A gota de água que fez transbordar o copo foi a constatação da situação de desespero financeiro em que o novo governo espanhol encontrou o país, afogado em dívidas e incapaz de reformar o seu sector financeiro. Recusando formular um pedido de ajuda internacional semelhante ao grego e ao portugues (de resto impossivel de garantir dada a extensão dos recursos que exigiria) os espanhois vieram colocar um ponto final no esforço desesperado com que FMI, Comissão Europeia e Banco Central Europeu ensaiavam, sem verdadeira convicção, salvar a Europa do descalabro que a crise financeira global criara no continente europeu. As diferentes visões com que FMI e BCE encaravam os vários programas de apoio às economias em dificuldades tornaram cada vez mais dificil a definição de uma estratégia global de salvamento economico-financeiro do euro, ainda em fase experimental após 15 anos de vida.
A Comunidade europeia foi concebida como um processo integrador em permanente desenvolvimento, com avanços e recuos lentos (feito por vezes até a velocidades distintas) onde o euro constituia um motor fundamental de aproximação das economias dos vários Estados Membros, que, uma vez posto em causa, irá determinar uma paragem abrupta do processo de desenvolvimento europeu e quiçá comprometer o projecto por muito tempo. O regresso definitivo às moedas nacionais (progressivo ou abrupto, logo se verá) terá consequencias fatais para os países mais débeis, como Portugal, que, privado de uma moeda comum, muito dificilmente se irá aguentar sem sobressaltos no mundo globalizado de hoje. Com uma economia fortemente dependente das trocas exteriores, Portugal (e outros) deixará de poder contar com os apoios internacionais de que hoje beneficia por pertencer a um clube de ricos para passar a contar exclusivamente com os seus próprios recursos que, como todos temos a noção, são escassos e limitadores de um desenvolvimento económico e social ao qual nos habituamos desde há já longos anos.
Apesar de podermos continuar como membros da Comunidade europeia (não creio que a instituição acabe como tal, nem que Portugal se veja forçado a sair) passaremos a constituir um Estado limitrofe, fortemente dependente dos interesses alheios e sujeitos às contingências do momento, sem defesas e sem estratégia própria de desenvolvimento. Verificar-se-à um crescente abandono de cérebros, um aumento generalizado da pobreza (própria e alheia) e a continuada hemorragia de empregos, substituidos por actividades pontuais marginais, como a produção de bens artesanais não indispensáveis e a ausencia de investigação cientifica de ponta. O turismo será sempre uma actividade lucrativa mas tambem reduzida às excursões para reformados das classes mais baixas ou à promoção de eventos de massas (concertos de rock, encontros de motards ou campeonatos de surf). A emigração das classes trabalhadoras aumentará e teremos mais africanos, brasileiros, asiáticos e pessoal do Leste que virão à busca de sol e de civilização que não encontram nos seus respectivos países. A criminalidade aumentará e a desorganização social tambem. Os ricos deixarão de existir e torna-nos-emos numa Cuba da Europa. Passaremos a comprar nas lojas dos chineses e a abastecer-mo-nos nos mercados locais (os supermercados transformar-se-ão em grandes souks como no norte de África). Diminuirá a circulação rodoviária e passaremos a viajar mais de autocarro (cheios, mal-cheirosos e sem horários) como em África. A av.da Liberdade será privatizada e vendida aos angolanos. Os serviços publicos e as escolas funcionarão esporadicamente e o SNS acabará. Assim será o Portugal do futuro numa Europa desmembrada.
ALBINO ZEFERINO 22/7/2012
Meu caro,
ResponderEliminarCameron jamais disse que o Reino Unido iria abandonar a U.E., ideia que Nigel Farage contraria e cuja contra-argumentação desenvolveu num artigo do "Daily Mail" (vd. http://www.dailymail.co.uk/debate/article-2176010/Under-David-Cameron-Conservatives-Britain-leave-European-Union.html?ito=feeds-newsxml)
Escreve, pois, Farage, parafraseando o PM britânico:
“I think it would be bad for Britain,” he says. “When I look at what is in our national interest, we are not some country that looks in on ourself or retreats from the world. Britain’s interest – trading a vast share of our GDP – is to be in those markets. Not just buying, selling, investing, receiving investment but also helping to write the rules. If we were outside, we wouldn’t be able to do that.”
É claro que a concepção britânica da Europa é a de uma vasta zona de livre-câmbio e não de outra coisa, longe, portanto, do conceito de "união", mas isso já nós sabemos desde há muito.
Para mim a Europa está morta e bem morta, mas por outras razões: deixou de haver qualquer espírito de solidariedade e de entre-ajuda entre os EM's. É o salve-se quem puder. Cada um por si e o último que feche a porta. A meu ver, o projecto político é um não-projecto e como tal inexequível.
Já agora, como se sabe, a solução da crise é política e não financeira. Jamais o foi.