quarta-feira, 21 de junho de 2017

FOGOS E FOGACHOS


          A propósito da tragédia de Pedrogão Grande, o tema dos fogos tem dado pano para mangas. Quanto mais triste e fatídico o acontecimento seja, mais os jornais portugueses (escritos ou falados) não se conseguem despegar da coisa, como se por muito que se fale do assunto o assunto nunca mais caia no esquecimento. Pura fantasia. Agora é a procura dos culpados. Desde a ministra que recebeu a noticia na mesma altura que todos nós ao primeiro ministro que já se esqueceu do defice excessivo e dos limites do défice orçamental, não há quem não seja ouvido, perguntado, invectivado ou até acusado por um acaso da natureza que poderia ter sido um terramoto (como o de 1755) ou uma guerra (como a de 14-18). Mas enquanto Pombal mandou "enterrar os mortos e cuidar dos vivos", Afonso Costa mandou milhares de saloios para a morte para salvar a face duma républica que ninguem procurara e que tambem ninguem conhecia.
          É claro que se isto se tivesse passado na Suiça ou na Alemanha (recordo o desabamento do tunel nos Alpes ou o fogo dentro do tunel alemão) os noticiários desses países já estariam em cima do acontecimento, ajudando e informando competentemente os cidadãos sobre o que eles desejariam ouvir ou conhecer e não especulando ad nauseam sobre uma tragédia que ensombrou o nosso país e mostrou que nem 25 de abril nem UE chegaram para nos tirar de cima a epiteto com que alguns nos mimoseiam com razão: saloios. É nestes casos que melhor se compreende a existencia duma censura (não politica como apregoavam os revolucionários de abril, mas social e instrutiva com objectivos educativos e de decoro) que falta neste país de costumes livres e libertinos onde às matérias ditas fracturantes é dado mais tempo de antena do que à procura de soluções para os problemas graves que ensombram o nosso futuro colectivo como país livre e independente.
          Não digo que se estivessemos preparados para o caso a tragédia pudesse não ter tido resultados tão trágicos. Mas a questão é mesmo essa. Estaremos nós preparados para enfrentar as vicissitudes dum país sem recursos e sem gente capaz de preparar as defesas para esses casos fortuitos? Infelizmente o que aconteceu em Pedrógão Grande mostrou que não. Já em 1755 foi a mesma coisa. Sem Pombal ainda hoje estariamos a viver entre os escombros dum terramoto brutal, único e devastador. Há anos com Guterres aconteceu a tragédia de Entre-os -Rios. Morreram dezenas de pessoas. Construiu-se nova ponte e ninguem falou mais disso. Em 1969 houve as cheias do Trancão na baixa de Loures que matou e desalojou centenas de pessoas.  Canalizou-se o rio e fez-se uma autoestrada por cima. Ninguem falou mais disso. O que se vai fazer agora? Fechar a estrada da morte e alargr-lhe as bermas? Ou esperar que venham mais Canadair para ir apagando os fogos que cada vez surgirão com mais intensidade? E se arder o palácio de Queluz? e o de Belém? Vade retrum Satanaz!

                         ALBINO  ZEFERINO                                                        21/6/2017
       

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