quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

PORTUGAL EM SALDO


          A fome aguça o engenho, dizem os populares ditos que os portugueses melhor que ninguem criam para troçarem das suas desgraças colectivas. Verdadeiros tratados de sociologia, os proverbios populares são a génese intelectual do povo portugues, inculto, ignorante, primitivo e superficial, mas ao mesmo tempo, matreiro, vivo, profundo e sábio.  Quanto mais sofremos nesta luta contra as mentes mesquinhas e invejosas daqueles que nos perseguem (sejam os credores externos e internos, sejam os mentores da austeridade ou os seus críticos) que a fome (em sentido figurado entenda-se, porque hoje já ninguem morre de fome, como não morre de tifo, nem da tuberculose) nos impele a encontrar soluções cada vez mais engenhosas para enfrentar a crise. Desde que a Ferreira Leite se lembrou de intergrar nos cofres do Estado os fundos de pensões que medravam na paisagem desordenada da segurança social lusitana, que soluções cada vez mais engenhosas têm proliferado no mundinho financeiro deste Portugal das miniaturas do Bissaia de Coimbra.
          A cedência a quem mais dinheiro oferecer das joias da coroa portuguesa (EDP, REN, ANA, TAP, seguros da CGD, GALP, PT, CIMPOR, SOMAGUE, TOTTA, BCP, BPSM, CTT e outras que hão-de vir) maioritariamente a estrangeiros, revela que Portugal não tem capacidade para se gerir a si próprio. No limiar de mais um grande passo no sentido da integração europeia com a criação da União bancária europeia, espécie de espaço bancário europeu (à semelhança do espaço social, cultural ou económico que já existem), o problema que agora se põe já não é a que grupo económico nacional vai pertencer determinado sector estratégico, mas a que país ele vai ser entregue. A avidez demonstrada por brasileiros e angolanos, que disputam entre si a primazia que a mesma lingua lhes confere para, controlando sectores vitais da economia portuguesa, entrarem na Europa como fazendo parte dela, vai ser o motor que impulsionará (ou não) Portugal para sair da crise. Quanto mais interesse a angolanos e a brasileiros suscitar a entrada neste novo mundo da banca europeia (ombreando com os grandes bancos ingleses, alemães e franceses) mais depressa os bancos sedeados em Portugal se recomporão da pancada que a crise lhes causou. Os pequenos bancos (os que por si só não tenham musculo para acompanhar a passada europeia serão absorvidos ou cairão). Dos grandes, só o BES ainda depende de portugueses. Todos os outros são já angolanos ou brasileiros (excepção feita ao TOTTA, que os espanhois usam como agencia ibérica).
          Mas o próprio BES está hoje em fase de reestruturação accionista. Decidida já a substituição do portugues Salgado como presidente, a duvida quanto ao seu substituto subsiste entre o brasileiro Abecassis (presidente do BESI Brasil) e o angolano Morais Pires (originário do BES Angola). É certo que ambos pertencem ainda à familia. Um pelo sangue, outro pela confiança. Mas não se pense que os responsáveis angolanos e brasileiros não estejam por detrás desta escolha. Portugal está a saldo e é no nosso território onde hoje se discutem as influencias europeias que as potencias extra-europeias pretendem conseguir.

                                   ALBINO ZEFERINO                            16/1/2014
         

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