A recente noticia de que a situação financeira do
país já estaria em condições de nos proporcionar o recurso normal aos
mercados financeiros dos quais temos estado afastados há quase dois
anos na sequencia do pedido de ajuda financeira excepcional que o
governo Sócrates se viu forçado a pedir em resultado da sua governação
descuidada e laxista, trouxe aos espiritos lusitanos uma espécie de
contrição (eu diria até de esperança) relativamente à actual
governação. Afinal estes gajos (Relvas, Portas, Passos, Gaspar e
quejandos) não são tão incompetentes como os jornalistas, comunistas e
socialistas os pintavam, diz a malta em surdina. A ausencia de
reacções por parte dos habituais denegridores governativos é
sintomática da surpresa que o anuncio publico de tal façanha lhes
causou. O próprio partido socialista não conseguiu esconder o
rebentamento do furunculo que a noticia causou nas hostes cor de rosa,
estando já anunciados congressos e moções de confiança partidárias
para breve. Antecipa-se a entrada do vitorioso açoriano Carlos César
nas lides continentais qual Cipião africano desejoso de unir os
socialistas tal como o romano Julio César fez há dois mil anos. "Vene,
vidi, vixit" sussurra-lhe o autarca Costa à espera da saída de Cavaco.
Os tempos estão a mudar depressa. Tudo isto para significar que Passos
e Portas ganharam a legislatura, mau grado a espectável derrota do PSD
nas autárquicas.
Mas a tal noticia justificará assim tanto alarido?
A meu ver nem tanto. Sendo o acesso aos mercados um objectivo
fundamental da politica financeira seguida até agora, não é nem por si
só suficiente, nem por si só o objectivo único para a solução do grave
problema estrutural que nos aflige. Há que assegurar que esse acesso
aos mercados seja consistente (ou seja, uma regra e não uma excepção
fruto de condicionalismos externos acidentais) e que seja acompanhado
de uma reforma estrutural do Estado (a famosa refundação) que não
permita novos sobressaltos como aquele que a recente crise provocou no
nosso país. Ora para isso ainda falta muito. As privatizações das
empresas publicas mais problemáticas (TAP, RTP; CGD, Águas de
Portugal, empresas de transporte publico, etc.etc.), a reestruturação
de sectores vitais para a economia nacional (função publica,
tribunais, ensino publico, hospitais, etc.etc.), o desmantelamento de
tabus constitucionais limitativos do desenvolvimento económico
(legislação laboral, garantias constitucionais de efeito económico,
reforma administrativa do país etc.etc.), erradicação dos factores
favorecedores da corrupção através do fortalecimento dos reguladores
económicos e da punição rápida e exemplar dos prevaricadores,
alteração das mentalidades tacanhas no sentido duma maior abertura dos
espiritos através de politicas culturais e educativas mais modernas e
abertas e maior contacto entre os agentes portugueses e os seus
congéneres europeus, são certamente sectores onde ainda há muito que
fazer e onde os socialistas (unica alternativa viável de governo)
devem ser chamados a colaborar em prol de um país melhor, mais moderno
e mais digno.
A receita parece ser simples. O doente é que se tem
mostrado rebelde. Será que os médicos não encontrarão meios de curar o
doente mesmo se ele, por ignorancia ou desatenção, julgar que não
precisa de tantos remédios nem de tantos cuidados. Há que
precaver-mo-nos disso.
ALBINO ZEFERINO
26/1/2013
sábado, 26 de janeiro de 2013
quinta-feira, 17 de janeiro de 2013
A ESTRATÉGIA DA ABELHA
Li esta semana no "Economist" que dos 10 países
que se prevê registem no mundo maior subida do PNB em 2013, quatro são
de língua portuguesa. Macau em 1º lugar, Angola em 5º, Timor-Leste em
8º e Moçambique em 10º. Tirando Macau, todos os outros têm petróleo.
Dir-se-á que a estratégia de aproximação áqueles "irmãos" passaria
assim mais pela Galp do que pelo MNE. E tomara a Galp cumprir com as
obrigações de exploração que se comprometeu no Tupi no Brasil, dirão
os mais cépticos. A mim parece-me contudo que a coisa vai muito para
além disso. Tratando-se de países em desenvolvimento acelerado, todos
eles com necessidades básicas por satisfazer, competiria ao governo
portugues lançar uma campanha activa de aproximação no sentido de
estabelecer com as autoridades locais (na mesma lingua e seguindo
procedimentos comuns a todos) protocolos e acordos de cooperação
reforçada em todas as áreas onde a tecnologia e o know- how portugues
fosse mais útil às respectivas populações do que as habituais
encomendas de chave na mão próprias dos processos neocolonialistas
europeus.
