade. Onde estão os projectos de reconversão da economia
portuguesa? Na agricultura? Não. Em novas industrias? Quais? Em
melhores serviços? Vade retro. O que tenho visto e lido é que já
começou a vaga das substituições. Saem alguns socialistas (os que não
são da Maçonaria) e entram amiguinhos do Relvas e do Portas. Só as
moscas mudam, mas o que é preciso é limpar a merda.
Enquanto não houver coragem (e genuino interesse) em
acabar com os elefantes brancos herdados do salazarismo e
desmistificar os conceitos ressuscitados pelo abrilismo, não iremos a
lado nenhum com o sem o FMI e a UE. Haja juízo e decoro. Basta de
exploração. Chega de demagogia.

ALBINO ZEFERINO 18/9/2011

terça-feira, 13 de setembro de 2011

A GLOBALIZAÇÃO DAS ECONOMIAS

Fala-se muito hoje da globalização, umas vezes para
enaltecer as suas consequencias positivas para o progresso da
Humanidade e outras para justificar os diversos falhanços das
politicas economicas e financeiras levadas a cabo por governos
incompetentes e corruptos. Mas afinal o que é a globalização e quais
são as suas consequencias para o Homem?
Ao promover uma economia global, ou seja, alargando o
espaço de aplicação dos mesmos principios economicos a áreas
geográficas maiores do que os Estados soberanos que compõem esse mesmo
espaço, o homem está por um lado dinamizando a economia em geral e por
outro promovendo o desenvolvimento economico dos Estados integrantes
desse espaço maior. E quais são as consequencias para o
desenvolvimento social dessa globalização?
Uma primeira consequencia parece-me óbvia: um grupo de
pessoas trabalhando em comum e organizado segundo as mesmas regras
produz mais e melhor do que as mesmas pessoas trabalhando cada uma
para seu lado com ritmos e exigencias próprias. Ora produzindo mais e
melhor em conjunto do que separadamente, o homem e os Estados
progridem mais depressa com a globalização do que sem ela. Mas se é
assim, porque razão há pessoas e Estados que não se desenvolvem tanto
como outros? A resposta é simples: porque nem todos pensam da mesma
maneira, tornando mais dificil e por vezes impossivel um trabalho e
uma convivencia harmoniosa que conduza a um progresso economico
sustentado.
Pois é precisamente isto que hoje se passa na Europa e no
Mundo. Não existindo as mesmas regras e os mesmos ritmos de trabalho
em todos os países ( e por vezes em todas as regiões do mesmo país) o
fenómeno da globalização tem dificuldade em se impor. Na União
europeia por exemplo, enquanto não forem harmonizadas (ou seja,
aplicadas genericamente) as mesmas regras economicas e financeiras a
todos os Estados membros (começando naturalmente pelos países da moeda
comum) não será possivel um desenvolvimento economico e social
sustentado em todos os países que compõem a União. Esta reflexão
leva-nos a outra. Como será possivel fazer perceber a toda a gente o
que é melhor para ela em determinada ocasião e em determinado contexto
historico? Creio que aqui é onde a imperfeição humana mais se
manifesta. Já Churchil em plena guerra mundial dizia que a democracia
sem ser um sistema perfeito é o que mais se aproxima dessa perfeição.
Enquanto o ser europeu (com as suas limitações humanas,
as suas vaidades e os seus vícios) não se convencer de que é na união
da Europa que reside a solução para a saída desta crise longa e
profunda em que mergulhamos (uns mais do que outros) não vamos a lado
nenhum. Para Portugal não há alternativa. Foi ao ter descoberto esta
verdade antes de toda a gente que Mário Soares conseguiu a sua carta
de alforria que o guindou para dentro da História de Portugal. Devemos
mostrar aos nossos parceiros na U.E. que somos merecedores de fazer
parte de uma Europa unida e solidária, trabalhadora, culta e
progressiva, defensora dos principios que lhe permitam participar no
mundo globalizado de hoje, sem complexos nem hesitações que entravem a
vontade de progredir num mesmo sentido de progresso economico e
social.
Para isso os portugueses terão que se entender no
essencial e deixar-se de originalidades bacocas que só confundem o
estrangeiro na sua avaliação das nossas capacidades em conseguir sair
deste fosso que se vai alargando e aprofundando diariamente. As
reservas manifestadas quanto ao cumprimento rigoroso do plano da
troika, como a constitucionalização do défice ou a reorganização
territorial do país, por exemplo, tal como as ameaças mais ou menos
veladas a um aumento da conflitualidade social, não ajudam ao esforço
nacional que deve ser de todos sem excepção, venham elas dos
sindicatos, dos partidos ou das organizações de interesses
corporativos ou morais. O que esta crise veio demonstrar é que sem uma
globalização da sociedade europeia não haverá progresso social para os
europeus e que se uns devem ceder numas coisas (os alemães nos seus
lucros) outros deverão fazê-lo noutras (os gregos e os portugueses nos
beneficios sociais espurios de que injustificadamente gozam).

