terça-feira, 11 de outubro de 2016

A FURIA DOS TAXISTAS


          É possivel compreender-se sem esforço o desespero daqueles que são enfrentados com o risco do desaparecimento progressivo mas evidente da actividade profissional da sua vida, muitas vezes exercida com denodo e sacrificio e ao cabo de trabalhos e esforços que só Deus sabe como conseguidos. Mas o futuro é impiedoso e tal como a vida é finita, tambem as suas actividades sofrem com a evolução da ciencia e da técnica.
          O surgimento das plataformas informáticas como elementos facilitadores das actividades humanas que progressivamente tendem a substitui-las por meios infaliveis e outrora impensáveis de utilização prática, veio pôr em causa muitas actividades tradicionalmente cometidas aos humanos, mas que hoje já são substituidas com vantagem por agentes tecnológicos. Penso, por exemplo, nas linhas de montagem industriais onde máquinas computorizadas aumentam a produção exponencialmente, sem erros, descansos periódicos, salários e férias pagas ou sindicatos e reivindicações salariais.
          Quem antecipava há 5 anos que os inofensivos IPad e os seus sucessores Smartphones pudessem vir a por em causa profissões tão antigas e úteis como a dos motoristas de taxi?  Haverá alguem hoje que ainda ponha em duvida a generalização no futuro próximo do carro sem motorista? O que será então daqueles que fazem do automóvel a sua profissão?  O que aconteceu aos cocheiros quando o automóvel veio substituir os coches no inicio do sec.XX?  Cercaram o Parlamento com as suas seges e caleches, relinchando impropérios contra o governo de então?
          A progressiva substituição das actividades humanas por acções de natureza tecnológica veio trazer às sociedades de hoje a necessidade duma adaptação, não só das normas e regulamentos aplicáveis a essas actividades enquanto exercidas pelos homens, mas tambem das mentalidades confrontadas com uma evolução material que penetra fundo nas convicções e convenções de natureza social que regem as sociedades. A par das indispensáveis adaptações técnicas que a introdução no mercado do trabalho das novas tecnologias impõe, será necessário tambem substituir os velhos conceitos de segurança laboral, apoio sindical, formação profissional e outros aplicáveis aos humanos, por outros conceitos mais palpávies, como o da regulação das actividades, o da livre concorrencia ou o do combate anti-dumping.
          Estamos entrando numa nova era que substitui a industrialização pela tecnologia, tal como há 100 anos a industria apeou a agricultura do seu lugar cimeiro nas preocupações sociais. Quem ouviu falar em greves do campesinato antes da revolução industrial?  Hoje em dia os sindicatos estão perdendo o poder que tinham há 50 anos, quando derrubavam governos. Os empregos de longa duração estão a acabar e as pessoas novas contestam o trabalho manual ou automatizante. O ser humano foi criado para pensar, para criar e para ensinar. Tudo o resto, o trabalho automático, poderá (ou deverá) ser feito por máquinas ou através da tecnologia. É este o mundo novo (do qual já falava Betrand Russell) ao qual temos que nos adaptar. E depressa, senão perdemos de vez o comboio da modernidade!

                        ALBINO  ZEFERINO                                                11/10/2016
         

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