Imaginemos o seguinte cenário:
1. Os gregos não se entendem para a formação de um
novo governo em função dos resultados das ultimas eleições
legislativas. A extrema-esquerda subira exponencialmente retirando
aos chamados partidos do arco governativo a possibilidade de formar um
governo maioritário, mesmo coligados entre si. Em sondagem realizada
antes das eleições, cerca de 70% dos gregos tinham afirmado não
desejar que o seu país abandonasse a zona euro para poder continuar a
beneficiar da ajuda financeira especial proporcionada pela União
europeia e pelo FMI. Paradoxalmente, por outro lado, a votação popular
tinha retirado aos partidos defensores da permanencia da Grécia no
euro, a possibilidade de formar um governo maioritário constituido por
partidos pró-euro, necessário para que a ajuda internacional
extraordinária prosseguisse. A solução constitucional apontava para a
realização de novas eleições no sentido de tentar de novo encontrar
uma base parlamentar maioritária de governo. Contudo, as sondagens já
realizadas depois do sufrágio apontavam para um ainda maior apoio
popular aos partidos anti-austeridade, resultante da aplicação do
programa europeu de ajuda financeira à Grécia. Uma leitura politica da
situação sugeria que a maioria dos gregos queria continuar a
beneficiar das vantagens de continuar no euro, mas sem os
inconvenientes de ter que pagar os empréstimos internacionais
concedidos durante anos à Grécia. A situação era de impasse, com a
agravante de ter sido suspensa a ajuda financeira internacional
iniciada dois anos antes, impedindo as entradas de dinheiro
necessárias para o governo em gestão pagar salários e manter os
serviços publicos a funcionar. O ambiente social na capital e noutras
cidades mais populosas estava cada vez mais tenso, verificando-se
constantes actos de desordem civil que a policia não mostrava
capacidade de conter. Multiplicavam-se as greves e as desordens de
rua, os roubos descarados aos supermercados e o não cumprimento das
obrigações civicas minimas. Instalara-se assim nas Forças armadas
gregas (poderosas e poupadas à austeridade geral imposta pelas medidas
da troika) um sentimento de indispensabilidade de intervenção para
travar as manifestações populares de anarquia que entretanto se
instalara no país. O caminho para uma nova ditadura militar parecia
ter-se aberto.
2. Por um lado, preocupado com a situação grega
que cada dia parecia mais incontrolável, mas por outro pressentindo
nessa situação uma oportunidade de resolver a seu favor o velho
diferendo que opunha a Turquia à Grécia, o primeiro-ministro turco, o
muçulmano Erdogan, dava ordem às suas Forças armadas para
intensificarem os exercícios militares perto da fronteira grego-turca.
Simultâneamente despacha uma nutrida força naval para as águas
territoriais da parte turca de Chipre, a pretexto de exercícios navais
de rotina. Num assomo de patriotismo para mostrar serviço, o
Estado-maior grego (aparentemente sem consultar o governo, com o
pretexto de que era de gestão) despacha forças terrestres para a
fronteira com a Turquia e envia uma esquadra de vasos de guerra em
direcção a Chipre. O Estado-maior inter-armas norte-americano reúne de
urgencia em Washington com o presidente Obama para análise da situação
e resolve fazer deslocar de urgencia o porta-aviões Nimitz da 5ª
Esquadra norte-americana estacionado no Mediterrâneo em direcção ao
mar Egeu, enquanto dá ordem de prontidão à base aérea norte-americana
de Ramstein, instalada no sul da Alemanha. Entretanto, o
Secretário-geral da NATO convoca os ministros da Defesa dos países da
organização para uma reunião de urgencia em Bruxelas.
3. Aparentemente alheia a esta situação, a
chanceler alemã Merkel continua a insistir com o presidente grego para
encontrar uma solução constitucional para que o seu país possa
finalmente formar um novo governo, que permita a normal continuidade
da ajuda financeira internacional à Grécia. Alertadas pela
comunicação social para a situação tensa que se estava a criar nas
fronteiras do seu país, as numerosas associações de turcos emigrados
na Alemanha, representando mais de 2 milhões de turcos, reage com
comunicados inflamados contra os gregos acusando-os de estar a
provocar uma guerra com a Turquia. A esta reacção associa-se a
comunidade emigrada muçulmana, não só na Alemanha, mas tambem em
França e no Benelux, criando um movimento espontâneo de cariz europeu
que inicia manifestações de repudio contra os gregos e os seus aliados
cristãos na Europa. O movimento alastra para Espanha e para Itália,
onde vivem também nutridas comunidades muçulmanas, provocando
disturbios mais ou menos graves nos diversos países onde residem. As
reacções por parte de militantes dos partidos de extrema-direita nos
vários países europeus não se fazem esperar e assiste-se a verdadeiras
batalhas campais entre cristãos e muçulmanos nas cidades europeias
mais importantes que as várias policias não conseguem suster, para
deleite das televisões que tudo filmam não cessando de exaltar os
ânimos dos contendores.
4. Aproveitando a crescente confusão criada na
Europa por esta crise de cariz religioso que alastrava e que fez
esquecer a crise económica e monetária que lhe deu origem, o governo
iraniano fez explodir a sua primeira ogiva nuclear, o que provocou uma
imediata reacção por parte de Israel, que lançou de imediato e sem
consulta prévia aos Estados Unidos, cada vez mais preocupados com a
situação turco-grega que se agravava, uma represália nuclear sobre o
Irão. Os seus efeitos foram devastadores. Milhões de iranianos mortos
a acrescentar aos milhares de muçulmanos dizimados pelos radicais
europeus na sua já guerra aberta contra a invasão islamista da Europa.
Entretanto, forças militares turcas não cessavam de bombardear
território grego e cipriota fazendo tambem milhares de mortos entre os
gregos. A 3ª Grande Guerra tinha começado.
ALBINO ZEFERINO
15/5/2012
Sem comentários:
Enviar um comentário