segunda-feira, 14 de maio de 2012

A LIÇÃO ESPANHOLA

Foi preciso acontecer a cimeira luso-espanhola 
para ouvir o presidente daquele país dizer na televisão portuguesa que 
sem equilibrio orçamental não há crescimento. Já há muito tempo que o 
nosso primeiro-ministro dizia isto mas como vinha dele (o povinho é 
desconfiado há muitos séculos, não fosse tão matreiro) ninguem fazia 
caso. Mas quando estrangeiro fala, portugues cala. Quem ficou lixado 
com isto foi o PS que anda cada vez mais confuso sobre a posição a 
tomar quanto ao apoio a dar às iniciativas governamentais, entalado 
nas duvidas entre dar o seu apoio e desaparecer ou contrariar as 
medidas e ficar por aldrabão junto do Zé povinho (pois todos sabem que 
foi Sócrates quem pediu ajuda externa). De outra forma não se percebe 
porque foi Seguro a correr pedir ajuda a Cavaco. O malandro do 
presidente não se deverá ter descosido (percebe-se pelas desajeitadas 
e confusas declarações de Seguro à imprensa à saida de Belém) pois 
quanto mais confusão exista mais importancia lhe darão. A situação é 
porém "cristal clear" como Rajoy a expôs: sem equilibrio orçamental 
não é possivel crescer. Diz o povo com sabedoria que sem ovos não se 
podem fazer omoletes. 
Não creio assim que a politica do "espera pelo PS" 
seguida pelo governo numa manifestação caracteristicamente saloia de 
portuguesismo bacoco conduza a algum lado. Será preferivel deixar os 
socialistas a debaterem-se com as suas contradições e divisões e 
aproveitar enquanto é tempo (em politica a oportunidade é tudo) para 
mostrar serviço aproveitando a maioria parlamentar que apoia o 
governo. Olhe-se os gregos que de minoria parlamentar em minoria 
parlamentar estão cada vez mais tolhidos. Nos países onde o sistema 
eleitoral é maioritário (Espanha, Grã-Bretanha e França, por exemplo) 
e não proporcional (como em Portugal, Grécia, Itália etc.) os 
respectivos governos são sempre maioritários, mas quase sempre por 
pouco (bastam 50% dos votos expressos) não se coibindo de tomar as 
medidas estruturais que julgam necessárias para o progresso dos 
respectivos países (será que Thatcher esteve à espera do apoio dos 
socialistas ingleses para invadir as Malvinas ou para fazer ajoelhar 
os sindicatos que estavam a destruir o país com as suas exigencias e 
chantagens?). A concertação social e politica é uma coisa muito bonita 
quando a sua procura não prejudica os interesses estratégicos do país. 
E quanto a estes, não há duvida de quais sejam hoje em Portugal. Basta 
seguir o memorando da troika. Estão lá todos. O actual governo tem uma 
vantagem enorme sobre os outros que o antecederam: tem uma estratégia 
que foi definida por terceiros (a sua responsabilidade recai apenas na 
execução do programa) a pedido daqueles que hoje são oposição (os 
verdadeiros responsáveis pela estratégia que agora insinuam combater). 
Fora disso a concertação social e politica é perversa. E há um ano que 
estamos a sentir essa perversão. O país não avança, os rumores de 
desentendimentos politicos aumentam, a corrupção não pára, o 
desemprego sobe sem que se vejam as contrapartidas económicas dessa 
subida, a despesa publica não diminui, já se ouve falar de mais 
aumentos de impostos para compensar a perda de receitas, o nivel de 
vida começa a baixar, há cada vez mais pobres e mais empresas a abrir 
falencia, a insegurança publica e a corrupção nas policias aumenta ao 
ritmo das admissões de pessoal, os tribunais não julgam os 
mega-processos (os juizes têm medo de serem baleados), os bancos estão 
falidos e continuam a oferecer serviços de crédito, etc.,etc. E tudo 
isto porquê? Porque o governo tem medo de desagradar aos socialistas, 
quando o seu apoio politico é dispensável e está cada vez mais vago. 
É tempo do governo deixar de procurar consensos 
para tudo e para nada e começar a agir coordenadamente (o PM é um bom 
comunicador mas um mau coordenador) executando sem tergiversações o 
que está previsto no plano da troika nos prazos fixados, doa a quem 
doer. Só assim terá o apoio do povinho que cada vez mais encolhido não 
deixará de reconhecer coragem e determinação naqueles em quem votou 
para governarem o país num momento dificil e complicado. 

ALBINO ZEFERINO 12/5/2012 

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