sábado, 4 de janeiro de 2014

A SAÍDA DA TROIKA


          Ouve-se agora a toda a hora que os portugas estão ansiosos para que chegue maio, para "se verem livres" da troika. Os pobres diabos atribuem à troika todos os malefícios que lhes fizeram perder empregos, dinheiro, salários, pensões, subsidios, abonos, carros, casas, almoçaradas e jantaradas, férias e um que outro extrazito. Pensam, coitados, que o relaxamento na vigilância das nossas excentricidades vai proporcionar, como por milagre, o regresso ao laxismo financeiro que conduziu Portugal ao estado em que está. Mas a coisa não será assim. Continuamos a dever muito (mais do que antes) e o nosso défice orçamental está longe de deixar tranquilos os credores que nos filaram. É mais ou menos como se um doente estivesse na expectativa do médico deixar de lhe receitar os remédios para imediatamente voltar aos excessos que o levaram inicialmente à doença.
          Estas almas não percebem que enquanto não conseguirmos endireitar as nossas vidas (ou seja, criar emprego útil, aumentar a produção, ganhar mais dinheiro, abandonar a nossa mentalidade queixosa e subsidiodependente, numa palavra, civilizar os nossos maus hábitos) não será possivel sair da crise. Há quem defenda (e curiosamente há quem acredite nisto) que é aumentando os ordenados, criando empregos desnecessários, fazendo obras inuteis, em suma, gastando o dinheiro que não temos, que conseguiremos sair deste poço sem fundo. A troika existe para nos emprestar o dinheiro de que necessitamos para manter o país à tona de água (para que haja alimentos nos supermercados, transportes que nos levem aos nossos destinos, gasolina para os nossos carros andarem, electricidade para as nossas casas, restaurantes para comermos, água para bebermos e nos lavarmos, escolas para deixarmos os nossos filhos e lares para os nossos pais, enfim, serviços para que nos sirvamos e máquinas ATM para de lá tirarmos o dinheiro de que precisamos para viver).
          Não se pense que, com a saída da troika, deixaremos de prestar contas do dinheiro que periodicamente continuaremos a ter que pedir emprestado ao estrangeiro, para suprir a falta da quantia necessária para continuarmos a viver nos minimos. O resultado da produção nacional (impostos incluidos) não chega para cobrir 1/3 das necessidades financeiras do país. Esta situação vai durar certamente muito tempo a ser invertida (se algum dia o for) e o que temos que fazer por agora é conseguir endireitar as finanças de modo a que os nossos credores acreditem que retomamos o caminho do crescimento, para que nos continuem a emprestar o dinheiro de que precisamos para viver, a taxas de juro suportáveis. Enquanto a generalidade da portuguesia não meter isto na cabeça, nada feito.  Enquanto os partidos politicos (sobretudo o PS e os outros da oposição) continuarem a reclamar pelo fim da austeridade como se fosse esta a causa dos males que nos afligem (e não a ausencia completa de consciencia da necessidade de constituirmos uma frente unida nacional que consiga erradicar de vez o flagelo da crise) não conseguiremos chegar a bom porto. Não se pense que alemães ou outros venham em nosso socorro por terem pena da situação em que nos encontramos. Só não fomos ainda pelo cano abaixo porque usamos o euro e eles não querem que o euro se desfaça, porque tambem se prejudicariam. Mas não se pense que, se não tivermos juizo, eles não arranjem uma solução para isso (criando uma nova moeda só para países cumpridores, por exemplo) deixando os países incumpridores (como nós e os gregos) entregues ao euro, nessa altura já uma moeda sem valor e sem credibilidade internacional. Deus nos livre duma situação como essa!
          Se conseguirmos (como espero e desejo) evitar um 2º resgate (ou seja, um novo memorando de entendimento com novas medidas de austeridade ainda mais gravosas) já não seria mau. Mas dum programa cautelar não nos livraremos concerteza. A tibieza com que este governo aplicou o 1º resgate foi confrangedora (não conseguiu reesturturar a orgânica do Estado, não resolveu o problema da despesa excessiva do Estado, não renegociou capazmente as PPP leoninas, não privatizou as empresas publicas, não fez a reforma autárquica, não saneou a Administração Publica, não reformou a Justiça, não modernizou o sistema eleitoral, entre outros falhanços) indo assim obrigar o governo a pedir à UE a concessão dum programa cautelar que nos permita continuar a aceder ao mercado financeiro em condições de juro minimamente aceitáveis. Esperemos que as anunciadas fiscalizações sucessivas do famigerado tribunal constitucional não venham descaracterizar definitivamente o orçamento do Estado para este ano, forçando, então sim, um 2º resgate de consequencias desastrosas para o futuro próximo de Portugal.  Inch Alá!

                                    ALBINO ZEFERINO                                            4/1/2014

Sem comentários:

Enviar um comentário