segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015
O CINISMO EUROPEU
Tal como nos clubes de futebol, a pertença à União Europeia obedece a uns formalismos que se aceitam sem discutir e sem procurar apurar da sua justificação. É como se fosse uma religião. Acredita-se ou não. Aceita-se ou rejeita-se. É o uso obrigatório do cachecol durante os jogos; é o gritar quando o nosso clube mete golo; é o dizer mal do árbitro quando ele apita conta nós; é o levar os miudos conosco quando começam a crescer; é a confraternização fraterna com desconhecidos quando são do mesmo clube; é o obcecado desejo de não poder deixar de ir ver o jogo mesmo quando há outros valores em causa; é tudo isto e o orgulho de pertencer ao melhor clube do mundo mesmo quando há dezenas de anos este não ganha um campeonato. Com a União Europeia é a mesma coisa. Pertencemos a um clube do qual não conhecemos as regras do jogo. Apenas nos interessa que o clube ganhe sempre e que nos traiga muitas alegrias. Efémeras é certo. Mas mesmo assim alegrias.
Ora nem sempre a UE nos traz as alegrias com que contamos. Tal como o nosso clube quando não ganha o campeonato. Mas mesmo assim não andamos a mudar de clube todos os anos só para fingir a nós próprios que somos sempre campeões. A UE está a passar por uma crise inédita (da qual de resto está a sair com sucesso) que a obrigou a reagir determinada e determinantemente contra os efeitos negativos que a iam destruindo. Desse exercicio resultaram consequencias mais ou menos dolorosas para alguns dos seus membros que se viram confrontados com a sua própria incapacidade em aceitar as regras necessárias para evitar o desmembramento da UE. Tres países mais débeis foram obrigados a pedir ajuda externa e um deles está agora a reclamar dessa mesma ajuda que pediu. Seria como se um adepto de um clube de futebol reclamasse dum penalti não porque o seu clube não tivesse sido acertadamente punido mas porque o reclamante não aceita o penalti como forma de penalização.
Esquecem-se os reclamantes e aqueles que os apoiam que a UE já se preparou para essas acções recalcitrantes e que portanto não irá ceder a chantagens ou a suplicas daqueles que, tendo incumprido, querem que os outros aceitem esse incumprimento como se fosse um cumprimento. Tal como se a rasteira que determinou o penalti nunca tivesse sido passada. O que vai acontecer à Grécia e a outros que como ela pretendem que os credores esqueçam as dividas, é que a UE vai deixar que o tempo passe e os obrigue a aceitar as regras que escolheram para viver em sociedade, ou então a desistir da sociedade que escolheram para viver. Assim vai ser e assim terá que ser. Ninguem obriga ninguem a gostar de futebol. Mas se gosta, então tem que aceitar as suas regras, que por vezes são discutiveis. Mas isso tambem faz parte do jogo.
ALBINO ZEFERINO 9/2/2015
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