terça-feira, 7 de abril de 2015

MANOEL DE OLIVEIRA, O PORTUGUES PORTUENSE


          Morreu o portugues que todos gostavamos de ter sido. Popular, artista, longevo e feliz. Manuel de seu nome e tripeiro de nascimento, Manoel de Oliveira foi o típico portugues da burguesia nortenha. Boémio na juventude, sem vocação definida a não ser perseguir as moçoilas do bairro, acabou agarrado a uma máquina de filmar. Fez um filme que o tornou conhecido no meio - Aniki Bóbó - e a seguir só fez disparates. Porém, como bom portugues que era (ainda por cima tripeiro), conseguiu, com lata e descontração natural, fazer passar os tristes documentários que ia fazendo ao sabor do imprevisto (a que ele chamava inspiração) como sendo obras primas do cinema portugues. Desde o "Douro faina litoral" ao "Benilde ou a Virgem Mãe", passando pelo "Non, ou a vã glória de mandar" e outras patacuadas, aproveitadas por espertalhões como o Paulo Branco para se promoverem a si próprios à custa da saloice nacional, lá foi deixando passar os anos agarrado à máquina, até que chegou aos 100. A partir daí já não foi preciso filmar mais. A sua existencia provecta bastava para lhe dar palco neste país de revista barata.
         As suas visitas bem organizadas a Cannes e a Veneza durante os habituais festivais de cinema trouxeram-lhe amizades úteis, como Malkovitch e Deneuve, que não se cansaram de enaltecer o génio do ancião lusitano. Depois foi a época dourada das Leonores Sliveiras e do netinho Trepa, que, sem grande vocação, bastava aparecerem ao lado do genial velhote para serem aplaudidos com ele pelos mamarrachos que protagonizavam juntos sob a batuta marota do "produtor" Branco.
         Já depois de morto, foi o amigo Malkovitch quem melhor o soube definir: um espertalhão jeitoso que soube bem explorar a ingenuidade saloia do povo que o aplaudia.
         Que repouse em Paz.


                                  ALBINO ZEFERINO                                                7/4/2015
         

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