quarta-feira, 6 de junho de 2018

A NOVA EUROPA


          Com a nomeação dos novos governos de Itália e de Espanha, a Europa está em remodelação profunda. Desaparecidos os antigos partidos que dividiam as sociedades em esquerda e direita e em redor dos quais os governos dos países europeus se iam formando sucessivamente, verifica-se hoje que a dicotomia entre o capitalismo e o estatismo como formas alternativas de condução das sociedades está em crise, tendo dado lugar a governos hibridos cujas composições privilegiam mais a legitimidade da maioria dos votos e menos as ideologias que os sustentam. Dito de outro modo, mais vale contar com apoios que impeçam as quedas imprevistas dos governos do que a coesão ideologica dos mesmos. Ou melhor ainda, às malvas com as promessas eleitorais em prol duma sustentabilidade governativa que permita avançar com acções concretas que desenvolvam as sociedades e as aproximem mais umas das outras. É isto a Europa de hoje. Traçadas as linhas essenciais de conduta das sociedades europeias através dos sucessivos tratados europeus cada vez mais integradores da sociedade europeia em geral, a Europa unida vai ficando progressivamente mais unida mesmo se as frentes anti-europeias colaborem directamente para essa integração. É esta a essência hoje dos governos de coligação que usam a politica europeia como desculpa para as acções menos ideologicas e mais pragmáticas dos seus governos.
           Senão vejamos. Que problemas são hoje os que mais preocupam as sociedades europeias: é a imigração descontrolada vinda do Mediterrâneo ou a manutenção dos minimos indispensáveis para viver? São as condições de vida dos filhos desocupados ou o trabalho precário dos trabalhadores? É a susbsistência do euro como factor de união dos europeus (e do reforço da solidaridade europeia) ou a independência serôdia de algumas regiões europeias? Muitos mais exemplos haveria para citar para constatar que as preocupações dos cidadãos europeus se centram muito mais hoje no seu desenvolvimento global face às pulsões desenvolvimentistas de regiões extra-europeias do que na defesa de ideologias politicas próprias dos romanticos de seculos passados. É, a meu ver, isto que explica o surgimento de governos de geringonça que, inaugurados em Portugal por um europeu pragmático e inescrupuloso, começam a despontar por essa Europa fora assustada com a velocidade com que os acontecimentos empurram os politicos para acções pragmáticas conducentes a uma progressiva união europeia assente mais em causas materiais do que em valores morais e éticos.
          A União europeia é hoje uma realidade insofismável. As esquerdas e as direitas anti-europeias assumiram já esta realidade e só por táctica politica não a reconhecem. Não se procure porem um fim ao processo integrador europeu. A UE está em permanente construcção mesmo se nalguns projectos possa parecer ter parado ou mesmo retrocedido. A vitória sobre a crise de 2008 é a prova disso. Sem as politicas europeias de apoio ao sector bancário (com destaque para o papel activo e preponderante do Reino Unido) e a condução criteriosa e determinada da Alemanha, a UE passou com distinção a sua prova de vida para os próximos tempos. Titubeante é certo, menos veloz para uns e muito depressa para outros, determinada para alguns, confusa e sem projecto consistente para outros, o certo é que está de boa saude e recomenda-se.

               ALBINO  ZEFERINO                                                                        6/6/2018

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