ALBINO ZEFERINO 13/9/2011

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

OU VAI OU RACHA

Tenho a impressão de que chegámos ao momento de
clarificar as dúvidas que eventualmente ainda possam existir quanto à
necessidade imperiosa de acabar com a bandalheira reinante desde há
demasiado tempo neste país de brandos costumes. O congresso do partido
socialista deste fim de semana não me deixou quaisquer dúvidas a este
respeito. Embora alguns deles tenham mostrado algum juízo, grande
parte dos xuxas continuam teimosa (e estupidamente diria eu) a alertar
para os ataques (como eles dizem na sua simplicidade de espirito)
deste governo de direita que nos rege aos "sagrados direitos" dos
trabalhadores, conseguidos pela gloriosa revolução do 25 de abril. Os
pobrezinhos ainda não entenderam que o tempo da dialéctica marxista já
passou e que agora ou marramos todos para o mesmo lado ou ficamos
entregues aos bichos.
Vão-se os aneis mas fiquem os dedos, diz o povo com
sabedoria. Os anteriores governos do Sócrates e do Guterres eliminaram
de vez qualquer veleidade que pudesse ainda ter ficado do tempo do
Cavaco e do Barroso, de repartir fosse o que fosse pelos desgraçados
portugas. A questão hoje põe-se duma forma aterradoramente simples: ou
conseguimos fugir da atracção grega para o abismo, ou vamos todos,
gregos, portugueses e depois alemães, franceses e todos os outros,
pelo cano abaixo na enxurrada do euro e da Europa unida.
A questão, a meu ver é outra. Será que este governo é
suficientemente forte (de espirito e de moral, entenda-se) para
resistir aos hábitos preversos instalados na sociedade portuguesa
precisamente por aqueles que hoje o acusam de não olhar aos interesses
dos trabalhadores "explorados"? Ou dito de outro modo: está o governo
disposto a cumprir sem tergiversações cínicas o programa da troika,
sem o que acabam os emprestimos que nos permitem viver (mesmo sem
atender aos "direitos adquiridos" pelo glorioso 25/4)?
Não duvido da boa vontade de alguns (Passos Coelho
incluido) nem da competência de outros (Vitor Gaspar incluido), mas já
não sei se Portas, Relvas e outros, não se regirão mais pelas suas
próprias agendas pessoais do que pelo desejo legítimo de ajudar os
demais a sair deste enorme buraco onde nos fizeram cair. Sem uma
profunda revisão constitucional que acabe com as demagogias
esquerdófilas lá metidas por socialistas e comunistas e cobardemente
permitidas pelos vira-casacas Mirandas, Freitas e companhia, bem como
sem uma aceitação generalizada e sem reservas da eliminação dos
beneficios espurios decididos em momentos revolucionários pelos
inconscientes constituintes, não será possivel que Portugal mantenha a
independência a que nos habituámos há oito séculos e pela qual muitos
dos nossos antepassados deram a vida.

