sábado, 24 de janeiro de 2015

A NOVA AMEAÇA EUROPEIA OU O DESAPARECIMENTO DA GRÉCIA


          Nas vésperas duma eleição que tem tudo para se tornar a causa do desaparecimento da Grécia como país livre e independente no seio da comunidade de Nações a que se convencionou chamar União europeia, paira no ar uma duvida existencial. Será que a UE como hoje a conhecemos deixará de ser o que é para se tornar numa espécie de Commonwealth ou de CPLP, apenas baseada em gestão de afectos ou de culturas, com a vitória anunciada da extrema esquerda grega nas eleições de amanhã? Não creio que isso aconteça, mesmo no caso em que a Grécia se veja forçada a pedir a sua saída do euro e consequentemente da própria União.
          Com a previsivel vitória do Syrisa, que passará a conduzir os destinos gregos - mesmo que seja em coligação - iniciar-se-á uma fase nova na União, da qual o espectacular e imprevisivel anuncio de Draghi da passada 5ª feira de que o BCE irá passar a comprar divida publica dos Estados membros em dificuldades financeiras constitui anuncio prévio. As politicas alemãs da simples imposição da austeridade aos países relapsos como forma de os castigar pelos seus gastos perdulários parece ter chegado ao fim. O anuncio de Draghi consistiu num aviso pré-eleitoral aos gregos: se votarem a favor da UE podem contar com o QE (quantitative easing). Em caso contrário, não contem conosco. Creio porém que o anuncio da "cenoura" não será suficientemente forte para calar a indignação grega que vai preferir sujeitar-se ao "chicote". Só que a reacção às chicotadas vai levar à saida do euro e posteriormente ao abandono da própria UE.
          Se for este o caso, a primeira saída de um país membro duma organização que se tem baseado na integação e no aprofundamento das condições para se tornar numa verdadeira união politica de países soberanos (de soberania limitada é certo) poderá ter efeito sistémico e arrastar atrás de si novos abandonos por exaustão de forças ou de paciencia. E se assim for, não prevejo vida fácil (nem muito longa) a um projecto com mais de 60 anos saído duma guerra fratricida com a intenção de constituir a forma de evitar novas guerras e confrontos que pudessem destruir o continente. Por outro lado, aos países recalcitrantes tambem não prevejo longa vida e boa saude. Neste mundo cada vez mais globalizado, se não conseguiram aguentar-se dentro do redil, como querem sobreviver isolados sem a segurança que a pertença a uma entidade maior lhes proporciona? A saida da Grécia da União Europeia não será pretexto para que a Turquia - membro da NATO com especiais ligações com os EUA - volte a ameaçar a estabilidade territorial do seu vizinho? Como reagirão os EUA? E a NATO? E os países vizinhos? E os países do Médio Oriente, tão próximos geografica e culturalmente à Grécia?
          As eleições de amanhã na Grécia constituirão o primeiro grande desafio que a estabilidade europeia enquanto projecto politico comum vai enfrentar. A previsisvel vitória da extrema esquerda vai certamente trazer, no minimo, um grande desafio ao futuro da UE. A forma como o directório alemão vai reagir (se apoiando medidas como o QE de Draghi, se institucionalizando os hair cuts fianceiros ou inventando outras formas de solidariedade para com os mais pobres) não sei. Só sei que os gregos estão a jogar forte neste confronto. Ou serão os pioneiros duma nova Europa, mais social, mais solidária e mais unida, ou serão expulsos do conforto comunitário ficando à mercê do expansionismo otomano e comprometendo um projecto vital para o desenvolvimento europeu.

ALBINO ZEFERINO                                                   24/1/2015

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