domingo, 27 de maio de 2012

O FIM DAS DEMOCRACIAS


O mundo em geral está em crise. A globalização, que abriu as comportas que sustinham o delicado equilibrio entre países e culturas diversas, veio trazer, a par de um desenvolvimento económico desordenado, o confronto de ideias e de crenças que antes não se misturavam. Desde a glasnost e a perestroika sovieticas que o mundo mudou. Os regimes politicos e as religiões estão cada vez mais radicalizados e cada vez surgem mais extremistas nas ditas sociedades livres. As organizações internacionais criadas para facilitar a convivencia entre os Estados manifestam-se cada vez mais inuteis para solucionar os problemas cada vez mais complexos que a nova sociedade coloca. Tudo isto vai conduzindo à criação de mecanismos de defesa que preservem os valores que cada um julga devam prevalecer sobre os outros. As profecias de Orwell parecem estar a desabrochar 25 anos depois do famoso livro 1985. Como será possivel preservar a democracia (e eventualmente expandi-la) neste mundo de contradições e de diferenças sociais cada vez mais nítidas?
                    O que antes era condenado como manifestação de intransigencia anti-democrática é hoje aceite como forma de evitar males maiores. Refiro-me por exemplo à censura de alguns espectáculos (Madona, Lady Gaga e outros excentricos), proibição de certas manifestações que determinam aglomeração de multidões (de caracter politico, desportivo ou reivindicativo), banimento de usos e costumes sociais e religiosos (uso da burka, proibição de consumir determinados alimentos, destruição de minaretes), ataques organizados de países uns contra outros a pretexto de razões humanitárias (Libia, Siria, Afeganistão) ao mesmo tempo que se desprezam situações de verdadeiras calamidades (Sudão, Darfour, Sudeste asiático, Guiné-Bissau) porque não envolvem interesse económico, etc. etc. 
                    O mesmo raciocinio se pode aplicar à Europa de hoje, continente em recessão acelerada porque não soube reagir ordenada e solidariamente a esta onda de mudança provocada pela globalização. O exemplo da guerra das Balcãs (que ainda não está resolvido) é a prova vergonhosa da incapacidade europeia de se transformar face ao desenvolvimento acelerado dos gigantes subdesenvolvidos que, quais tsunamis imparáveis, estão a engolir o Ocidente engalfinhado nas suas contradições e preconceitos de classe e incapaz de se organizar no quadro duma  integração harmoniosa e solidaria capaz de solucionar os impasses economicos e sociais criados por essa mesma globalização. A situação desesperada da Grécia (que a não ser resolvida em breve conduzirá a União europeia a uma crise definitiva) está a ser usada por outros países (alguns europeus tambem) em proveito próprio sem curar as graves consequencias que o desmantelamento do mundo trará para toda a Humanidade.

