quarta-feira, 13 de novembro de 2013

AFINAL O QUE TROUXE PASSOS COELHO PARA PORTUGAL?


          Agora que estamos na recta final da ajuda financeira internacional - pelo menos da primeira (as anteriores protagonizadas por Soares foram "paninhos quentes" para disfarçar a fome, comparadas com esta) - provocada pela crise financeira internacional (e ajudada por Sócrates) já será possivel fazer, não direi um balanço (pois este só será possivel depois de sabermos os resultados concretos desta ajuda) da acção do governo de Passos, mas uma reflexão sobre as consequencias sociológicas da acção de Passos (e menos sobre a eficácia real desta acção) na salvação de Portugal.
          É óbvio o estado deprimente que esta acção provocou na vida dos portugueses, fustigados pelas medidas de austeridade lançadas pelo governo de Passos sobre a generalidade da população portuguesa que, desde os pobres que ficaram ainda mais pobres à chamada classe média que perdeu toda a esperança duma vida melhor, se queixam de que Passos lhes retirou o conforto que o laxismo financeiro de 40 anos de governação descuidada lhes trouxera. Dir-se-á que sem a troika não teria sido possivel fazer o que Passos fez. Mas tambem se poderá dizer que sem a troika provavelmente estariamos todos ainda pior. Mal por mal, talvez tivesse sido preferivel deixar correr o marfim e confiar na Virgem para nos salvar das trevas, dirão outros. Esquecem-se porém que com o dinheiro não se brinca e que sem dinheiro não há boa vida.
          Então o que se pode retirar de positivo na acção de Passos como primeiro-ministro dum governo submetido a um plano de saneamento financeiro de consequencias brutais na vida quotidiana das pessoas? Eu diria que muito. Passos teve a coragem e a determinação de conduzir uma reforma indispensável para a manutenção de Portugal no seio da comunidade de Nações independentes, inserido num bloco comunitário de países desenvolvidos e democráticos que são referencia para a maioria dos povos do mundo. Por menos do que nos está a acontecer houve durante a história mundial o desaparecimento de Estados-Nação (com pelo menos os mesmos pregaminhos dos nossos) que foram absorvidos por vizinhos, ou pura e simplesmente apagados do mapa. Refiro-me à Prussia, à Baviera, à Escócia, à Sicilia, à Sardenha, a Nápoles, a Leão, a Castela e a Aragão, à Catalunha, à Eslováquia e aos Países do Báltico (que entretanto renasceram), à Sérvia, à Croácia e à Macedónia, à Arménia, à Mongólia, e a muitos outros de que a história menos fala. Outros que não existiam foram criados para satisfazerem estatégias políticas e geográficas (a Bélgica, o Luxemburgo, a Conferderação Suiça, a Irlanda, a Republica Checa, o Kosovo, etc.). Não se pense que a independencia de Portugal está assegurada ad aeternum só porque estamos numa ponta da Europa que aparentemente não interessa a ninguém. Basta que a U.E. resolva que todos os seus Estados Membros se unam numa confederação de Estados semi-soberanos (de soberania partilhada) para que a independencia de que gozamos há séculos desapareça e nos deixe ainda mais dependentes do que somos hoje.
          Poderá dizer-se que Passos poderia ter feito o mesmo sem causar tanta dor? Talvez. Mas seria possivel iniciar reformas determinantes para o país mais cedo, sem causar as perturbações sociais que os gregos experimentaram? Não creio. A coabitação forçada com Portas, por outro lado, não tem sido fácil (veja-se, por exemplo, a demissão irrevogável do antigo ministro dos Negócios Estrangeiros, que ia estragando tudo) pois a sua ânsia de protagonismo e a sua intrinseca demagogia não facilitam o saneamento tranquilo e paulatino da situação de bancarrota em que fomos colocados. E depois quem nos garantia que os comunistas - na sua ânsia desesperada de não perderem as benesses que o PREC lhes proporcionou - aceitassem conformados uma reforma abrupta das leis do trabalho e um novo enquadramento dos funcionários publicos? As coisas dificeis devem ser feitas com cuidado e pouco a pouco para irem sendo progressivamente aceites pela população. Não é por acaso que a onda grevista que está a assolar o país tenha sido criada pelo PCP no momento em que o mais duro orçamento do Estado jamais apresentado está a ser discutido na Assembleia.
          Passos pode não sair em ombros como desejava deste exercicio, mas há que reconhecer que foi o único primeiro-ministro até hoje que conseguiu afrontar de peito aberto os fantasmas socio-politicos do passado oriundos do PREC, que ainda ontem obnubilavam os espiritos da generalidade dos portugueses, coartando a sua capacidade de julgamento objectivo das situações e limitando o raio de acção das suas escolhas. Passos é um democrata liberal (como são hoje a maioria dos seus homólogos europeus) disposto a sacrificar a sua imagem de politico profissional em prol da modernização do país e do seu povo, de forma a preservar a imagem de Portugal na Europa como um país de progresso e de desenvolvimento.

                                   ALBINO ZEFERINO                   13/11/2013
         
       
         
       
       

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