sábado, 7 de outubro de 2017
A QUESTÃO CATALÃ
Parece que o governo autonómico catalão se prepara para declarar unilateralmente a independência da Catalunha no seguimento do simulacro de referendo que organizou no passado fim de semana na região. Apesar da inconstitucionalidade grosseira e da informalidade com que o referendo foi realizado, o governo catalão - embalado nas manifestações de vitória por parte da banda esquerda do espectro politico partidário regional - insiste na independência reclamada há decadas mas nunca levada tão longe como agora. Só com o fuzilamento de Companys no final da guerra civil, em 1939, é que Franco conseguiu suster o impulso nacionalista da populaça rebelde de então, que parece ter renascido quase 80 anos depois. Desde então, a Catalunha e as suas reivindicações autonómicas conviveram com o franquismo primeiro, e desde 1978, com a Constituição democrática espanhola saída da transición suarista e laboriosamente tecida por Torcuato Fernandez Miranda (depois feito duque com grandeza, tal como Suarez) com o seu original enquadramento constitucional autonómico.
Só que ao fim deste tempo todo, muitas coisas ocorreram que transformaram a paisagem politica espanhola num albergue onde ninguem mais se entende, proporcionando terreno fértil ao nacionalismo catalão (mais civilizado do que outros, convenhamos, mas nem por isso menos assertivo) adormecido por anos de repressão primeiro e de anestesia constitucional depois. A independência da Catalunha parece-me assim inevitável pese a sua ilegitimidade, quer democrática, quer constitucional - meros "acidentes" à luz dos ideais independentistas que lhes querem retirar importancia - face às manifestações populares gigantescas que antecederam e se seguiram ao acto referendário do passado domingo. O discurso do jovem mas determinado rei, apoiando as teses anti-independência, serviu como pretexto para que o governo de Madrid mobilizasse primeiro a policia e agora a tropa, para suster os impulsos independentistas dum governo do centro politico mas apoiado e dominado por uma esquerda aguerrida, que não deseja negociar mais do que a entrega do poder total por parte de Madrid.
Estamos assim, a meu ver, no prólogo dum enfrentamento ideológico interpretativo duma unidade constitucional artificialmente conseguida por esforçados constitucionalistas, que mais não quiseram do que elaborar um quadro constitucional que mantivesse unidas, pelo maior tempo possivel, as várias nações de que a Espanha é constituida. Com este simulacro de referendo, chegou-se ao fim deste periodo. A contestação aberta ao regime autonómico - que conseguiu, apesar de tudo, subsistir durante quase 40 anos, mantendo a Espanha unida como país - vai determinar negociações e trabalhos delicados e dificeis cujo resultado não é evidente e cujos riscos, num país que viveu uma longa e feroz guerra civil há pouco tempo, são óbvios e assustadores. Tal como há 80 anos, Portugal vai sofrer as influencias desta situação. Só que agora não se trata apenas de vigiar as fronteiras para evitar os fugidos da guerra. Portugal hoje depende da Espanha economica, social, financeira e até politicamente. Não basta mandar a Guarda Republicana para a raia. Temos que evitar sofrer as consequencias do abanão que começou a atingir nuestros hermanos, senão vamos tambem na enxurrada. Como fazê-lo não sei, mas se calhar o Costa já está a tratar do assunto com a Catarina e com o Marcelo.
ALBINO ZEFERINO 7/10/2017
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