                          ALBINO ZEFERINO  (em dia de reflexão profunda)   26/5/2012 

terça-feira, 15 de maio de 2012

JOGOS DE GUERRA

Imaginemos o seguinte cenário: 
1. Os gregos não se entendem para a formação de um 
novo governo em função dos resultados das ultimas eleições 
legislativas. A extrema-esquerda subira exponencialmente retirando 
aos chamados partidos do arco governativo a possibilidade de formar um 
governo maioritário, mesmo coligados entre si. Em sondagem realizada 
antes das eleições, cerca de 70% dos gregos tinham afirmado não 
desejar que o seu país abandonasse a zona euro para poder continuar a 
beneficiar da ajuda financeira especial proporcionada pela União 
europeia e pelo FMI. Paradoxalmente, por outro lado, a votação popular 
tinha retirado aos partidos defensores da permanencia da Grécia no 
euro, a possibilidade de formar um governo maioritário constituido por 
partidos pró-euro, necessário para que a ajuda internacional 
extraordinária prosseguisse. A solução constitucional apontava para a 
realização de novas eleições no sentido de tentar de novo encontrar 
uma base parlamentar maioritária de governo. Contudo, as sondagens já 
realizadas depois do sufrágio apontavam para um ainda maior apoio 
popular aos partidos anti-austeridade, resultante da aplicação do 
programa europeu de ajuda financeira à Grécia. Uma leitura politica da 
situação sugeria que a maioria dos gregos queria continuar a 
beneficiar das vantagens de continuar no euro, mas sem os 
inconvenientes de ter que pagar os empréstimos internacionais 
concedidos durante anos à Grécia. A situação era de impasse, com a 
agravante de ter sido suspensa a ajuda financeira internacional 
iniciada dois anos antes, impedindo as entradas de dinheiro 
necessárias para o governo em gestão pagar salários e manter os 
serviços publicos a funcionar. O ambiente social na capital e noutras 
cidades mais populosas estava cada vez mais tenso, verificando-se 
constantes actos de desordem civil que a policia não mostrava 
capacidade de conter. Multiplicavam-se as greves e as desordens de 
rua, os roubos descarados aos supermercados e o não cumprimento das 
obrigações civicas minimas. Instalara-se assim nas Forças armadas 
gregas (poderosas e poupadas à austeridade geral imposta pelas medidas 
da troika) um sentimento de indispensabilidade de intervenção para 
travar as manifestações populares de anarquia que entretanto se 
instalara no país. O caminho para uma nova ditadura militar parecia 
ter-se aberto. 
2. Por um lado, preocupado com a situação grega 
que cada dia parecia mais incontrolável, mas por outro pressentindo 
nessa situação uma oportunidade de resolver a seu favor o velho 
diferendo que opunha a Turquia à Grécia, o primeiro-ministro turco, o 
muçulmano Erdogan, dava ordem às suas Forças armadas para 
intensificarem os exercícios militares perto da fronteira grego-turca. 
Simultâneamente despacha uma nutrida força naval para as águas 
territoriais da parte turca de Chipre, a pretexto de exercícios navais 
de rotina. Num assomo de patriotismo para mostrar serviço, o 
Estado-maior grego (aparentemente sem consultar o governo, com o 
pretexto de que era de gestão) despacha forças terrestres para a 
fronteira com a Turquia e envia uma esquadra de vasos de guerra em 
direcção a Chipre. O Estado-maior inter-armas norte-americano reúne de 
urgencia em Washington com o presidente Obama para análise da situação 
e resolve fazer deslocar de urgencia o porta-aviões Nimitz da 5ª 
Esquadra norte-americana estacionado no Mediterrâneo em direcção ao 
mar Egeu, enquanto dá ordem de prontidão à base aérea norte-americana 
de Ramstein, instalada no sul da Alemanha. Entretanto, o 
Secretário-geral da NATO convoca os ministros da Defesa dos países da 
organização para uma reunião de urgencia em Bruxelas. 
3. Aparentemente alheia a esta situação, a 
chanceler alemã Merkel continua a insistir com o presidente grego para 
encontrar uma solução constitucional para que o seu país possa 
finalmente formar um novo governo, que permita a normal continuidade 
da ajuda financeira internacional à Grécia. Alertadas pela 
comunicação social para a situação tensa que se estava a criar nas 
fronteiras do seu país, as numerosas associações de turcos emigrados 
na Alemanha, representando mais de 2 milhões de turcos, reage com 
comunicados inflamados contra os gregos acusando-os de estar a 
provocar uma guerra com a Turquia. A esta reacção associa-se a 
comunidade emigrada muçulmana, não só na Alemanha, mas tambem em 
França e no Benelux, criando um movimento espontâneo de cariz europeu 
que inicia manifestações de repudio contra os gregos e os seus aliados 
cristãos na Europa. O movimento alastra para Espanha e para Itália, 
onde vivem também nutridas comunidades muçulmanas, provocando 
disturbios mais ou menos graves nos diversos países onde residem. As 
reacções por parte de militantes dos partidos de extrema-direita nos 
vários países europeus não se fazem esperar e assiste-se a verdadeiras 
batalhas campais entre cristãos e muçulmanos nas cidades europeias 
mais importantes que as várias policias não conseguem suster, para 
deleite das televisões que tudo filmam não cessando de exaltar os 
ânimos dos contendores. 
4. Aproveitando a crescente confusão criada na 
Europa por esta crise de cariz religioso que alastrava e que fez 
esquecer a crise económica e monetária que lhe deu origem, o governo 
iraniano fez explodir a sua primeira ogiva nuclear, o que provocou uma 
imediata reacção por parte de Israel, que lançou de imediato e sem 
consulta prévia aos Estados Unidos, cada vez mais preocupados com a 
situação turco-grega que se agravava, uma represália nuclear sobre o 
Irão. Os seus efeitos foram devastadores. Milhões de iranianos mortos 
a acrescentar aos milhares de muçulmanos dizimados pelos radicais 
europeus na sua já guerra aberta contra a invasão islamista da Europa. 
Entretanto, forças militares turcas não cessavam de bombardear 
território grego e cipriota fazendo tambem milhares de mortos entre os 
gregos. A 3ª Grande Guerra tinha começado. 

