terça-feira, 15 de maio de 2012

JOGOS DE GUERRA

Imaginemos o seguinte cenário: 
1. Os gregos não se entendem para a formação de um 
novo governo em função dos resultados das ultimas eleições 
legislativas. A extrema-esquerda subira exponencialmente retirando 
aos chamados partidos do arco governativo a possibilidade de formar um 
governo maioritário, mesmo coligados entre si. Em sondagem realizada 
antes das eleições, cerca de 70% dos gregos tinham afirmado não 
desejar que o seu país abandonasse a zona euro para poder continuar a 
beneficiar da ajuda financeira especial proporcionada pela União 
europeia e pelo FMI. Paradoxalmente, por outro lado, a votação popular 
tinha retirado aos partidos defensores da permanencia da Grécia no 
euro, a possibilidade de formar um governo maioritário constituido por 
partidos pró-euro, necessário para que a ajuda internacional 
extraordinária prosseguisse. A solução constitucional apontava para a 
realização de novas eleições no sentido de tentar de novo encontrar 
uma base parlamentar maioritária de governo. Contudo, as sondagens já 
realizadas depois do sufrágio apontavam para um ainda maior apoio 
popular aos partidos anti-austeridade, resultante da aplicação do 
programa europeu de ajuda financeira à Grécia. Uma leitura politica da 
situação sugeria que a maioria dos gregos queria continuar a 
beneficiar das vantagens de continuar no euro, mas sem os 
inconvenientes de ter que pagar os empréstimos internacionais 
concedidos durante anos à Grécia. A situação era de impasse, com a 
agravante de ter sido suspensa a ajuda financeira internacional 
iniciada dois anos antes, impedindo as entradas de dinheiro 
necessárias para o governo em gestão pagar salários e manter os 
serviços publicos a funcionar. O ambiente social na capital e noutras 
cidades mais populosas estava cada vez mais tenso, verificando-se 
constantes actos de desordem civil que a policia não mostrava 
capacidade de conter. Multiplicavam-se as greves e as desordens de 
rua, os roubos descarados aos supermercados e o não cumprimento das 
obrigações civicas minimas. Instalara-se assim nas Forças armadas 
gregas (poderosas e poupadas à austeridade geral imposta pelas medidas 
da troika) um sentimento de indispensabilidade de intervenção para 
travar as manifestações populares de anarquia que entretanto se 
instalara no país. O caminho para uma nova ditadura militar parecia 
ter-se aberto. 
2. Por um lado, preocupado com a situação grega 
que cada dia parecia mais incontrolável, mas por outro pressentindo 
nessa situação uma oportunidade de resolver a seu favor o velho 
diferendo que opunha a Turquia à Grécia, o primeiro-ministro turco, o 
muçulmano Erdogan, dava ordem às suas Forças armadas para 
intensificarem os exercícios militares perto da fronteira grego-turca. 
Simultâneamente despacha uma nutrida força naval para as águas 
territoriais da parte turca de Chipre, a pretexto de exercícios navais 
de rotina. Num assomo de patriotismo para mostrar serviço, o 
Estado-maior grego (aparentemente sem consultar o governo, com o 
pretexto de que era de gestão) despacha forças terrestres para a 
fronteira com a Turquia e envia uma esquadra de vasos de guerra em 
direcção a Chipre. O Estado-maior inter-armas norte-americano reúne de 
urgencia em Washington com o presidente Obama para análise da situação 
e resolve fazer deslocar de urgencia o porta-aviões Nimitz da 5ª 
Esquadra norte-americana estacionado no Mediterrâneo em direcção ao 
mar Egeu, enquanto dá ordem de prontidão à base aérea norte-americana 
de Ramstein, instalada no sul da Alemanha. Entretanto, o 
Secretário-geral da NATO convoca os ministros da Defesa dos países da 
organização para uma reunião de urgencia em Bruxelas. 
3. Aparentemente alheia a esta situação, a 
chanceler alemã Merkel continua a insistir com o presidente grego para 
encontrar uma solução constitucional para que o seu país possa 
finalmente formar um novo governo, que permita a normal continuidade 
da ajuda financeira internacional à Grécia. Alertadas pela 
comunicação social para a situação tensa que se estava a criar nas 
fronteiras do seu país, as numerosas associações de turcos emigrados 
na Alemanha, representando mais de 2 milhões de turcos, reage com 
comunicados inflamados contra os gregos acusando-os de estar a 
provocar uma guerra com a Turquia. A esta reacção associa-se a 
comunidade emigrada muçulmana, não só na Alemanha, mas tambem em 
França e no Benelux, criando um movimento espontâneo de cariz europeu 
que inicia manifestações de repudio contra os gregos e os seus aliados 
cristãos na Europa. O movimento alastra para Espanha e para Itália, 
onde vivem também nutridas comunidades muçulmanas, provocando 
disturbios mais ou menos graves nos diversos países onde residem. As 
reacções por parte de militantes dos partidos de extrema-direita nos 
vários países europeus não se fazem esperar e assiste-se a verdadeiras 
batalhas campais entre cristãos e muçulmanos nas cidades europeias 
mais importantes que as várias policias não conseguem suster, para 
deleite das televisões que tudo filmam não cessando de exaltar os 
ânimos dos contendores. 
4. Aproveitando a crescente confusão criada na 
Europa por esta crise de cariz religioso que alastrava e que fez 
esquecer a crise económica e monetária que lhe deu origem, o governo 
iraniano fez explodir a sua primeira ogiva nuclear, o que provocou uma 
imediata reacção por parte de Israel, que lançou de imediato e sem 
consulta prévia aos Estados Unidos, cada vez mais preocupados com a 
situação turco-grega que se agravava, uma represália nuclear sobre o 
Irão. Os seus efeitos foram devastadores. Milhões de iranianos mortos 
a acrescentar aos milhares de muçulmanos dizimados pelos radicais 
europeus na sua já guerra aberta contra a invasão islamista da Europa. 
Entretanto, forças militares turcas não cessavam de bombardear 
território grego e cipriota fazendo tambem milhares de mortos entre os 
gregos. A 3ª Grande Guerra tinha começado. 

ALBINO ZEFERINO 
15/5/2012 

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