terça-feira, 15 de janeiro de 2013

ESTAMOS METIDOS NUMA GRANDE ALHADA

Como diz Miguel Sousa Tavares na sua excelente 
crónica do "Expresso" deste fim de semana, "estamos metidos numa 
grandessíssima alhada!" Escreve o analista: "...se foi o Estado que 
pediu dinheiro emprestado porque gastava mais do que tinha, é o Estado 
que tem de cortar nas suas despesas e não a economia civil que tem de 
cortar nos seus rendimentos." E conclui que o Estado faz precisamente 
o contrário: corta nas pessoas e mantém o Estado despesista, enredado 
na teia dos interesses corporativos que na sua ânsia de manter 
privilégios ataca os mais fracos e desprotegidos que não têm 
capacidade de reacção, deixando imunes os fortes e influentes que 
podem derrubar os governos, rematando certeiramente que "...António 
José Seguro, tendo-se deixado de veleidades de "estadista", já só 
parece ter olhos para surfar o tsunami dos descontentes e substituir 
Pedro em S. Bento." Para fazer exactamente a mesma coisa que o outro 
faz, acrescentaria eu. Porque quem manda em Portugal são os nossos 
credores e não o governo. É rigorosamente indiferente para Merkel e 
para os outros quem esteja ao leme em Portugal. Comunagem é que não! 
Mas esses encarregam-se eles próprios de se auto-excluir. 
O relatório do FMI diz exactamente isto sem o 
dizer expressamente. A brutalidade e insensibilidade social (como 
agora se diz em Portugal) com que vem redigido traduz a natureza de 
ultimato do documento: " Ou fazem como aqui está ou acabou-se o 
dinheiro" parece vir lá escrito para quem leia o relatório com 
cuidado. E nós não nos podemos dar ao luxo de recusar empréstimos 
bonificados e certos, nem mesmo quando se diga (será lá para Setembro) 
que já estaremos em condições de regressar aos mercados. A 
volatilidade dos mercados e a instabilidade económica que ainda 
apresentaremos nessa altura não darão garantias a ninguem de que 
pagaremos pontual e integralmente os compromissos a que nos 
obrigarmos. Não teremos outro remédio senão prolongar o prazo de 
intervenção estrangeira nas condições que nessa altura os nossos 
credores julgarem adequadas. A vida é como é e não como gostariamos 
que fosse. 
Antevejo assim (como Sousa Tavares) um ano 
dificil e sacrificado. Até Março, data previsivel da acordão do TC 
dando razão ás duvidas do reformado Cavaco acerca da 
inconstitucionalidade das normas em análise, viveremos no mesmo limbo 
do ano passado. Portas diz, Relvas desdiz, Passos desfaz. A partir daí 
a batata quente cairá em cima do reformado presidente que convocará 
eleições antecipadas face á intransigencia de Portas em aceitar mais 
impostos para substituir as verbas retiradas do orçamento pela douta 
decisão dos juizes constitucionalistas. Aterrado em S.Bento depois de 
uma previsivel vitória socialista, Seguro vai apressar-se a renegociar 
a dívida e a prolongar o prazo do seu pagamento, conforme tem 
anunciado que o fará. Mais austeridade nos será exigida e mais 
soberania teremos que ceder. Mais tempo de intervenção e menos 
capacidade de manobra. Mais cedências e menos liberdade. Mais 
autoridade e menos democracia. "É a vida!" dirá o provável substituto 
de Cavaco em Belém. Já estamos acostumados, direi eu! 

ALBINO ZEFERINO 
15/1/2013 

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