segunda-feira, 7 de maio de 2012

DEUTSCHLAND UBER ALLES



Em dia de eleições presidenciais francesas e na 
expectativa da provável vitória do candidato socialista, mais por 
inépcia do seu oponente do que por mérito próprio, parece-me oportuno 
tecer algumas considerações, não tanto quanto ao futuro da França, mas 
mais em relação ao futuro da Europa, que para nós tem mais 
importancia. A estratégia alemã, desenhada desde que a Alemanha 
aderiu à ideia da criação da então Comunidade económica europeia, foi 
sempre a da criação de um espaço vital onde os alemães pudessem 
afirmar-se (a velha ideia do "lebensraum" perseguida pelos 
nacional-socialistas, mas presente no imaginário alemão já desde a 
criação do primeiro Reich). Ora a CEE parecia ser o espaço ideal para 
a Alemanha começar a expandir-se, já não à custa de conquistas 
territoriais (as duas tentativas ensaiadas tinham terminado em penosos 
fracassos) mas sim economicamente, sector onde os alemães começavam a 
mostrar avanço relativamente aos seus principais vizinhos franceses e 
ingleses. Desde então, a história recente da Europa tem mostrado os 
avanços espectaculares que a Alemanha tem conseguido protagonizar, 
tendo-se tornado hoje no parceiro principal da actual União europeia e 
nessa medida o líder informal desta associação de países que parece 
ainda não ter encontrado o seu verdadeiro objectivo. 
A Alemanha de hoje alargou o seu "lebensraum" 
desde Palmela (sede da Autoeuropa) até Xangai (onde existe uma fábrica 
da Mercedes que fabrica alguns modelos topo de gama), utilizando as 
sinergias europeias e a força dos seus 500 milhões de habitantes. A 
Alemanha não está assim interessada em que a continuidade da UE e do 
euro (criado pelos alemães na sequencia da reunificação alemã) sejam 
postos em causa. Para isso é necessário "domesticar" os países 
problemáticos que põem em causa o euro forte e o papel da Europa como 
motor de desenvolvimento global. Portugal e a Grécia, pela sua 
pequenez e insignificancia economicas, não constituem qualquer 
problema para os desígnios universalistas da Alemanha. Já a Espanha e 
sobretudo a Itália e agora a França socialista de Hollande, serão 
ossos mais duros de roer (os britanicos auto-excluiram-se como sempre 
têm feito). Os alemães bem sabem o que custou integrar a antiga RDA 
com a sua estatizada economia e os seus direitos sociais e o dogma 
marxista do trabalho para todos. Ainda hoje a unidade alemã não está 
finalizada, tendo os comunistas ressurgido há algum tempo 
transvestidos no partido "Die Linke" (que felizmente não atingiu o 
score minimo para fazer parte do Parlamento alemão). 
Se quisermos sair limpamente do nosso imbróglio, 
não teremos outra solução senão aceitarmos pacatamente a supremacia 
europeia da Alemanha, fazendo o que os alemães nos mandarem fazer 
através das instancias comunitárias que eles cada vez mais controlam, 
deixando-nos de fantasias herdadas dos 35 anos de bandalheira nacional 
e cumprindo sem tergiversações bacocas os ditames da troika. Só deste 
modo teremos oportunidade de voltar a fazer parte de corpo inteiro 
duma Europa cada vez mais unida e integrada, fazendo valer as nossas 
mais-valias e desfrutando dum modo de vida superior num mundo cada vez 
mais global e integrado. O partido socialista terá que compreender 
isto mais tarde ou mais cedo e deixar de olhar exclusivamente para o 
seu umbigo, sob pena de vir a ser responsabilizado pela catástrofe que 
seria a exclusão de Portugal do euro e consequentemente da União 
europeia. 

ALBINO ZEFERINO 
6/5/2012 

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