ALBINO ZEFERINO 11/9/2011

PS - A respeito do que atrás fica dito, permito-me remeter o leitor
para o artigo publicado em 4/1/2011 neste mesmo blog, subordinado ao
título O DESTINO PORTUGUES.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

PORTUGAL À DERIVA

Depois de tantas expectativas parece que o arranque reformador deste nóvel governo começou gripado. Com tantas medidas avulsas acaba por não se entender qual é a ideia subjacente. Acabar com os privilégios dos trabalhadores? Destruir definitivamente o tecido económico nacional? Dar cabo do Estado social inventado pelos socialistas para perdurarem no poder? Arrumar de vez com a classe média criada sem critério sociológico após o 25 de abril? Matar os riquinhos (porque verdadeiramente ricos não há em Portugal) tirando-lhes o dinheiro?
             Num país essencialmente pobre e débil como é o nosso (sempre foi pouco produtivo, dependente de outros e amorfo) há que ter ideias muito claras sobre o que e como fazer quando um governo se propõe reformar o sistema existente. Não basta detectar as suas fraquezas (o que é sempre mais fácil) mas ter ideias, capacidade e saber para as fazer vingar. 
             O que estes dois meses de governação já deixaram claro (e infelizmente foi só isso) é que a pretexto do cumprimento do plano da troika o governo tem legislado sem critério politico subjacente e (perdoe-me Passos Coelho) sem coordenação. A inclusão no governo (ainda por cima sendo de coligação) de uma maioria de ministros independentes (ou seja, sem ideologia definida, ou melhor dizendo, fazendo o que lhes vem à cabeça) leva a isto mesmo: uma enorme descoordenação. Não se pode ter ao mesmo tempo, diz o povo, sol na eira e chuva no nabal. Ou o governo quer mesmo reformar o país (porque entende que é a única forma de sairmos deste buraco) ou apenas quer fingir que muda alguma coisa para que tudo fique na mesma.
             Se o governo ainda pensa como anunciou antes de ser eleito, então meus amigos há que trabalhar mais rapidamente e melhor. Para isso há sobretudo que trabalhar sobre uma base politica clara, pré-definida e univoca. Para assegurar essa base é que serve o Conselho de ministros, balizando as propostas de lei de cada ministro dentro das orientações politicas que foram escolhidas pelo povo nas ultimas eleições legislativas.
             Fazer um levantamento das situações iniquas no país (que infelizmente abundam); planear e fasear o respectivo saneamento; retirar ao Estado a detenção de meios de produção (ou seja as empresas lucrativas); reforçar o poder de intervenção do Estado nas acções de soberania (tribunais, policias, defesa, representação do Estado) e sobretudo educar as pessoas a viverem em sociedade, sem atropelos, cumprindo as regras e justificando o dinheiro que ganham, o ar que respiram e o espaço que ocupam nesta terra que é de todos, deve ser a prioridade do governo. Tudo o resto é deixar que o mercado e a concorrencia orientem.
 