ALBINO ZEFERINO 
15/5/2012 

segunda-feira, 14 de maio de 2012

O FLAGELO DO DESEMPREGO

Não deve haver nada pior do que alguem estar 
desempregado, com familia a seu cargo e sem perspectivas de voltar a 
conseguir um emprego que lhe dê valor à vida e dinheiro para se 
sustentar a si próprio e à familia que criou. Infelizmente são cada 
vez mais no nosso país os casos conhecidos de desempregados 
desesperados. Mas será esta situação irreversível? Não creio. 
O lema do emprego para todos (o chamado 
pleno-emprego) nunca passou de um mito, propalado desde o século XIX 
pelos marxistas para justificar a propagação das teses comunistas pela 
chamada classe operária. Ao apropriar-se da totalidade dos bens de 
produção, o Estado passava a garantir trabalho a todos. Houvesse ou 
não necessidade de trabalhadores neste ou naquele sector produtivo. 
Daqui resultava que o produto do trabalho de cada trabalhador não 
correspondia necessariamente a uma parte do produto nacional, mas a 
uma distribuição arbitrária (porque teórica) desse produto por todos 
os trabalhadores. Não existindo assim correspondencia economica entre 
o que o país produzia e as necessidades de trabalho dos seus cidadãos, 
a falência do Estado era a prazo inevitável. Foi o que se verificou 
com a perestroika que desmistificou as teses comunistas no mundo. 
Dirão alguns que as teses liberais, não garantindo trabalho para 
todos, mas sim apenas para os necessários à produção nacional, tambem 
não garantem a felicidade eterna de todos os cidadãos. É verdade. Mas 
tambem é verdade que quanto mais e melhor trabalhar uma sociedade, 
mais a sua produção cresce e mais trabalhadores emprega. Não será 
assim o desemprego mais um problema do desempregado do que do Estado? 
Explico-me. 
Enquanto os trabalhadores considerarem que o seu 
trabalho é eterno e que lhes pertence por direito próprio (como quem 
compra um bem e o faz seu por esse facto) não será possivel fazer 
progredir uma sociedade neste mundo global cada vez mais competitivo e 
desumano. Considerando-se dono do seu posto de trabalho (qual 
taberneiro detrás do seu balcão) o trabalhador pauta o seu trabalho 
pela sua vontade e não pela necessidade de trabalho que decorre do 
posto que ocupa. Psicologicamente este procedimento deriva do conceito 
de auto-gestão, muito arreigado em Portugal durante o PREC (e depois 
disso ainda) que era considerado uma forma mais humanizada de 
comunismo, inspirada no titismo jugoslavo. Pois é de uma mudança deste 
tipo de mentalidade que os desempregados portugueses precisam. 
O trabalho não é um dogma mas uma necessidade. Sem 
trabalho não há rendimento disponivel nem realização pessoal. Mas cada 
um deve procurar trabalho onde mais falta e não onde mais lhe apetece. 
Esta nova geração, mais instruida do que os seus pais, deveria mais 
facilmente do que eles perceber que o trabalho se procura e que os 
Centros de desemprego apenas estão ali para os ajudar a encontrá-lo. O 
Estado não tem nenhuma obrigação de arranjar empregos onde os 
trabalhadores não são necessarios, pelo contrário deve detectar 
situações de sub-emprego (como por exemplo nos Estaleiros navais de 
Viana do Castelo) onde existem trabalhadores excedentários que impedem 
as empresas de gerar lucros e promover as respectivas reestruturações 
necessárias à manutenção dos postos de trabalho indispensáveis para a 
empresa em questão ser economicamente viável. 
Quanto aos trabalhadores considerados 
excedentários (ou porque têm menos formação, ou porque têm menos 
capacidades, ou porque as suas especialidades deixaram de ser úteis 
pelos avanços das tecnologias, ou por qualquer outra razão) deverão 
reconverter-se, tentando exercer novas actividades em sectores onde 
são mais necessários. Não se diz que os nossos campos estão 
desaproveitados e que por isso somos importadores excessivos de bens 
alimentares? Porque há tantos portugueses a ir para a apanha da 
azeitona em Espanha e para as vindimas na Europa central? Não haverá 
oliveiras suficientes ou vinhas disponiveis em Portugal? E pessoal 
doméstico? Terão as caboverdeanas e as brasileiras açambarcado todas 
as necessidades em pessoal doméstico? E que tal abrir uma lojinha de 
costura ou de retrosaria no bairro? E pescar nas extensas costas de 
Portugal? Porque razão os empregados nos hoteis na Suiça são quase 
todos portugueses? Em Portugal não há hoteis? Ou os brasileiros 
trabalham mais e melhor? Quantos pretos estão desempregados em 
Portugal? Não haverá ainda mais desempregados do que aqui nos seus 
países de origem? 

