segunda-feira, 22 de junho de 2015

HÁ MAIS EUROPA PARA ALÉM DA GRÉCIA



          Diz Nicolau Santos no seu Expresso curto de hoje que "a Europa está a fazer um braço de ferro com a Grécia por causa de menos de 1/4 do que os portugueses estão a pagar com lingua de palmo devido à falência fraudulenta do BPN."
          A ser assim, então a questão não é de dinheiro. Pensando bem e depressa, o problema é mais profundo do que alguns milhões de euros que deveriam ser poupados e não são. Essencialmente o que as instituições internacionais credoras querem é que o governo grego corte nas pensões dos gregos. E o governo grego não quer. As pensões gregas são elevadissimas comparadas com as dos restantes países europeus e embora não representem no seu todo mais do que 0,5% do PNB da Grécia, reflectem uma forma de ver a vida diferente, consoante o problema seja encarado pelos países ricos do norte da Europa ou pelos países pobres do sul.
          Para os nórdicos a pensão representa a parte com que o Estado colabora na reforma do empregado. Este, logo que se emprega, estabelece com uma qualquer entidade especializada (banco, cia de seguros, fundo de capitalização, etc.) um programa de reforma que lhe permitirá gerir a sua vida de trabalho conforme deseje. A participação do Estado nesse plano é residual. É assim que os nórdicos encaram o "magno" problema das reformas nos seus países. Para os sulistas, é o Estado quem deve suportar todas as despesas que o reformado tenha, logo que este deixe de trabalhar. E como a preocupação do sulista não é trabalhar muito e bem, mas pouco e mal (preparação das férias, das pontes e dos feriados, baldas, cafézinhos a toda a hora, convivio com os colegas, telefonemas às amigas, buscar os meninos á escola, reivindicações sindicais, etc. etc.em vez de produzirem algo de positivo), será o Estado (ou seja, os impostos pagos proporcionalmente por todos, bons ou maus trabalhadores) que fica obrigado a sustenatr este bando de calões que nunca trabalhou quando devia e que agora na velhice exige ser sustentado pelos outros (os ricos que paguem a crise, como gritam os comunas deseperados pelas ruas). É este o verdadeiro problema que separa gregos e troianos, ou seja os que trabalham dos que não trabalham. E os que trabalham não estão para sustentar os que nada fizeram nem fazem. Isto passa-se em todos os países do sul e não se passa nos restantes países do norte da Europa. Por isso, alemães, finlandeses, suecos, checos e holandeses, entre outros, não estão dispostos a ceder aos gregos. Senão teriam que ceder aos espanhois, aos portugueses, aos franceses e a outros mais. Como cada vez há menos postos de trabalho (eu prefiro dizer, necessidade de mão de obra humana) e os velhos persistem em viver mais tempo (graças aos avanços da medicina e dos serviços sociais) e a demografia tem vindo a baixar na Europa, o problema tende a agravar-se de ano para ano.
          O problema não é assim exclusivamente grego, mas abrange a Europa como instituição que se pretende global e coordenadora de politicas comuns que sirvam a todos os europeus de igual forma. E esta questão, sendo global, não é encarada por todos da mesma forma, pois não nasceu nem foi tratada da mesma forma por todos os países que compõem a UE. Como resolvê-la para o bem geral e com a aquiscência de todos (bons e maus trabalhadores, velhos e novos, nortistas e sulistas, escuros e claros, obedientes e rebeldes, cultos e ignorantes, etc. etc.) não vai ser tarefa fácil, mesmo que os gregos não saiam para já da UE, o que seria uma tragédia suplementar e quiçá mais grave ainda.

                                ALBINO ZEFERINO                                                   22/6/2015

Sem comentários:

Enviar um comentário