                                            ALBINO ZEFERINO    8/9/2011

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

JÁ NINGUEM PARECE SÉRIO

  A vida está a mudar com demasiada velocidade. O que ontem parecia adquirido, nosso, coisa certa, é hoje posto em causa sem que as pessoas compreendam verdadeiramente a razão para tal. Sentem-se quase roubadas, vexadas, numa palavra traídas. Quer se trate do trabalho (por vezes de uma vida), dos rendimentos (fruto quase sempre de inumeros sacrificios), da saúde (que todos pensamos ser eterna) ou até da seriedade dos políticos de quem as nossas vidas dependem.
             Doutrinados na cultura judaico-cristã, dogmática, fundamentalista e determinista, os portugueses foram inconscientemente habituados a uma vida de via única onde se sabia de antemão (ou pelo menos se intuia) qual o caminho que tocava a cada um. Para o vulgar Zé Povinho (o Antonio, o Manel, o Joaquim, a Maria, a Vanessa ou a Etelvina) as coisas ou são pretas ou são brancas. Não podem ser branco sujo ou preto encardido. Fica feio, dizem entre si.
              Uma vez escolhido (ou aceite) o rumo que o destino quis dar às nossas vidas, a nossa primeira preocupação é entrarmos depressa nele e habituarmo-nos com o menor esforço possivel às suas regras e costumes, sem cuidar de examinar mais de perto (ou mais profundamente) a razão porque nos calhou aquele destino e não outro. Por isso dizem que somos um povo de brandos costumes. 
             Com a crise internacional verificou-se (eu diria antes que outros verificaram porque nós não demos sequer por isso) que as regras segundo as quais alegremente viviamos tinham sido desvirtuadas por acção de alguns malandros desavergonhados (na maioria gangsters corruptos e alguns incompetentes à mistura) lançando-nos numa espiral imparável de despesas da qual estamos hoje a sofrer as consequencias. Sem força nem génio para conseguirmos encontrar uma saída airosa para a nossa crise (tal como os nossos primos gregos que se encontram na mesmíssima situação) tivemos que submeter-nos ao vexame da ajuda internacional (à qual o perdulário Soares já nos habituara) para não sossobrar. 
            Contudo tal ajuda pressupõe, por um lado, um governo sério que cumpra e faça cumprir as condições que nos foram impostas para nos ajudarem e por outro, que o Zé Povinho perceba que a sua alegre vida (de receber sem trabalhar, ou de trabalhar sem ser preciso no trabalho) acabou e que vai ter que suportar as provações (e as privações) resultantes de anos de desmandos e de aldrabices.  
             Enquanto não fôr convenientemente explicado ao Zé Povinho que a bandalheira popularucha tem que acabar (o que se torna mais dificil enquanto alguns continuam a tentar confundi-lo), haverá sempre risco de desordens (ultimo argumento para os malandros culpados pela situação) que poderão acobardar o governo na sua determinação reformadora. Conforme já tenho dito, a receita é fácil  (dar forte na malandragem e poupar os mais carenciados - mas só estes - a sacrificios humanamente impossiveis de cumprir) porque o dificil está feito e consta do memorando de entendimento com a troika.
             Dr. Passos Coelho, ponha-me esses ministros que escolheu a trabalhar. Já era tempo de apresentar projectos de reformas na Justiça, na Saúde, na Segurança Social, na Educação e na Administração publica.  A propósito, quais vão ser as fusões de municipios? E quais serão os institutos publicos a suprimir? Já há alguma reforma prevista para o estatuto profissional dos juízes e procuradores? E dos médicos? E dos militares? E dos policias? E dos funcionários publicos em geral?  Tenciona engolir satisfeitinho o projecto da câmara de Lisboa para juntar meia duzia de freguesias (que já estava projectado há decadas) e deixar o Costa à solta com centenas de empresas municipais onde emprega correlegionários e amigos, que consome grande parte do orçamento camarário? E o sistema bancário ficará como está depois da politica de crédito que provocou este desastre nacional?  Sejamos sérios porque de malandros está o inferno cheio. 
 
                                       ALBINO ZEFERINO   7/9/2011                

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

OS TRES DA VIDAIRADA

Tal como os tres mosqueteiros do Dumas, existem na imprensa escrita portuguesa quatro colunistas que representam por assim dizer a "inteligencia" mediática dos nossos tempos. São tipos cultos, com humor, boas plumas e de cabeças arejadas.  Embora diferentes entre si, uns são mais jovens do que outros pertencendo a gerações diferentes, outros são profissionais da escrita outros não, uns são humanistas, outros escolápios, outros humoristas, mas todos com boa formação académica.  Mas são sobretudo grandes observadores e criticos mordazes da actual sociedade portuguesa.  Se vivessemos no fim do sec XIX, seriam certamente uns vencidos da vida.  Hoje são apenas mais uns cronistas de entre a multidão dos escrevinhadores portugueses onde me incluo.  De um deles falava-se que deveria ter ganho o prémio Nobel em vez do que ganhou; outro deles escreveu uma obra-prima que o tornou rico; outro ainda é uma das grandes figuras televisivas do momento e só um deles escreve sob pseudónimo como eu. Todos eles são porem os meus herois, pois gostaria de possuir metade do talento de cada um deles.  São certeiros nas suas crónicas, profundos nas suas análises que descrevem com humor mordaz e acutilante, criticos sociais impiedosos, originais na mestria das suas prosas e ferozes defensores da lingua e da cultura portuguesas. Trata-se, já adivinharam concerteza, de António Lobo Antunes, homem triste e depressivo, mas genial e magnífico observador da espécie humana; de Miguel Sousa Tavares, marialva e corajoso, mas fino politico e sociólogo atento; de Ricardo Araujo Pereira, inteligente caricaturista do espécime lusitano que descreve com um fino humor e uma graça mordaz e finalmente do "comendador Marques de Correia" que assina assim semanalmente as suas deliciosas e bem observadas crónicas sociais. Uma coisa os une: todos trabalham para um mesmo patrão, o nosso Murdoch, o barão da comunicação social em Portugal, Francisco Pinto Balsemão, que graças ao seu talento soube incluir em algumas das suas importantes publicações estes quatro escritores de genio.
             Quando um dia mais tarde, como hoje fazemos com Eça, Oliveira Martins ou Sérgio, quisermos mostrar aos nossos filhos como era a sociedade em que vivemos, serão estes os nomes que lhes indicaremos para que eles se inspirem nas suas magnificas prosas. 
 