ALBINO ZEFERINO 
13/5/2012 

A LIÇÃO ESPANHOLA

Foi preciso acontecer a cimeira luso-espanhola 
para ouvir o presidente daquele país dizer na televisão portuguesa que 
sem equilibrio orçamental não há crescimento. Já há muito tempo que o 
nosso primeiro-ministro dizia isto mas como vinha dele (o povinho é 
desconfiado há muitos séculos, não fosse tão matreiro) ninguem fazia 
caso. Mas quando estrangeiro fala, portugues cala. Quem ficou lixado 
com isto foi o PS que anda cada vez mais confuso sobre a posição a 
tomar quanto ao apoio a dar às iniciativas governamentais, entalado 
nas duvidas entre dar o seu apoio e desaparecer ou contrariar as 
medidas e ficar por aldrabão junto do Zé povinho (pois todos sabem que 
foi Sócrates quem pediu ajuda externa). De outra forma não se percebe 
porque foi Seguro a correr pedir ajuda a Cavaco. O malandro do 
presidente não se deverá ter descosido (percebe-se pelas desajeitadas 
e confusas declarações de Seguro à imprensa à saida de Belém) pois 
quanto mais confusão exista mais importancia lhe darão. A situação é 
porém "cristal clear" como Rajoy a expôs: sem equilibrio orçamental 
não é possivel crescer. Diz o povo com sabedoria que sem ovos não se 
podem fazer omoletes. 
Não creio assim que a politica do "espera pelo PS" 
seguida pelo governo numa manifestação caracteristicamente saloia de 
portuguesismo bacoco conduza a algum lado. Será preferivel deixar os 
socialistas a debaterem-se com as suas contradições e divisões e 
aproveitar enquanto é tempo (em politica a oportunidade é tudo) para 
mostrar serviço aproveitando a maioria parlamentar que apoia o 
governo. Olhe-se os gregos que de minoria parlamentar em minoria 
parlamentar estão cada vez mais tolhidos. Nos países onde o sistema 
eleitoral é maioritário (Espanha, Grã-Bretanha e França, por exemplo) 
e não proporcional (como em Portugal, Grécia, Itália etc.) os 
respectivos governos são sempre maioritários, mas quase sempre por 
pouco (bastam 50% dos votos expressos) não se coibindo de tomar as 
medidas estruturais que julgam necessárias para o progresso dos 
respectivos países (será que Thatcher esteve à espera do apoio dos 
socialistas ingleses para invadir as Malvinas ou para fazer ajoelhar 
os sindicatos que estavam a destruir o país com as suas exigencias e 
chantagens?). A concertação social e politica é uma coisa muito bonita 
quando a sua procura não prejudica os interesses estratégicos do país. 
E quanto a estes, não há duvida de quais sejam hoje em Portugal. Basta 
seguir o memorando da troika. Estão lá todos. O actual governo tem uma 
vantagem enorme sobre os outros que o antecederam: tem uma estratégia 
que foi definida por terceiros (a sua responsabilidade recai apenas na 
execução do programa) a pedido daqueles que hoje são oposição (os 
verdadeiros responsáveis pela estratégia que agora insinuam combater). 
Fora disso a concertação social e politica é perversa. E há um ano que 
estamos a sentir essa perversão. O país não avança, os rumores de 
desentendimentos politicos aumentam, a corrupção não pára, o 
desemprego sobe sem que se vejam as contrapartidas económicas dessa 
subida, a despesa publica não diminui, já se ouve falar de mais 
aumentos de impostos para compensar a perda de receitas, o nivel de 
vida começa a baixar, há cada vez mais pobres e mais empresas a abrir 
falencia, a insegurança publica e a corrupção nas policias aumenta ao 
ritmo das admissões de pessoal, os tribunais não julgam os 
mega-processos (os juizes têm medo de serem baleados), os bancos estão 
falidos e continuam a oferecer serviços de crédito, etc.,etc. E tudo 
isto porquê? Porque o governo tem medo de desagradar aos socialistas, 
quando o seu apoio politico é dispensável e está cada vez mais vago. 
É tempo do governo deixar de procurar consensos 
para tudo e para nada e começar a agir coordenadamente (o PM é um bom 
comunicador mas um mau coordenador) executando sem tergiversações o 
que está previsto no plano da troika nos prazos fixados, doa a quem 
doer. Só assim terá o apoio do povinho que cada vez mais encolhido não 
deixará de reconhecer coragem e determinação naqueles em quem votou 
para governarem o país num momento dificil e complicado. 

