Não deve haver nada pior do que alguem estar
desempregado, com familia a seu cargo e sem perspectivas de voltar a
conseguir um emprego que lhe dê valor à vida e dinheiro para se
sustentar a si próprio e à familia que criou. Infelizmente são cada
vez mais no nosso país os casos conhecidos de desempregados
desesperados. Mas será esta situação irreversível? Não creio.
O lema do emprego para todos (o chamado
pleno-emprego) nunca passou de um mito, propalado desde o século XIX
pelos marxistas para justificar a propagação das teses comunistas pela
chamada classe operária. Ao apropriar-se da totalidade dos bens de
produção, o Estado passava a garantir trabalho a todos. Houvesse ou
não necessidade de trabalhadores neste ou naquele sector produtivo.
Daqui resultava que o produto do trabalho de cada trabalhador não
correspondia necessariamente a uma parte do produto nacional, mas a
uma distribuição arbitrária (porque teórica) desse produto por todos
os trabalhadores. Não existindo assim correspondencia economica entre
o que o país produzia e as necessidades de trabalho dos seus cidadãos,
a falência do Estado era a prazo inevitável. Foi o que se verificou
com a perestroika que desmistificou as teses comunistas no mundo.
Dirão alguns que as teses liberais, não garantindo trabalho para
todos, mas sim apenas para os necessários à produção nacional, tambem
não garantem a felicidade eterna de todos os cidadãos. É verdade. Mas
tambem é verdade que quanto mais e melhor trabalhar uma sociedade,
mais a sua produção cresce e mais trabalhadores emprega. Não será
assim o desemprego mais um problema do desempregado do que do Estado?
Explico-me.
Enquanto os trabalhadores considerarem que o seu
trabalho é eterno e que lhes pertence por direito próprio (como quem
compra um bem e o faz seu por esse facto) não será possivel fazer
progredir uma sociedade neste mundo global cada vez mais competitivo e
desumano. Considerando-se dono do seu posto de trabalho (qual
taberneiro detrás do seu balcão) o trabalhador pauta o seu trabalho
pela sua vontade e não pela necessidade de trabalho que decorre do
posto que ocupa. Psicologicamente este procedimento deriva do conceito
de auto-gestão, muito arreigado em Portugal durante o PREC (e depois
disso ainda) que era considerado uma forma mais humanizada de
comunismo, inspirada no titismo jugoslavo. Pois é de uma mudança deste
tipo de mentalidade que os desempregados portugueses precisam.
O trabalho não é um dogma mas uma necessidade. Sem
trabalho não há rendimento disponivel nem realização pessoal. Mas cada
um deve procurar trabalho onde mais falta e não onde mais lhe apetece.
Esta nova geração, mais instruida do que os seus pais, deveria mais
facilmente do que eles perceber que o trabalho se procura e que os
Centros de desemprego apenas estão ali para os ajudar a encontrá-lo. O
Estado não tem nenhuma obrigação de arranjar empregos onde os
trabalhadores não são necessarios, pelo contrário deve detectar
situações de sub-emprego (como por exemplo nos Estaleiros navais de
Viana do Castelo) onde existem trabalhadores excedentários que impedem
as empresas de gerar lucros e promover as respectivas reestruturações
necessárias à manutenção dos postos de trabalho indispensáveis para a
empresa em questão ser economicamente viável.
Quanto aos trabalhadores considerados
excedentários (ou porque têm menos formação, ou porque têm menos
capacidades, ou porque as suas especialidades deixaram de ser úteis
pelos avanços das tecnologias, ou por qualquer outra razão) deverão
reconverter-se, tentando exercer novas actividades em sectores onde
são mais necessários. Não se diz que os nossos campos estão
desaproveitados e que por isso somos importadores excessivos de bens
alimentares? Porque há tantos portugueses a ir para a apanha da
azeitona em Espanha e para as vindimas na Europa central? Não haverá
oliveiras suficientes ou vinhas disponiveis em Portugal? E pessoal
doméstico? Terão as caboverdeanas e as brasileiras açambarcado todas
as necessidades em pessoal doméstico? E que tal abrir uma lojinha de
costura ou de retrosaria no bairro? E pescar nas extensas costas de
Portugal? Porque razão os empregados nos hoteis na Suiça são quase
todos portugueses? Em Portugal não há hoteis? Ou os brasileiros
trabalham mais e melhor? Quantos pretos estão desempregados em
Portugal? Não haverá ainda mais desempregados do que aqui nos seus
países de origem?
ALBINO ZEFERINO
13/5/2012
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