Num momento em que Portugal atravessa a maior
recessão vivida no século, onde o desemprego não cessa de aumentar
(sobretudo nos jovens licenciados), as falências de empresas
(sobretudo PME´s) não páram, os sacrificios pedidos aos portugueses a
atingir o nível do insuportável, o que faz o AICEP e o MNE perante
isto? Não seria de aproveitar esta abertura para criar grupos de
trabalho interdisciplinares (onde coubessem produtores, distribuidores
e vendedores de um lado e compradores, distribuidores e consumidores
do outro) um por cada país visado, coordenados politicamente pelo MNE
(através do AICEP) e com o apoio das respectivas embaixadas de
Portugal (que teriam que ser reforçadas em conformidade) que pudessem
fazer levantamentos concretos e quantificados das necessidades que os
portugueses pudessem satisfazer nas depauperadas economias daqueles
países, para depois se estabelecerem os protocolos de cooperação que
formalizassem e cobrissem juridicamente o que ficasse negociado? Seria
bom para eles que já nos conhecem e para nós que poderiamos escoar
mais facilmente os nossos produtos.
Dr. Portas deixe-se de politiquices caseiras e
trate de pôr o seu ministério a trabalhar em prol do país e não em
prol de si próprio e dos seus agentes. Fixe uma estratégia com os
líderes desses países, articule com eles a melhor forma de cooperar,
estabeleça os mecanismos para uma cooperação eficaz e produtiva e
ponha essa malta a trabalhar para justificar o que recebe do orçamento
do Estado, cada vez mais reduzido e esburacado.
ALBINO ZEFERINO
17/1/2013
que se prevê registem no mundo maior subida do PNB em 2013, quatro são
de língua portuguesa. Macau em 1º lugar, Angola em 5º, Timor-Leste em
8º e Moçambique em 10º. Tirando Macau, todos os outros têm petróleo.
Dir-se-á que a estratégia de aproximação áqueles "irmãos" passaria
assim mais pela Galp do que pelo MNE. E tomara a Galp cumprir com as
obrigações de exploração que se comprometeu no Tupi no Brasil, dirão
os mais cépticos. A mim parece-me contudo que a coisa vai muito para
além disso. Tratando-se de países em desenvolvimento acelerado, todos
eles com necessidades básicas por satisfazer, competiria ao governo
portugues lançar uma campanha activa de aproximação no sentido de
estabelecer com as autoridades locais (na mesma lingua e seguindo
procedimentos comuns a todos) protocolos e acordos de cooperação
reforçada em todas as áreas onde a tecnologia e o know- how portugues
fosse mais útil às respectivas populações do que as habituais
encomendas de chave na mão próprias dos processos neocolonialistas
europeus.
Num momento em que Portugal atravessa a maior
recessão vivida no século, onde o desemprego não cessa de aumentar
(sobretudo nos jovens licenciados), as falências de empresas
(sobretudo PME´s) não páram, os sacrificios pedidos aos portugueses a
atingir o nível do insuportável, o que faz o AICEP e o MNE perante
isto? Não seria de aproveitar esta abertura para criar grupos de
trabalho interdisciplinares (onde coubessem produtores, distribuidores
e vendedores de um lado e compradores, distribuidores e consumidores
do outro) um por cada país visado, coordenados politicamente pelo MNE
(através do AICEP) e com o apoio das respectivas embaixadas de
Portugal (que teriam que ser reforçadas em conformidade) que pudessem
fazer levantamentos concretos e quantificados das necessidades que os
portugueses pudessem satisfazer nas depauperadas economias daqueles
países, para depois se estabelecerem os protocolos de cooperação que
formalizassem e cobrissem juridicamente o que ficasse negociado? Seria
bom para eles que já nos conhecem e para nós que poderiamos escoar
mais facilmente os nossos produtos.
Dr. Portas deixe-se de politiquices caseiras e
trate de pôr o seu ministério a trabalhar em prol do país e não em
prol de si próprio e dos seus agentes. Fixe uma estratégia com os
líderes desses países, articule com eles a melhor forma de cooperar,
estabeleça os mecanismos para uma cooperação eficaz e produtiva e
ponha essa malta a trabalhar para justificar o que recebe do orçamento
do Estado, cada vez mais reduzido e esburacado.
