domingo, 18 de fevereiro de 2018

AS FRENTES POPULARES


          Muito se tem falado de "frente popular" em referencia à governação que se instalou em Portugal desde as ultimas eleições legislativas. Houve mesmo quem tivesse baptizado o actual conglomerado de partidos que hoje toma decisões por todos nós como tratando-se de uma verdadeira geringonça (calhambeque ou coisa estranha e mal feita que ameaça partir-se ou desfazer-se).  Efectivamente, a experiência politica ensaiada em Portugal pelo actual primeiro ministro foi sempre rejeitada, mesmo nos anos extremados da revolução abrilista, por ser considerada perigosa e atentatória dos valores e principios norteadores da governação em liberdade. Não é por acaso (ou por desprezo) que as instituições comunitárias olham com desconfiança para o desenrolar titubeante e superficial da governação portuguesa, sempre atentas aos limites permitidos pelos tratados dentro dos quais o primeiro ministro tem conseguido, até agora, confinar os seus ferozes apoiantes.
          Frentes populares sempre houve na história da Europa e nenhuma delas trouxe algo de positivo. Basta recordar a frente popular espanhola dos anos 30, que resultou na feroz guerra civil espanhola. Ou na frente popular francesa de Leon Blum, que acabou com a invasão nazi da França.
          Portugal tem conseguido manter-se independente politica e economicamente desde o 25 de Abril, graças à opção esclarecida e tenaz dos democratas de Abril que conseguiram (contra a corrente vigente do PREC) aderir ao então Mercado comum europeu e assim suster a caminhada desvairada dos comunistas que nos arrastavam em direcção ao colectivismo marxista em vigor no Leste europeu. Sem a UE, seriamos hoje a Cuba da Europa com as suas lindas praias e as mulheres à venda, numa sociedade igualitária e ditatorial com Cunhal (e agora Jerónimo) a decidir o que fazer connosco. Enquanto Soares viveu, nunca nenhum chefe socialista se atreveu a correr tais riscos. Foi preciso aparecer Costa (António e não Afonso) para, num golpe de desespero, ensaiar esta farsa governativa (a tal geringonça) que ainda não nos arrastou para o fosso porque a sorte grande do celerado (ou a mão de Deus) não permitiu. Da abertura do espaço economico portugues, proporcionada pela adesão à UE, resulta que o nosso país está cada vez mais sujeito às contingências das crises de crescimento europeias e mundiais. Quando há crise fora das nossas fronteiras, há crise cá dentro; quando há recuperação fora, há recuperação cá dentro. Simples e verdadeiro. Se Lisboa cresce (porque Madrid cresce), o Porto tambem cresce (e a Maia tambem). É por causa desta dicotomia que Portugal regista valores economicos positivos. Não é por causa da geringonça. Direi mesmo mais: se não fosse o raio da geringonça, o nosso crescimento seria ainda maior, pelo menos igual ao espanhol.  De outra forma não seria possivel explicar-se esta recuperação. Como se explica então que medidas restritivas do crescimento (como a transformação de trabalhadores precários em fixos sem correlação com aumentos de produtividade correspondente, ou a luta pelo controle sindical em unidades industriais de ponta comprometendo o aumento da sua produtividade, ou a passagem ao quadro oficial de professores excedentários sem atender ao abaixamento do numero de alunos, ou a reversão de medidas financeiramente restritivas decretadas pelo governo anterior, apenas por razões ideologicas ) impostas pelos parceiros parlamentares esquerdistas do partido do governo, não tenham produzido quedas nos indices de crescimento portugues?  Pois porque esse crescimento foi essencialmente provocado pela recuperação economica europeia e não reflectiu qualquer progresso induzido por medidas decretadas pela geringonça. É esta a trapaça que urge desmontar. Não faz sentido nenhum existir um governo de cariz europeista apenas sustentado por partidos anti-europeistas. É um contrasenso politico, uma originalidade portuguesa que não é originalidade nenhuma, pois é uma farsa.
          Nesta indefinição reside a confusão que paira no PSD e que ficou bem patente no congresso deste fim de semana que entronizou Rui Rio como novo lider laranjinha. A bacoca divisão entre os apoiantes de Rio (que supostamente acreditam que a modesta recuperação economica portuguesa se deve ao grande Costa e à sua geringonça) e que aceitarão a constituição dum novo bloco central quando o malandro do Costa for enfrentado com a realidade (isto é, quando o PC constatar que perdeu mais com a geringonça do que ganhou com ela) e os apoiantes de Passos Coelho (que foi longamente aplaudido no congresso) reunidos à volta do vencido Santana, que persistem na defesa dum PSD uno, forte e grande. Nessa altura, ou o PSD governa sozinho ou se junta ao PS numa coligação governativa ou num simples apoio parlamentar, ou então o PS consegue maioria parlamentar para governar sozinho. A ver vamos. O que não me parece curial é que ainda antes das eleições haja já quem antecipe resultados e trace estratégias em conformidade. Se não é saloio, parece.

                     ALBINO  ZEFERINO                                                                  18/2/2018
         

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