domingo, 28 de setembro de 2014

O INICIO DO NOVO CICLO


          Hoje é um dia importante. Não porque vá acontecer algo de importante que mude radicalmente a nossa triste forma de viver, mas porque será o principio de um periodo que determinará uma mudança no ciclo politico das nossas vidas. A luta fratricida que o PS vai hoje enfrentar nas urnas partidárias vai consagrar o novo líder que irá conduzir o nosso destino colectivo nos próximos anos. Seja Seguro, seja Costa, o vencedor, o ciclo liderado por Passos Coelho e pela sua gente terminará hoje.
          Respira-se um ar de fim de ciclo que não se coaduna com a dinâmica que hoje a governação exige e que mais cedo do que tarde as circunstancias politico-sociais vão revelar. A crise provocada pela precipitada reforma judicial, a confusão gerada pela desastrada colocação dos professores, a queda abrupta e inesperada do ultimo bastião do capitalismo portugues e finalmente a constatação de que Passos Coelho afinal já não era virgem, serão as razões objectivas que provocarão a queda antecipada deste esforçado governo que, queira-se ou não se queira, tudo fez para que Portugal não caisse de borco perante uma Europa gananciosa e voraz. Só que, apesar do seu genuino esforço, o governo de Passos não conseguiu terminar o ciclo com sucesso. É certo que este foi o governo que desde o 25 de Abril mais reformou, que foi o único governo que conseguiu reduzir o défice orçamental desde Salazar e aquele que demonstrou mais coragem em atacar de frente os elefantes brancos criados pelo PREC. Contudo, deixou-se enredar nas teias duma corrupção institucionalizada há anos e muito protagonizada pelas velhas raposas matreiras da politica portuguesa que desvirtuaram as genuinas intenções reformadoras de Passos e torpedearam as escolhas mais criteriosas para as necessárias reformas sociais e económicas. O resultado desta governação sem ser mau, não conseguiu passar do medíocre.
          O que nos espera, então, a partir de hoje? Eu diria que, uma vez consagrado Costa como o próximo salvador da Pátria, os portugueses não descansarão enquanto o homem não lhes dê o que prometeu, ou seja, mais prosperidade e menos sacrificios. Exigirão, nem que seja com manifestações "espontâneas" diárias, que o governo de Passos dê lugar o mais depressa possivel ao novo salvador da Pátria, eivados do sebastianismo que sempre moveu este povo de crédulos e de ingénuos úteis.
          Mas será que Costa (ou outro qualquer) conseguirá devolver aos portugueses a independência de espírito e de movimentos a que 40 anos de abrilismo os habituaram? Sinceramente não creio. Com a Banca entregue aos espanhois e as decisões importantes às instituições comunitárias em Bruxelas, o que restará a Costa fazer? Tapar os buracos nas ruas, organizar a recolha dos lixos, montar espectáculos populares. Mas não é isso o que ele faz há anos?

                                   ALBINO ZEFERINO                    28/09/2014

terça-feira, 16 de setembro de 2014

O FIM DO CAMINHO


          Com a inesperada demissão da recentemente empossada nova administração do BES, chefiada por um crâneo que afinal não é crâneo nenhum, nem sequer para fazer a liquidação dum banco falido, aproximamo-nos perigosamente do precipicio que constitui a entrega total à estranja do sistema bancário nacional.
          Só angolanos e espanhois se interessam verdadeiramente por aquilo que se passa neste cantinho à beira-mar plantado (como dizia o poeta) embora por razões distintas. Aos espanhois interessa controlar Portugal (e quem controla o dinheiro dos outros controla os outros) por uma questão prática que radica naquilo que prosaicamente se chama o mercado ibérico. Os angolanos querem controlar Portugal, pois assim se tornam eles próprios portugueses, que é como quem diz europeus, membros da UE, com todas as vantagens que isso traz e sem os inconvenientes que continuarão a sobrar para nós (crise, austeridade, reformas, etc.), os verdadeiros, os legitimos portugueses, cidadãos europeus. Diria mesmo que, se não são duas vinganças históricas, assim parecem.
          Ora esse interesse no controle da banca portuguesa reflete-se no interesse, quer do BPI (maioritariamente angolano) quer do Santander (totalmente espanhol), em ficar com os despojos do que outrora era o ultimo reduto da soberania economico-financeira deste país de grandezas passadas e de penas presentes. Provavelmente o BES acabará dividido por estes dois bancos estrangeiros, confirmando a politica salomónica que tem caracterizado este governo liquidatário.
          Dir-se-á que a partir de agora deixaremos de decidir por nós próprios as nossas vidas. Não seria já um pouco assim? Deixará de ser encapotadamente para passar a ser às claras e com maior vexame para nós. Mas não foi assim durante os 80 anos em que os espanhois por cá mandaram? E nós não pusemos e dispusemos dos angolanos durante séculos? Agora vem o refluxo. Ainda podemos fingir que mandamos em Portugal através da UE, mas isso é outra história. Habituemo-nos a aceitar para nosso bem e dos nossos filhos aquilo que outros decidirão por nós. Talvez assim nos possamos endireitar e quiçá um dia possamos (nós já não, mas os nossos descendentes) voltar a gozar duma independência perdida por décadas de arbitrariedades e de má conduta governativa. Haverá motivo para fazer alguma estátua a qualquer dos nossos governantes da actualidade?