ALBINO ZEFERINO
17/1/2013
terça-feira, 15 de janeiro de 2013
ESTAMOS METIDOS NUMA GRANDE ALHADA
Como diz Miguel Sousa Tavares na sua excelente
crónica do "Expresso" deste fim de semana, "estamos metidos numa
grandessíssima alhada!" Escreve o analista: "...se foi o Estado que
pediu dinheiro emprestado porque gastava mais do que tinha, é o Estado
que tem de cortar nas suas despesas e não a economia civil que tem de
cortar nos seus rendimentos." E conclui que o Estado faz precisamente
o contrário: corta nas pessoas e mantém o Estado despesista, enredado
na teia dos interesses corporativos que na sua ânsia de manter
privilégios ataca os mais fracos e desprotegidos que não têm
capacidade de reacção, deixando imunes os fortes e influentes que
podem derrubar os governos, rematando certeiramente que "...António
José Seguro, tendo-se deixado de veleidades de "estadista", já só
parece ter olhos para surfar o tsunami dos descontentes e substituir
Pedro em S. Bento." Para fazer exactamente a mesma coisa que o outro
faz, acrescentaria eu. Porque quem manda em Portugal são os nossos
credores e não o governo. É rigorosamente indiferente para Merkel e
para os outros quem esteja ao leme em Portugal. Comunagem é que não!
Mas esses encarregam-se eles próprios de se auto-excluir.
O relatório do FMI diz exactamente isto sem o
dizer expressamente. A brutalidade e insensibilidade social (como
agora se diz em Portugal) com que vem redigido traduz a natureza de
ultimato do documento: " Ou fazem como aqui está ou acabou-se o
dinheiro" parece vir lá escrito para quem leia o relatório com
cuidado. E nós não nos podemos dar ao luxo de recusar empréstimos
bonificados e certos, nem mesmo quando se diga (será lá para Setembro)
que já estaremos em condições de regressar aos mercados. A
volatilidade dos mercados e a instabilidade económica que ainda
apresentaremos nessa altura não darão garantias a ninguem de que
pagaremos pontual e integralmente os compromissos a que nos
obrigarmos. Não teremos outro remédio senão prolongar o prazo de
intervenção estrangeira nas condições que nessa altura os nossos
credores julgarem adequadas. A vida é como é e não como gostariamos
que fosse.
Antevejo assim (como Sousa Tavares) um ano
dificil e sacrificado. Até Março, data previsivel da acordão do TC
dando razão ás duvidas do reformado Cavaco acerca da
inconstitucionalidade das normas em análise, viveremos no mesmo limbo
do ano passado. Portas diz, Relvas desdiz, Passos desfaz. A partir daí
a batata quente cairá em cima do reformado presidente que convocará
eleições antecipadas face á intransigencia de Portas em aceitar mais
impostos para substituir as verbas retiradas do orçamento pela douta
decisão dos juizes constitucionalistas. Aterrado em S.Bento depois de
uma previsivel vitória socialista, Seguro vai apressar-se a renegociar
a dívida e a prolongar o prazo do seu pagamento, conforme tem
anunciado que o fará. Mais austeridade nos será exigida e mais
soberania teremos que ceder. Mais tempo de intervenção e menos
capacidade de manobra. Mais cedências e menos liberdade. Mais
autoridade e menos democracia. "É a vida!" dirá o provável substituto
de Cavaco em Belém. Já estamos acostumados, direi eu!
ALBINO ZEFERINO
15/1/2013
crónica do "Expresso" deste fim de semana, "estamos metidos numa
grandessíssima alhada!" Escreve o analista: "...se foi o Estado que
pediu dinheiro emprestado porque gastava mais do que tinha, é o Estado
que tem de cortar nas suas despesas e não a economia civil que tem de
cortar nos seus rendimentos." E conclui que o Estado faz precisamente
o contrário: corta nas pessoas e mantém o Estado despesista, enredado
na teia dos interesses corporativos que na sua ânsia de manter
privilégios ataca os mais fracos e desprotegidos que não têm
capacidade de reacção, deixando imunes os fortes e influentes que
podem derrubar os governos, rematando certeiramente que "...António
José Seguro, tendo-se deixado de veleidades de "estadista", já só
parece ter olhos para surfar o tsunami dos descontentes e substituir
Pedro em S. Bento." Para fazer exactamente a mesma coisa que o outro
faz, acrescentaria eu. Porque quem manda em Portugal são os nossos
credores e não o governo. É rigorosamente indiferente para Merkel e
para os outros quem esteja ao leme em Portugal. Comunagem é que não!