ALBINO ZEFERINO 12/5/2012 

segunda-feira, 7 de maio de 2012

DEUTSCHLAND UBER ALLES



Em dia de eleições presidenciais francesas e na 
expectativa da provável vitória do candidato socialista, mais por 
inépcia do seu oponente do que por mérito próprio, parece-me oportuno 
tecer algumas considerações, não tanto quanto ao futuro da França, mas 
mais em relação ao futuro da Europa, que para nós tem mais 
importancia. A estratégia alemã, desenhada desde que a Alemanha 
aderiu à ideia da criação da então Comunidade económica europeia, foi 
sempre a da criação de um espaço vital onde os alemães pudessem 
afirmar-se (a velha ideia do "lebensraum" perseguida pelos 
nacional-socialistas, mas presente no imaginário alemão já desde a 
criação do primeiro Reich). Ora a CEE parecia ser o espaço ideal para 
a Alemanha começar a expandir-se, já não à custa de conquistas 
territoriais (as duas tentativas ensaiadas tinham terminado em penosos 
fracassos) mas sim economicamente, sector onde os alemães começavam a 
mostrar avanço relativamente aos seus principais vizinhos franceses e 
ingleses. Desde então, a história recente da Europa tem mostrado os 
avanços espectaculares que a Alemanha tem conseguido protagonizar, 
tendo-se tornado hoje no parceiro principal da actual União europeia e 
nessa medida o líder informal desta associação de países que parece 
ainda não ter encontrado o seu verdadeiro objectivo. 
A Alemanha de hoje alargou o seu "lebensraum" 
desde Palmela (sede da Autoeuropa) até Xangai (onde existe uma fábrica 
da Mercedes que fabrica alguns modelos topo de gama), utilizando as 
sinergias europeias e a força dos seus 500 milhões de habitantes. A 
Alemanha não está assim interessada em que a continuidade da UE e do 
euro (criado pelos alemães na sequencia da reunificação alemã) sejam 
postos em causa. Para isso é necessário "domesticar" os países 
problemáticos que põem em causa o euro forte e o papel da Europa como 
motor de desenvolvimento global. Portugal e a Grécia, pela sua 
pequenez e insignificancia economicas, não constituem qualquer 
problema para os desígnios universalistas da Alemanha. Já a Espanha e 
sobretudo a Itália e agora a França socialista de Hollande, serão 
ossos mais duros de roer (os britanicos auto-excluiram-se como sempre 
têm feito). Os alemães bem sabem o que custou integrar a antiga RDA 
com a sua estatizada economia e os seus direitos sociais e o dogma 
marxista do trabalho para todos. Ainda hoje a unidade alemã não está 
finalizada, tendo os comunistas ressurgido há algum tempo 
transvestidos no partido "Die Linke" (que felizmente não atingiu o 
score minimo para fazer parte do Parlamento alemão). 
Se quisermos sair limpamente do nosso imbróglio, 
não teremos outra solução senão aceitarmos pacatamente a supremacia 
europeia da Alemanha, fazendo o que os alemães nos mandarem fazer 
através das instancias comunitárias que eles cada vez mais controlam, 
deixando-nos de fantasias herdadas dos 35 anos de bandalheira nacional 
e cumprindo sem tergiversações bacocas os ditames da troika. Só deste 
modo teremos oportunidade de voltar a fazer parte de corpo inteiro 
duma Europa cada vez mais unida e integrada, fazendo valer as nossas 
mais-valias e desfrutando dum modo de vida superior num mundo cada vez 
mais global e integrado. O partido socialista terá que compreender 
isto mais tarde ou mais cedo e deixar de olhar exclusivamente para o 
seu umbigo, sob pena de vir a ser responsabilizado pela catástrofe que 
seria a exclusão de Portugal do euro e consequentemente da União 
europeia. 