                                            ALBINO ZEFERINO                                      16/9/2014

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

O REFERENDO ESCOCÊS


          Muito se tem falado das consequências funestas para a UE do resultado do referendo que os escoceses vão realizar no próximo dia 28. O que acontecerá à Europa depauperada pela crise que teima em persistir agora que já se notam efeitos dela na própria Alemanha, é o que os portugas receiam no caso do referendo escocês ser positivo. Eu diria que, mesmo que o desfecho seja esse, o que eu sinceramente não creio ( à Escócia não interessa desligar-se do Reino Unido, pois perde os financiamentos que o Whitehall lhe manda, agora que as receitas do petróleo estão em queda) nada de extraordinariamente preverso acontecerá à UE.
         A UE é uma união de países (eu diria de povos organizados em países) com o objectivo de fomentar o desenvolvimento economico e social dos cidadãos europeus enquanto tais, através da adopção de procedimentos comuns (ou até de politicas comuns) prosseguidos pelos governos desses países. A existência de Estados soberanos no seio da UE é uma circunstância meramente formal ou instrumental que diz respeito aos próprios Estados que dela fazem parte. Se determinado Estado se desmembra noutros Estados, ou se dois ou mais Estados decidem unir-se soberanamente entre si constituindo um mesmo Estado, é negócio que não interfere directamente no sistema da UE. É claro que a UE teria que adaptar-se às modificações institucionais que se verificassem no seu seio (renomeação de comissários, adaptação de estruturas em função da nova fisionomia comunitária, reafectação das verbas concedidas a título de subsidios, etc., etc.) mas tudo sem afectar a essencia dos tratados constitutivos da União. Nada disto afectaria o funcionamento da UE como organização supranacional destinada a prosseguir o seu caminho no sentido do desenvolvimento dos seus povos (sejam eles quais e quantos forem).
          No caso da Escócia se tornar independente (como o foi durante séculos), o Reino Unido ficaria mais fraco e a libra estrelina deixaria de circular livremente na nova Escócia. Modificações substanciais ocorreriam no Reino Unido, isso sim, mas apenas afectando o próprio R.U. (na nacionalidade dos seus cidadãos, nos procedimentos juridicos, económicos e sociais britânicos e até na sua idiossincracia), mas nada disto afectaria substancialmente o normal funcionamento da U.E. nem seria necessariamente negativo sob o ponto de vista da politica comunitária.
          Mal fosse declarada a independência, a Escócia seria admitida como novo membro da U.E., eventualmente adoptando o euro e passando a fazer parte do eurogrupo, e nomeando os seus representantes nos órgãos comunitários, à custa naturalmente do Reino Unido (que veria diminuida a sua influência nos órgãos da U.E. na medida da quota preenchida pela Escócia independente). Como se vê, deste exercicio resultaria uma diminuição do poder britânico na U.E. à custa da divisão do poder hoje detido pela Grã-Bretanha.
          Não creio, assim, que nada de desastroso pudesse acontecer para a integração europeia, caso a Escócia se tornasse independente do R.U. no próximo dia 28. Bem pelo contrário. Com o enfraquecimento dum Estado maioritariamente eurocéptico, a U.E. enfrentaria menos obstáculos do que hoje enfrenta na prossecução das politicas integracionistas necessárias para atingir os seus objectivos comuns.
         O mesmo se poderá dizer de outras manifestações autonómicas latentes, como por exemplo, na Catalunha, na Ucrânia (que não sendo ainda membro da U.E., para lá caminha) ou nos Balcãs (cujos países, mais tarde ou mais cedo, se unirão à U.E.), pois a União europeia, baseando-se num processo unificador global, não se preocupa com as opções étnicas ou culturais dos vários povos que a constituem, antes fomentando uma integração politica e economica supranacional, deixando aos seus povos inteira liberdade na escolha dos diversos modos de vida a que a história de cada um deles os habituou, assentes nas multiplas culturas de cada um e na escolha individual e democrática dos seus respectivos representantes locais, regionais, nacionais e comunitários.

