Como diz Miguel Sousa Tavares na sua excelente
crónica do "Expresso" deste fim de semana, "estamos metidos numa
grandessíssima alhada!" Escreve o analista: "...se foi o Estado que
pediu dinheiro emprestado porque gastava mais do que tinha, é o Estado
que tem de cortar nas suas despesas e não a economia civil que tem de
cortar nos seus rendimentos." E conclui que o Estado faz precisamente
o contrário: corta nas pessoas e mantém o Estado despesista, enredado
na teia dos interesses corporativos que na sua ânsia de manter
privilégios ataca os mais fracos e desprotegidos que não têm
capacidade de reacção, deixando imunes os fortes e influentes que
podem derrubar os governos, rematando certeiramente que "...António
José Seguro, tendo-se deixado de veleidades de "estadista", já só
parece ter olhos para surfar o tsunami dos descontentes e substituir
Pedro em S. Bento." Para fazer exactamente a mesma coisa que o outro
faz, acrescentaria eu. Porque quem manda em Portugal são os nossos
credores e não o governo. É rigorosamente indiferente para Merkel e
para os outros quem esteja ao leme em Portugal. Comunagem é que não!
Mas esses encarregam-se eles próprios de se auto-excluir.
O relatório do FMI diz exactamente isto sem o
dizer expressamente. A brutalidade e insensibilidade social (como
agora se diz em Portugal) com que vem redigido traduz a natureza de
ultimato do documento: " Ou fazem como aqui está ou acabou-se o
dinheiro" parece vir lá escrito para quem leia o relatório com
cuidado. E nós não nos podemos dar ao luxo de recusar empréstimos
bonificados e certos, nem mesmo quando se diga (será lá para Setembro)
que já estaremos em condições de regressar aos mercados. A
volatilidade dos mercados e a instabilidade económica que ainda
apresentaremos nessa altura não darão garantias a ninguem de que
pagaremos pontual e integralmente os compromissos a que nos
obrigarmos. Não teremos outro remédio senão prolongar o prazo de
intervenção estrangeira nas condições que nessa altura os nossos
credores julgarem adequadas. A vida é como é e não como gostariamos
que fosse.
Antevejo assim (como Sousa Tavares) um ano
dificil e sacrificado. Até Março, data previsivel da acordão do TC
dando razão ás duvidas do reformado Cavaco acerca da
inconstitucionalidade das normas em análise, viveremos no mesmo limbo
do ano passado. Portas diz, Relvas desdiz, Passos desfaz. A partir daí
a batata quente cairá em cima do reformado presidente que convocará
eleições antecipadas face á intransigencia de Portas em aceitar mais
impostos para substituir as verbas retiradas do orçamento pela douta
decisão dos juizes constitucionalistas. Aterrado em S.Bento depois de
uma previsivel vitória socialista, Seguro vai apressar-se a renegociar
a dívida e a prolongar o prazo do seu pagamento, conforme tem
anunciado que o fará. Mais austeridade nos será exigida e mais
soberania teremos que ceder. Mais tempo de intervenção e menos
capacidade de manobra. Mais cedências e menos liberdade. Mais
autoridade e menos democracia. "É a vida!" dirá o provável substituto
de Cavaco em Belém. Já estamos acostumados, direi eu!
ALBINO ZEFERINO
15/1/2013
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