O mundo em geral está em crise. A globalização, que abriu as comportas que sustinham o delicado equilibrio entre países e culturas diversas, veio trazer, a par de um desenvolvimento económico desordenado, o confronto de ideias e de crenças que antes não se misturavam. Desde a glasnost e a perestroika sovieticas que o mundo mudou. Os regimes politicos e as religiões estão cada vez mais radicalizados e cada vez surgem mais extremistas nas ditas sociedades livres. As organizações internacionais criadas para facilitar a convivencia entre os Estados manifestam-se cada vez mais inuteis para solucionar os problemas cada vez mais complexos que a nova sociedade coloca. Tudo isto vai conduzindo à criação de mecanismos de defesa que preservem os valores que cada um julga devam prevalecer sobre os outros. As profecias de Orwell parecem estar a desabrochar 25 anos depois do famoso livro 1985. Como será possivel preservar a democracia (e eventualmente expandi-la) neste mundo de contradições e de diferenças sociais cada vez mais nítidas?
O que antes era condenado como manifestação de intransigencia anti-democrática é hoje aceite como forma de evitar males maiores. Refiro-me por exemplo à censura de alguns espectáculos (Madona, Lady Gaga e outros excentricos), proibição de certas manifestações que determinam aglomeração de multidões (de caracter politico, desportivo ou reivindicativo), banimento de usos e costumes sociais e religiosos (uso da burka, proibição de consumir determinados alimentos, destruição de minaretes), ataques organizados de países uns contra outros a pretexto de razões humanitárias (Libia, Siria, Afeganistão) ao mesmo tempo que se desprezam situações de verdadeiras calamidades (Sudão, Darfour, Sudeste asiático, Guiné-Bissau) porque não envolvem interesse económico, etc. etc.
O mesmo raciocinio se pode aplicar à Europa de hoje, continente em recessão acelerada porque não soube reagir ordenada e solidariamente a esta onda de mudança provocada pela globalização. O exemplo da guerra das Balcãs (que ainda não está resolvido) é a prova vergonhosa da incapacidade europeia de se transformar face ao desenvolvimento acelerado dos gigantes subdesenvolvidos que, quais tsunamis imparáveis, estão a engolir o Ocidente engalfinhado nas suas contradições e preconceitos de classe e incapaz de se organizar no quadro duma integração harmoniosa e solidaria capaz de solucionar os impasses economicos e sociais criados por essa mesma globalização. A situação desesperada da Grécia (que a não ser resolvida em breve conduzirá a União europeia a uma crise definitiva) está a ser usada por outros países (alguns europeus tambem) em proveito próprio sem curar as graves consequencias que o desmantelamento do mundo trará para toda a Humanidade.
ALBINO ZEFERINO (em dia de reflexão profunda) 26/5/2012