sexta-feira, 5 de maio de 2017
AINDA O BREXIT
Com a convocatória de eleições legislativas a fim de se poder legitimar antes do inicio das negociações para a saida do Reino Unido da União Europeia, a Primeira Ministra britanica Theresa May prossegue o processo tendente ao abandono ordenado do seu país da organização a que aderiu há já cerca de 30 anos. Verdadeiramente, o Reino Unido nunca quis empenhar-se a fundo num projecto que é essencialmente um exercicio globalizante e estruturante. A UE não é uma simples organização internacional tendente à realização de acções conjuntas de determinada natureza, como a NATO, por exemplo. Na NATO não se pretendem unificar as forças militares dos vários Estados Membros, nem a prossecução de fins que não sejam de natureza estritamente militar e de defesa dos vários países em conjunto. Foi uma organização criada para impedir que a então União Sovietica tentasse avançar para Este como fez no rescaldo da 2ª Grande Guerra. A UE é outra coisa completamente diferente. Com a UE, os seus fundadores pretenderam a criação dum bloco de países unidos nos seus principios democráticos, defensores da livre circulação de pessoas , de bens e de capitais. Por isso, os EM são todos democráticos, onde funciona livremente o mercado, as pessoas circulam livremente e transaccionam livremente entre si.
Ora o RU, que apesar de tambem se guiar pelos mesmos principios, nunca quis ficar subordinado às instituições comunitárias cada vez mais dependentes da Alemanha, país derrotado pelos britânicos na 2ª GG. A constatação de que a UE estava a atravessar um período de alguma estagnação, presa aos nacionalismos que cada vez mais claramente se vão instalando nos diversos EM, fez com que os chamados eurocépticos se impusessem num país que se considera a si próprio como invencivel e portanto avesso a aceitar as determinações impostas por outros, que não pelas suas próprias instituições. Esta é verdadeiramente a razão do Brexit. Contudo, se não tivesse sido o erro de cáculo táctico do anterior PM Cameron, não creio, mesmo assim, que o Brexit tivesse ocorrido. Mas aconteceu, Cameron fugiu e deixou May com a tarefa ingrata de executar uma resolução maioritariamente popular de dificil concretização. Se entrar na UE não é fácil (Portugal tardou 7 anos e se não fosse a Espanha se ter candidatado tambem, se calhar ainda estavamos hoje à espera de entrar), sair vai revelar-se, para os britânicos, ainda mais dificil.
O recente encontro entre a PM britânica e o Presidente da Comissão europeia, o europeista convicto Juncker, correu muito mal. May, embalada na campanha eleitoral que a aponta como largamente vitoriosa, convenceu-se que, nesta reunião com o luxemburguês empedrenido, podia deixar assente as bases negociais que pudessem fazer sair a Grã-Bretanha da UE sem grandes custos. Porém o tiro saiu-lhe pela culatra e o que saiu do encontro foi a convicção generalizada de que os britanicos vão ter muito que penar. Será muito dificil, se não impossivel, que o RU possa manter-se no mercado único e sair tranquilamente das regras de Schengen. Sem acesso ao mercado de capitais, o RU arrisca-se a perder a influência que exerce nos mercados financeiros e assim perder a importância mundial de que ainda goza. Será que o Brexit conduzirá os britânicos para uma situação ainda mais dependente do que aquela que resultaria duma integração europeia reforçada? Terá valido a pena lançar um referendo que poderá levar o RU para uma situação que o heroico esforço militar poupou em 1945? Não sei, mas receio muito.
Será possivel, em caso de impasse negocial, que os britânicos façam marcha-atrás e que, através dum novo referendo de resultado oposto ao que determinou o Brexit, possam conservar o estatuto especial de que gozam na UE, mantendo-se como EM que ainda são? Não creio. Mesmo que ocorra uma marcha-atrás, os britânicos "regressarão" ao seio da UE mas sempre em situação de perdedores.
Não será possivel fazer de conta que o Brexit nunca existiu. A simples manifestação de vontade em sair da UE já deixou mossa na reputação impoluta dos britanicos, mesmo que acabem por não sair. E a UE sem o RU tambem nunca será a mesma. A UE era um projecto global e sem um país como a Grã-Bretanha deixará de o ser. A partir do Brexit - no caso da saida do RU da UE - o projecto europeu perdeu a sua essencia globalizante e unificadora. Em conclusão, o Brexit - seja qual for o seu desfecho - foi e será sempre um elemento desestabilizador dum projecto virtuoso cujo objectivo era o de transformar uma Europa de Estados egocentristas e bélicos num conjunto harmonioso de Nações solidárias e pacificas.
ALBINO ZEFERINO 6/5/2017
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário