terça-feira, 17 de julho de 2012

A EUROPEIZAÇÃO DA CRISE


 Muito se tem falado das dívidas publicas dos Estados e das formas de as combater sem fazer ideia do que falamos. Os Estados são como as empresas e estas são como as pessoas. Com defeitos, com vícios e com dívidas. Sem dinheiro nada se pode fazer senão viver da caridade. É preciso dinheiro para comprar aquilo de que necessitamos e é preciso dinheiro para investir naquilo de que vivemos. Se não temos dinheiro vamos pedi-lo emprestado. Para isso servem os bancos cujo negócio é precisamente esse: emprestar dinheiro. Se os bancos porém emprestam o dinheiro que não é seu (mas dos depositantes) sem se assegurarem da possibilidade do devedor pagar as suas dívidas, então o sistema entra em crise. E é por isso que Portugal está em crise. 
                    Na onda dos investimentos resultantes da entrada dos fundos estruturais comunitários em Portugal, viveu-se a chamada época doirada do século XX. Isso já tinha acontecido no período da descoberta do oiro no Brasil e antes ainda na época dos Descobrimentos. Porém, tal como então, depois da fartura veio a fome. Desaparecido o dinheiro comunitário a fundo perdido, os portugas, habituados à vida fácil, começaram a acorrer aos bancos que, tambem mal habituados a tanto dinheiro que circulava, emprestavam a torto e a direito sem cuidar de verificar se os credores tinham possibilidade de pagar as dívidas que alegremente contraíam. E assim veio a crise. De repente, sem avisar, tal como a doença que insidiosamente se instala no corpo do doente sem prevenir.
                    Preocupados com o risco sistémico (sempre ele) os nossos companheiros do euro logo acorreram com dinheiro que emprestaram, mas desta vez na condição de o pagarmos, assegurando-se através de um programa de salvação nacional (é disto que o MoU trata) de que fariamos as reformas necessárias para endireitar o país e assim criar as condições para esse pagamento se realizar. Outros países beneficiários dos fundos a fundo perdido (Grécia, Irlanda) já tinham dado sinais de descontrolo e outros ainda (Espanha, Chipre e a sempre descontrolada Itália) ameaçavam seguir-se-lhes. Primeiro a Grécia e agora Portugal começaram a dar sinais de não conseguir cumprir os compromissos da troika, deixando alemães e franceses de cabeça perdida. O que fazer, perguntam uns aos outros assustados: lançar eurobonds mutualizando as dívidas? Não! Respondem Schauble e Merkel; Talvez, dizem agora os franceses pela boca de Hollande. Expulsar os prevaricadores do euro? Nunca, gritam todos em unissono.  E assim chegamos a um impasse com a Espanha agora a marcar o ritmo das preocupações europeias. 
                    Ensaiando uma tentativa de solução globalizada (ou seja, em que todos estejam de acordo) Junker, Barroso, Draghi e Van Rompuy elaboraram um pequeno memorando cuja discussão tem sido empurrada de Conselho para Conselho mas que é, a meu ver, a única hipótese de trabalho possivel. Trata-se de uma espécie de road map onde se prevêm medidas concretas de impacto colectivo que talvez possam (se aceites por todos) servir de base para uma nova Europa, mais integrada, mais solidária e portanto mais forte. Propõem eles:
- a criação de uma supervisão bancária a nível europeu;
- o estabelecimento de uma garantia de depósitos comum;
- passos em direcção à mutualização das dívidas europeias;
- a promoção de um crescimento sustentável, do emprego e da competitividade; 
- e finalmente, o exercício conjunto da soberania nas políticas comuns.
                    Embora o documento aborde temas concretos que pela sua menor profundidade penso possam vir a ser adoptados (supervisão bancária e garantia de depósitos) já a mutualização da dívida ou o exercício conjunto da soberania nas políticas comuns não creio que sejam de fácil implementação. Sem um completo saneamento financeiro dos países intervencionados, não creio que alemães, holandeses, finlandeses e outros estejam dispostos a abrir os cordões às suas bolsas para pagarem os excessos em que países perdulários e desorganizados como a Grécia e Portugal se lançaram nos últimos anos e que deixaram os seus concidadãos a pão e laranjas.

                                                   ALBINO ZEFERINO                      17/7/2012 

1 comentário:

  1. (...) Revejo-me em quase tudo o que aqui diz e acrescento: é importante (para além de um controlo eficaz das contas e de uma economia sustentada) apostar na educação!
    E há tantas formas de o fazer… com mais ou menos criatividade, com empenho ! mas será que isso interessará a muitos, aliás a quem tem o poder? pergunto-me ?
    Com pessoas educadas e com mais conhecimento, podemos esperar qualidade de vida ; e para os mais economicistas, melhor controlo dos gastos … e da divida… e podemos também contar com maior criação e riqueza.
    Deixo pois uma questão : por onde começar? Pelo topo da pirâmide ou pela base?
    Bjs, até breve
    Teresa

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