ALBINO ZEFERINO 
6/5/2012 

A PESCADINHA DE RABO NA BOCA


Na véspera das eleições presidenciais francesas 
fala-se muito de como moderar a austeridade que a situação em que 
caímos nos impôs. Esperam os críticos desta dificil marcha para a 
redenção que a provável vitória do candidato socialista em França dê 
um novo rumo à politica europeia que permita um abrandamento dos 
sacrificios que a troika nos exige. Triste ilusão! Em primeiro lugar, 
a França já não é a potencia dominante na Europa quando as suas 
opiniões mobilizavam um continente devastado pela guerra mundial, não 
me parecendo que os alemães da Merkel e do seu ministro das Finanças 
paralítico, Schauble, estejam dispostos a mudar de rumo apenas porque 
o eventual novo presidente francês não concorda com eles. Mal este se 
aperceba de que os alemães não farão caso das suas opiniões, 
imediatamente se apressará a rectificar os seus deslizes 
eleitoralistas, alinhando como fez Sarkozy com as teses germanicas 
(fingindo serem suas) e deixando lusos, gregos e quejandos a chuchar 
no dedo. 
Em segundo lugar, a questão não se resolve 
despejando dinheiro sobre os desgraçados intervencionados com o 
pretexto de lhes fazer aumentar a sua capacidade produtiva, mas pelo 
contrário, exigindo o cumprimento rigoroso das medidas constantes do 
memorando da troika. Enquanto não se fizerem as reformas estruturais 
que eliminem as causas endógenas que conduziram Portugal ao estado de 
descalabro financeiro em que se encontra, não será possivel começarmos 
a criar a riqueza necessária para criar emprego e reiniciar o 
desenvolvimento económico. Teremos que fazer esta travessia do deserto 
com as privações que ela implica e sem quaisquer mostras de 
desfalecimento nem de falta de entusiasmo. O desemprego tenderá a 
aumentar enquanto não forem criadas as estruturas indispensáveis para 
voltarmos de forma sustentada e credivel aos mercados. Quem não tiver 
entendido isto, ou é ignorante ou age de má-fé. E infelizmente temos 
cá muito de ambos. A questão não é portanto nem simples, nem linear. 
Não é simples, porque é mais dificil convencer o ignorante com fome de 
que tem que plantar antes de comer, do que atiçar o seu desespero 
lançando sobre terceiros a responsabilidade de lhe arranjar comida. E 
tambem não é linear, pois por muito que se consiga suster os 
desanimados da vida prometendo-lhes paz e prosperidade para breve, a 
salvação não depende exclusivamente de nós. Depende tambem dos gregos, 
dos espanhois e do futuro da União europeia e do euro. 
Estamos portanto numa situação de grande indefinição 
quanto ao futuro que nos espera. Sem dinheiro não poderemos investir 
para produzir mais e melhor para nos desenvolvermos e para assim 
travar o aumento do desemprego. Aumentando o desemprego vamos gastar 
cada vez mais para sustentar os desempregados e os jovens à procura de 
futuro. Gastando demais com os desvalidos, não teremos dinheiro para 
fazer face às obrigações constitucionais do Estado social (saúde para 
todos, escola para todos, rendimento minimo para todos, transportes 
publicos para todos, etc. etc.). A solução será reformar o Estado 
conforme com as determinações da troika (Soares, Cavaco, Guterres, 
Barroso, Santana e Sócrates não foram capazes de o fazer por si sós) 
aguentar com estoicismo alguns anos até que as reestruturações dêem 
frutos e só então levantar cabeça e tentar que invistam em nós. Haja 
entretanto juízo e saúde! 

ALBINO ZEFERINO 
5/5/2012