Como dizia Marcelo na sua sempre interessante charla televisiva dominical, está a formar-se uma enorme borrasca sobre as nossas cabeças que arrisca a tornar-se numa tempestade de proporções incalculáveis que bem se poderá meteorologicamente comparar a uma tempestade perfeita. Perfeita não pelos danos que poderá vir a causar nas pessoas e nos bens mas pela perfeição de que como fenómeno meteorológico se apresenta. Refiro-me naturalmente à evolução desta crise que não cessa de nos ameaçar, primeiro nas nossas bolsas, depois no nosso modo de vida e agora nas nossas expectativas.
A ameaça da saída da Grécia da zona euro por manifesta incapacidade dos gregos darem um rumo ao seu futuro como país inserido na linha da frente da intergração europeia veio trazer grandes incógnitas quanto ao futuro do projecto europeu tal como ele se desenvolveu nas últimas décadas. Pela primeira vez se coloca o problema de um recuo no processo integrador (não meras travagens como até agora se conheciam) que não deixará de abrir as portas a reflexões que em ultima análise poderão pôr em risco a continuidade do próprio projecto comunitário. Sabemos como ingleses e nórdicos em geral nunca aceitaram entusiasticamente esta mistura institucional com povos por eles considerados inferiores, mais próximos da barbárie africana do que da civilização anglo-saxónica. Esta crise que veio dos EUA mas que hoje é mundial entrou descaradamente no continente europeu através da banca da Europa do norte mas foi no sul, mais desprotegido e mais desprevenido, que maiores estragos causou. A situação da banca (e não só) em Espanha é desesperada e ninguem pode antecipar como se resolverá. O que se poderá afirmar desde já sem grande risco de errar é que Portugal, vizinho solitário e intervencionado internacionalmente (antigamente chamava-se protectorado), será seguramente atingido por esta tempestade que se avizinha a olhos vistos.
Perante esta ameaça real que enfrentamos, caberá interrogar-mo-nos se faz algum sentido prosseguirmos como se nada de extraordinário se estivesse a passar, discutindo uns com os outros como se estivessemos em campos opostos. Centremos as nossas atenções no cumprimento da melhor forma possivel das determinações da troika para que não sejamos abandonados à nossa sorte como a troika se prepara para fazer com os gregos. Imagine-mo-nos dentro duma traineira (daquelas da Nazaré), com mar encapelado ameaçando tempestade, discutindo com o patrão as orientações deste e não fazendo caso dos cabos que outros navios maiores e mais seguros nos queriam atirar para nos prender a eles, antes preocupados sobre se o patrão da embarcação deveria ter abrandado a velocidade ou guinado mais à esquerda para fugir das vagas ameaçadoras. Como reagiriam os nossos salvadores perante tanta inconsciencia? Recolhendo os cabos que pretendiam lançar-nos e deixando-nos sucumbir à tempestade perfeita que aí vinha. A barca grega já está a fundar-se. Não deixemos que o nosso arrastão nazareno se afunde tambem.
ALBINO ZEFERINO 26/7/2012