Mas esses encarregam-se eles próprios de se auto-excluir.
O relatório do FMI diz exactamente isto sem o
dizer expressamente. A brutalidade e insensibilidade social (como
agora se diz em Portugal) com que vem redigido traduz a natureza de
ultimato do documento: " Ou fazem como aqui está ou acabou-se o
dinheiro" parece vir lá escrito para quem leia o relatório com
cuidado. E nós não nos podemos dar ao luxo de recusar empréstimos
bonificados e certos, nem mesmo quando se diga (será lá para Setembro)
que já estaremos em condições de regressar aos mercados. A
volatilidade dos mercados e a instabilidade económica que ainda
apresentaremos nessa altura não darão garantias a ninguem de que
pagaremos pontual e integralmente os compromissos a que nos
obrigarmos. Não teremos outro remédio senão prolongar o prazo de
intervenção estrangeira nas condições que nessa altura os nossos
credores julgarem adequadas. A vida é como é e não como gostariamos
que fosse.
Antevejo assim (como Sousa Tavares) um ano
dificil e sacrificado. Até Março, data previsivel da acordão do TC
dando razão ás duvidas do reformado Cavaco acerca da
inconstitucionalidade das normas em análise, viveremos no mesmo limbo
do ano passado. Portas diz, Relvas desdiz, Passos desfaz. A partir daí
a batata quente cairá em cima do reformado presidente que convocará
eleições antecipadas face á intransigencia de Portas em aceitar mais
impostos para substituir as verbas retiradas do orçamento pela douta
decisão dos juizes constitucionalistas. Aterrado em S.Bento depois de
uma previsivel vitória socialista, Seguro vai apressar-se a renegociar
a dívida e a prolongar o prazo do seu pagamento, conforme tem
anunciado que o fará. Mais austeridade nos será exigida e mais
soberania teremos que ceder. Mais tempo de intervenção e menos
capacidade de manobra. Mais cedências e menos liberdade. Mais
autoridade e menos democracia. "É a vida!" dirá o provável substituto
de Cavaco em Belém. Já estamos acostumados, direi eu!
ALBINO ZEFERINO
15/1/2013
quinta-feira, 10 de janeiro de 2013
AINDA O ORÇAMENTO GERAL DO ESTADO
Ratificado pelo chefe do Estado entrou em vigor há
uma semana o orçamento de Estado para 2013. Apesar da violencia fiscal
que reflecte e das reacções corporativas que suscita e que a imprensa
livre fez ecoar estrepitosamente, muitas pessoas respiraram de alivio
receosas de que um pedido presidencial ao Tribunal constitucional para
uma apreciação preventiva da sua constitucionalidade causasse um
terramoto na precária situação financeira em que vivemos. Cavaco
porem, fazendo jus ao seu conhecido caráter salomónico, resolveu
prudentemente solicitar ao tribunal uma apreciação constitucional
sucessiva, não impedindo assim a entrada em vigor na data prevista do
famigerado documento. Mas afinal porque razão o orçamento é causa de
instabilidade politica quando deverá pelo contrário constituir um
instrumento de trabalho governativo que assegure estabilidade à gestão
da coisa publica?
Em Portugal as coisas nunca são o que parecem e
parecem sempre aquilo que não são. De instrumental o orçamento do
Estado passou a ser um objecto essencial e substancial da governação
em Portugal, como se sem ele o país parasse ou morresse de inanição. É
através do orçamento que o governo define as suas opções estratégicas
e marca o ritmo do desenvolvimento do país. Dá-se porem o caso de que
Portugal está intervencionado e que é o programa da troika que define
a acção governativa. O governo limita-se a dar (ou não) cumprimento às
determinações troikianas sob pena de lhe ser cortado o fluxo
financeiro necessário para pagar salários e fazer as despesas
necessárias para a malta sobreviver (pagar subsidios, manter serviços
publicos a funcionar ou pagar pensões). O orçamento serve em Portugal
apenas para fixar o ritmo da execução das reformas exigidas pela
troika. Tendo aderido ao tratado orçamental (com uma rapidez
estonteante) o governo portugues já não precisa do orçamento para
definir as suas opções. Até porque as opções já não são suas. Tem é
que as executar, fingindo que negoceia, que cede, que transige ou
altera em função das negociações que mantém com os sindicatos e com as
oposições. De facto, o que o governo faz é tentar executar as reformas
exigidas pela troika, sem grandes reacções nem obstáculos que
perturbem o normal funcionamento das instituições. Tudo o resto é
paisagem.