                                           ALBONO ZEFERINO                                15/9/2014
         

domingo, 7 de setembro de 2014

O REGRESSO DO REGABOFE


          As últimas declarações do presidente do banco Central europeu cairam como um maná do céu sobre os pobres espíritos levianos dos perdulários lusitanos, que julgaram tratar-se do tal milagre de Fátima que sempre os protege de todos os males do mundo e que muitos aguardam com ansiedade bacoca. Pensa esta gente que, a partir de agora, voltarão os bons tempos do Sócrates, onde não havia restrições quanto aos gastos nem austeridades para ninguem.  Desenganem-se porém esses pobres de espírito que milagres não existem, nem protectores contra os males do mundo tambem não.
          O que realmente procupa Draghi e os seus europeistas é a saude do euro, que tem estado sob fogo cerrado, quer de americanos, quer de asiáticos, que aplaudem de pé as vicissitudes que a ausencia de politicas comuns europeias têm provocado nas economias dos seus membros enquanto países soberanos, ou seja, cada um faz o que quer, quando quer e como quer. Ora é esta a circunstancia que proporciona as crises que se propagam de país para país. Enquanto os países europeus não se convencerem de que só unidos (ou seja, obedecendo às mesmas regras ao mesmo tempo) terão capacidade para enfrentar os desafios da globalização, a Europa não sairá da crise nem se fortalecerá. Todos estão de acordo que é com o crescimento económico que se combate o flagelo do desemprego e da exclusão social. O que ainda não interiorizaram é que, sem sacrificios, isto não é possivel. Em todo o lado se vêm greves e reivindicações sectorias contra as medidas de austeridade que são indispensáveis para pôr a máquina europeia em velocidade de cruzeiro. Sem uma consciencialização colectiva e profunda deste fenómeno nada se poderá fazer, nem em Portugal, nem nos outros países europeus mais atrasados.
          Foi esta a razão pela qual Draghi resolveu dar um empurrão valente (como nunca ninguem ousara) ao euro, para lançar definitivamente a união bancária europeia que será o esteio dum aprofundamento integrador europeu. O anuncio de que o BCE irá passar a comprar divida publica dos Estados mais carenciados, não significa mais do que um maior controle das contas dos bancos e portanto das economias nacionais. A austeridade terá que continuar por muitos e bons anos até que todos os países europeus marchem ao mesmo ritmo e com a mesma passada. De contrário a UE não faz sentido, nem é util para ninguem.
          Tanto faz quem esteja no poder. Alguem tem que lá estar. Mas quanto menos poder tiver para fazer asneiras melhor. Quanto mais soberania for transferida para as entidades europeias (onde os nossos devem ter cada vez mais capacidade de intervenção - viva Barroso, viva Constâncio) melhor para o nosso desenvolvimento. Enquanto não nos virmos livres dos caquéticos juizes que condicionam e limitam o nosso desenvolvimento com  pretextos pueris e desenquadrados da realidade em que hoje vivemos, bem como deste desassossego popular de reivindicar eleições a toda a hora só porque não gostamos da cara do primeiro-ministro, nunca mais nos endireitamos nem deixaremos de estar cada vez mais na cauda da Europa. Hoje já ficamos contentes se superamos a Eslováquia ou a Roménia. Longe vai o tempo em que nos comparávamos com a Republica checa e com a Hungria. Qualquer dia só a Albânia ou a Bósnia-herzegovina estarão ao nosso nível.

                         ALBINO ZEFERINO                   7/9/ 2014