terça-feira, 30 de outubro de 2018

ANGELA MERKEL


          Poucos terão reparado que neste fim de semana a Chanceler da Alemanha anunciou a sua saída do poder que ocupa há tres mandatos sucessivos e graças a quem portugueses, gregos, irlandeses e outros ainda podem dizer que têm um país.  Foi Angela Merkel quem impediu a implosão do euro na sequência da crise do subprime importada dos EUA e consequentemente permitiu a continuação da UE no seu peculiar processo de desenvolvimento.  Sem ela, ou melhor, sem a sua intervenção provavelmente Portugal e outros países da zona euro já não existiriam como Estados independentes, com os seus governos, os seus parlamentos os seus tribunais e os seus presidentes.  O que terá significado tal anuncio?
          A meu ver significou duas coisas: Merkel realizou que não conseguiria controlar os prováveis estragos que a saída do Reino Unido da UE vai causar à própria UE, à Europa e ao mundo.  E depois realizou tambem que a sua politica de aceitação incondicional de novos imigrantes na UE não estava a surtir o efeito que ela previu.  Bem pelo contrário.  A desejada integração pacifica de nova mão de obra barata na Europa não se está a verificar, trazendo atrás de si a implementação de politicas de exclusão social danosas para a democracia que ela defende.  A recente derrota da CDU no Sarre a favor do crescente AfD, foi a gota de água que levou Merkel a mudar de rumo.
         Significará isto que a anunciada saída de Angela Merkel do poder na Alemanha se traduzirá numa alteração substancial da politica da UE, e por conseguinte do futuro dos seus Estados Membros e da própria cidadania europeia? Não creio.  A democracia europeia está definitivamente enraizada na UE e nos seus EM para que a mudança de qualquer lider nacional possa afectar o seu natural desenvolvimento, mesmo tratando-se de uma das obreiras decisivas da Europa onde hoje vivemos e que nos enquadra substancialmente no seu seio.
          Angela Merkel nasceu na antiga Alemanha comunista, filha de um Pastor protestante e foi educada no rigor marxista e com o pragmatismo próprio dos luteranos. Frequentou escolas publicas (não havia outras), padeceu das dificuldades inerentes ao regime social onde estava inserida, não conheceu o Maio de 68, nem os seus excessos. Estudou um curso que nada lhe trouxe às suas preocupações sociais (é formada em Quimica), e só depois da queda do muro de Berlim é que apareceu nos corredores da politica alemã onde foi descoberta pelo seu mentor Helmut Kohl, que nunca mais a largou, até fazer dela a sua sucessora no partido e na chancelaria.  Angela Merkel é uma corredora de fundo e não deseja mais do que aquilo para que sempre trabalhou: um ideal de vida europeu.
           A meu ver, Angela Merkel vai pura e simplesmente mudar de agulha. Tendo-se assumido como herdeira de um dos constructores da Europa unida, Merkel não abandonará a politica, como quis fazer crer na breve e fugidia declaração que fez no passado fim de semana.  Face ao crescimento progressivo da extrema direita-alemã, Merkel vai prosseguir o seu ideal europeu a partir de outro patamar. O patamar europeu.  E vai conferir-lhe outra dinâmica, que tambem já está a ser desenhada há algum tempo.  Há algum tempo que se verifica um ligeiro entorse na forma como as decisões vêm a ser tomadas na UE.  Já não é a Comissão (cheia de contradições e de curto-circuitos) nem sequer o Parlamento europeu (cheio de inuteis e descartáveis politicos nacionais) quem apresenta as propostas para decisão dos Conselhos europeus.  É o próprio Conselho europeu que decide o que vai decidir, quando é que vai decidir e como é que vai decidir.  É o inter-governamentalismo a tomar a dianteira (já uma das primeiras consequencias do Brexit). Para isso precisa de um Presidente activo e com prestigio.  O actual presidente é um discreto polaco que ninguem conhece e que gasta o seu tempo a discutir com o presidente da Comissão qual deles é quem responde pela Europa, quando Trump, Putin ou Xi querem falar com a Europa.  O mandato do tal polaco presidente do Conselho europeu, que se chama Tusk, está a acabar, e eu não me admiraria se Merkel se apresentasse ao lugar, depois de devidamente substituida como Chanceler da Alemanha, claro está (nada de fugas à Barroso, próprias de países terceiro-mundistas e em degeneração acelerada).  A contenção dos lideres europeus nas recentes atitudes anti-europeias que vêm demonstrando (na imigração, na apreciação do Brexit, nos complexos de vizinhança, etc. etc.) a sua fraca e efémera legitimidade politica interna na maioria dos casos resultante de ocasionais coligações e até a vulgaridade institucional que apresentam, recomendam a eleiçao (escolha, nomeação) duma personalidade prestigiada, com provas dadas de indesmentivel competência e inigualável europeismo, para os chefiar e lhes indicar o caminho certo no momento certo e na ocasião oportuna, para que a UE possa algum dia ser a instituição com que os pais fundadores sonharam.
Inch Alah !


              ALBINO  ZEFERINO                                                                     30/10/2018

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