sábado, 18 de abril de 2015

GREXIT


          Desde que os gregos manifestaram nas últimas eleições legislativas o seu desânimo face às politicas europeias aplicadas ao seu país votando maioritariamnete no partido extremista Syrisa cujo lider é hoje o PM grego, que se criou uma nova crise na UE resultante das diversas reacções que os europeus (e não só) apresentam relativamente ao futuro do euro, da sua zona e até da própria União europeia. A isto chamou-se mediaticamente Grexit, que significa Grecia exit, ou seja a Grécia tem que (ou vai) sair da UE. Não há dia onde as noticias mundiais não se refiram ao estado das pseudo-negociações que o actual governo diz manter com as autoridades europeias (nomeadamente com a comissão e com o governo alemão) sem que se tenha chegado a quaisquer conclusões para sair do impasse. Os europeus (sobretudo os alemães) não cedem na exigencia de impôr aos gregos a estabilidade orçamental e a redução da sua enorme divida publica através da implementação das reformas necessárias já anteriormente negociadas, enquanto que o novo governo grego - sempre afirmando publicamente a sua fé europeia - não quer desdizer o que prometeu na campanha eleitoral que seria a luta contra a austeridade imposta pela troika que estava a destruir o bem estar dos gregos e aumentando a depressão da Grécia.
          Não se pense porém que com o Grexit tudo se resolverá, a contento dos europeus (e do resto do mundo) e dos gregos (que passariam a fazer o que lhes passasse pela cabeça sem dar contas a ninguem). Pelo contrário. Uma hipotética saida da Grécia da zona do euro comprometeria todo o edificio monetário sobre o qual a UE assenta, tal como se um constructor resolvesse a meio duma obra retirar uma das fundações (ou sapatas como se diz em linguagem de empreiteiro) da casa em construcção. O resultado seria o imediato desabamento do que já estivesse erguido. Por essa simples e óbvia razão os tratados europeus não prevêm a saida de qualquer dos membros, quer da zona euro, quer da própria União. Se o Grexit não é possivel, o que fazer então?
          Chegados a um ponto de impasse - que creio ter sido atingido - haverá que apelar à responsabilidade das partes para as consequencias que uma negociação abortada poderá acarretar. Mais ou menos como acontecia antes na iminência duma declaração de guerra. À Europa não restará outra solução (e os alemães terão que aceitar isto) do que convencer os gregos a aceitar fazer as reformas mediante um tratamento de favor (ou seja, aplicável só a eles ou aos países que estejam na mesma situação) que sairá dos seus cofres. Aos gregos tambem não restará alternativa senão manter o governo do Syrisa continuando com a austeridade anterior ou então fazer novas eleições substituindo o governo do Syrisa por outro que faça as reformas necessárias. Ambos cedem e ambos avançam para o bem de todos. É isto o que está implicito nos tratados europeus e é isto o que a maioria dos europeus espera que aconteça.

                                   ALBINO ZEFERINO                            18/4/2015

3 comentários:

  1. Permito-me introduzir aqui algumas correções de tiro: O Grexit não só é possível, mas a prazo inevitável. O problema, com que nos defrontámos, é que na chamada teoria dos jogos, de que Varoufakis não só é perito como catedrático emérito, perante a eminência de colisão frontal, a Alemanha no último minuto recuou, não porque a Eurozona não pudesse aguentar a Grexit (ou seja, a saída da Grécia da moeda unica), pois existiam almofadas financeiras para isso - e nenhum dos outros PIIGS estaria em risco de sair, muito embora, conjunturalmente, o abalo pudesse ser grande, sem embargo suportável - a questão principal para Berlim era, porém, o desprestígio. Por conseguinte, uma questão política. Por outras palavras, o sistema criado em Maastricht e quase totalmente inspirado na Alemanha tinha falhado. "Quod erat demonstrandum!" O busílis estava - e continua a estar aqui. Resta saber se isto é sustentável durante muito mais tempo. O que realmente ainda hoje me espanta é a hesitação hamletiana da Alemanha que é o elo mais forte da cadeia. Não patenteia qualquer flexibilidade no QE e no alívio financeiro global da economia da eurozona, para se mostrar de uma total leviandade e "laissez aller"no caso grego? Porquê?

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Muito obrigado Unknown pelo seu excelente comentário à minha leviana prosa. A meu modesto ver "a Alemanha não patenteia qualquer flexibilidade no QE e no alivio financeiro global da eurozona" não por ser leviana ou desleixada, mas por táctica negocial.
      Como digo e repito no meu modesto escrito, a Alemanha aguarda (talvez ingenuamente,isso sim) que os gregos, pressionados pelas dificuldades financeiras que surgirão, despeçam o Syrisa ou lhe permitam que com ele sejam implementadas as reformas necessárias para que a Alemanha comece a "flexibilizar".
      By the way, conviria que os nossos compatriotas sempre tão atentos aos males alheios, pusessem aqui os olhinhos antes de fazerem qualquer disparate semelhante nas próximas eleições.
      ALBINO ZEFERINO

      Eliminar
    2. Este comentário foi removido pelo autor.

      Eliminar