domingo, 18 de junho de 2017
O BREXIT ANTES DA NEGOCIAÇÃO
Finalmente vão começar as negociações para a saída da Grã-Bretanha da União Europeia. Depois de um referendo cuja intenção era precisamente fixar o eleitorado britânico à UE e de umas eleições parlamentares que pretendiam consolidar democraticamente a lider conservadora ao partido antes do inicio das negociações, tudo parece ter saido ao contrário. Cameron perdeu, May tambem e os brits julgo que tambem perderam. Uma coisa é estar dentro e refilar pondo um pé de fora, e outra é ser excluida das decisões que, mesmo não se lhe aplicando directamente, indirectamente vão afectá-la por se ter auto-excluido. Explico-me melhor.
Desejando não perder o acesso livre ao mercado único europeu, a GB quer ao mesmo tempo livrar-se do flagelo da imigração que vem importando paulatina e naturalmente desde 1960. São duas pretensões incompativeis e ao mesmo tempo impossiveis de evitar. À UE não lhe interessará perder duma penada mais de 10% de cidadãos que deixem de lhe comprar bens e serviços, nem o acesso livre ao mercado tecnológico e dos serviços britanico, muito avançado e muito implantado em todo o mundo. Prescindir do mercado britanico seria para a UE uma espécie de ablação de um terço da sua influencia a nivel mundial. E vice-versa tambem. A GB fora da UE perderá clientes, influência, importancia e dinheiro.
Por outro lado, suster uma imigração que há mais de 50 anos se assumiu como movimento natural endógeno da paisagem sociológica e étnica dos britanicos, não parece ser fácil de conseguir, dentro ou fora da UE. A população residente (natural ou não) em território britanico faz parte hoje dos cidadãos da GB e está completamente integrada em todos os sectores sociais e laborais do RU. Até o actual mayor de Londres é um muçulmano de origem indiana. Tambem em Paris ocupa lugar semelhante uma socialista originária da Andaluzia com raizes árabes e etnicamente cigana. Para os conservadores portugueses, longe do centro da Europa de onde vêm as modas novas e os costumes modernos, tudo isto pode fazer alguma confusão às mentes mais reactivas à nova forma de encarar a vida em comunidade e de se adaptar aos novos tempos e às novas circunstâncias.
É neste contexto de "desunião europeia" e de "ocupação territorial" que o Brexit vai começar a ser definido. Será portanto dificil de prever quando e como acabarão as negociações. Como começarão já se sabe. Definindo posições à partida irreconciliáveis mas que a pouco e pouco se irão aproximando. Chegará a haver acordo final? Os negociadores serão os mesmos durante todo o periodo negocial? Haverá mudanças de orientação durante as negociações? Haverá novo referendo em caso de impasse ou mesmo no final das negociações para confirmar popularmente o que terá ficado acordado? Tudo está em aberto, inclusivamente o acordo conseguido por Cameron nas vésperas do referendo sobre o Brexit, na convicção de que as facilidades conseguidas para a GB (impossiveis noutras circunstancias) empurrariam os eleitores contra a saida do RU da UE. Há que esperar o desenvolvimento dum processo dificil, inesperado, que ninguem deseja e com consequencias muito negativas para a UE (e para o RU) caso não se chegue a um acordo aceitável. Mas mesmo assim nunca será uma situação de win-win. Aqui todos perderão.
ALBINO ZEFERINO 18/6/2017
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