Para que os portugueses (nem o seu governo) não se
esqueçam do que ainda falta ser feito, o FMI publicou, já este ano de
2013, o relatório sobre Portugal, onde afirma claramente a necessidade
de diminuir as despesas publicas nos sectores mais gastadores do
Estado: ensino (despedimento de professores em excesso, concentração
de alunos e subida dos níveis de exigencia pedagógica, reorganização
dos programas de ensino no sentido da poupança de recursos,etc.),
funcionalismo publico (reorganização administrativa do Estado, redução
drástica dos excedentários,abaixamento das retribuições, aumento do
nível profissional dos seus agentes, etc.) e segurança social (redução
dos beneficiários de apoio social, cortes nas pensões, racionalização
dos beneficios sociais, etc.) entre outros. Não se pense que a
recuperação do país pode ser feita de outro modo. Quem assim julga ou
é mentiroso ou ignorante.
ALBINO ZEFERINO
10/1/2013
uma semana o orçamento de Estado para 2013. Apesar da violencia fiscal
que reflecte e das reacções corporativas que suscita e que a imprensa
livre fez ecoar estrepitosamente, muitas pessoas respiraram de alivio
receosas de que um pedido presidencial ao Tribunal constitucional para
uma apreciação preventiva da sua constitucionalidade causasse um
terramoto na precária situação financeira em que vivemos. Cavaco
porem, fazendo jus ao seu conhecido caráter salomónico, resolveu
prudentemente solicitar ao tribunal uma apreciação constitucional
sucessiva, não impedindo assim a entrada em vigor na data prevista do
famigerado documento. Mas afinal porque razão o orçamento é causa de
instabilidade politica quando deverá pelo contrário constituir um
instrumento de trabalho governativo que assegure estabilidade à gestão
da coisa publica?
Em Portugal as coisas nunca são o que parecem e
parecem sempre aquilo que não são. De instrumental o orçamento do
Estado passou a ser um objecto essencial e substancial da governação
em Portugal, como se sem ele o país parasse ou morresse de inanição. É
através do orçamento que o governo define as suas opções estratégicas
e marca o ritmo do desenvolvimento do país. Dá-se porem o caso de que
Portugal está intervencionado e que é o programa da troika que define
a acção governativa. O governo limita-se a dar (ou não) cumprimento às
determinações troikianas sob pena de lhe ser cortado o fluxo
financeiro necessário para pagar salários e fazer as despesas
necessárias para a malta sobreviver (pagar subsidios, manter serviços
publicos a funcionar ou pagar pensões). O orçamento serve em Portugal
apenas para fixar o ritmo da execução das reformas exigidas pela
troika. Tendo aderido ao tratado orçamental (com uma rapidez
estonteante) o governo portugues já não precisa do orçamento para
definir as suas opções. Até porque as opções já não são suas. Tem é
que as executar, fingindo que negoceia, que cede, que transige ou
altera em função das negociações que mantém com os sindicatos e com as
oposições. De facto, o que o governo faz é tentar executar as reformas
exigidas pela troika, sem grandes reacções nem obstáculos que
perturbem o normal funcionamento das instituições. Tudo o resto é
paisagem.
Para que os portugueses (nem o seu governo) não se
esqueçam do que ainda falta ser feito, o FMI publicou, já este ano de
2013, o relatório sobre Portugal, onde afirma claramente a necessidade
de diminuir as despesas publicas nos sectores mais gastadores do
Estado: ensino (despedimento de professores em excesso, concentração
de alunos e subida dos níveis de exigencia pedagógica, reorganização
dos programas de ensino no sentido da poupança de recursos,etc.),
funcionalismo publico (reorganização administrativa do Estado, redução
drástica dos excedentários,abaixamento das retribuições, aumento do
nível profissional dos seus agentes, etc.) e segurança social (redução
dos beneficiários de apoio social, cortes nas pensões, racionalização
dos beneficios sociais, etc.) entre outros. Não se pense que a
recuperação do país pode ser feita de outro modo. Quem assim julga ou
é mentiroso ou ignorante.
ALBINO ZEFERINO
10/1/2013
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