                                                     ALBINO ZEFERINO    2/9/2011  

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

OS RICOS QUE PAGUEM A CRISE

Frase de enorme conteudo politico, foi largas vezes usada em situações de crise em todo o mundo por grupos e organizações de cariz comunista. Terá porem algum significado politico? A ideia vem dos bolchevistas sovieticos quando tomaram o poder na Russia imperial em 1917, inspirada no grande Lenine como justificação para acabar com os ricos a quem eram atribuidos todos os males que a histórica revolução combatia. Mais tarde veio a verificar-se que tudo depende da chamada classe media que hoje em dia constitui a maioria da população dos ditos países civilizados. É à classe media que os governos (seja de que cor forem) recorrem para endireitarem as respectivas finanças, seja atraves de aumentos do IRS, seja do IRC, seja do IVA. São estes os impostos que efectivamente contam em termos globais para o aumento das receitas dos Estados.
             Então porquê continuar com esta demagogia de atribuir regularmente ao reduzido grupo dos chamados milionários as culpas dos dislates governativos, poupando os verdadeiros responsáveis pelas crises do Estado com o deturpado argumento de que já foram julgados pelos eleitores. Grande julgamento!  Ficaram livres dos constrangimentos governativos e continuaram ricos e intocáveis em termos financeiros e de prestigio social. Será isto justo? Não me parece. Se houvesse uma maneira rapida e expedita (evitando o recurso aos tribunais que só complicam os assuntos) de fazer os verdadeiros responsáveis pelos dislates financeiros do Estado (os que irresponsavelmente tomaram decisões preversas e incompetentes - ex. SCUTs, TGVs, autoestradas, RSIs, SNS,ensino gratuito,bancos falidos,etc -  os que se aproveitaram das suas posições para enriquecerem à custa do Estado - BPNs,MOTA-ENGILs Visabeiras, BCPs, BPPs, patos bravos socretinos, politicos e autarcas corruptos, etc..-  e todos aqueles que se locupletaram à custa alheia - ex.Freeport,REFER,LUSOPONTE,EXPO98, estádios de futebol, etc.) a  pagar pelo mal que fizeram aos outros reembolsando o Estado das fortunas que lhe roubaram, já não seriam necessários os ditos sacrificios que diariamente os governos reformadores vêm impingindo às pessoas, obrigando o justo a pagar pelo pecador.  
              Porém, uma vez que os nossos ditos milionários vêm a publico reconhecer que devem colaborar com alguma coisinha para a desgraça nacional para alem do que já pagam a titulo de cidadãos comuns, então que se os taxe numa percentagem progressiva sobre a detenção de bens sumptuários como casas secundárias, carros de luxo, cavalos de desporto, veleiros de passeio, aviões e helicópteros, férias de luxo, detenção de contas em off-shores, participações sociais em empresas lucrativas, armas de caça de colecção, colecções de carros antigos, antiguidades catalogadas internacionalmente e não se lhes desconte nada nas materias colectáveis. Mas tudo isto de uma só vez até que os objectivos orçamentais estejam atingidos e o país volte a crescer. Nessa altura haverá em compensação, não só supressão deste esforço fiscal excepcional e voluntário, como um abaixamento dos impostos gerais (IVA, IRS e IRC) e supressão dos constrangimentos fiscais limitativos de um desenvolvimento harmoniosos da economia (ex. IMT, IMI, mais-valias indiscriminadas, liberalização dos arrendamentos urbanos, etc.).
             Só assim se justifica que se taxem os ricos que não são responsáveis pela crise. Aos outros, aos verdaderiros responsáveis, que se os faça pagar pelo mal que fizeram aos outros. Mas sem linchamentos, porque isso não é próprio de países civilizados.  
 
                                               ALBINO ZEFERINO  1/9/2011