sexta-feira, 14 de agosto de 2015

O AVISO GUINEENSE


           A inesperada e inexplicável demissão do Primeiro-ministro da Guiné-Bissau, Domingos Simões Pereira, pelo Presidente daquela Republica (não das bananas que nem sequer tem, mas de traficantes de droga em que infelizmente se tornou), deixou estupefacta a comunidade internacional que ainda deposita alguma esperança na recuperação daquele antigo território portugues que se tornou, após a gloriosa independencia em 1974 das garras da feroz ditadura colonial lusitana, num entreposto oficial de tráfico de droga a nivel mundial. Após anos de sucessivos golpes de estado e de revoluções palacianas (muitas das quais acabaram em chacinas sangrentas) parecia que a eleição de Simões Pereira (homem culto e viajado) tinha trazido algum juizo àquele povo abrutalhado e primitivo. Mas não. O poder continua a ser ferozmente disputado entre as várias raças que medram naquele território com os olhos (e a ganância própria dos desesperados) postas no controle do rendoso negócio da droga, única fonte de rendimento daquela pobre gente. Controlada pela tropa fandanga herdeira do regime castrense imposto pelos portugueses no tempo da guerrilha, a Guiné-Bissau é hoje um Estado falhado, presa fácil (e útil) dos grandes tráfegos internacionais da droga, onde a tropa manda e não permite que outros lhes antolham o caminho do enriquecimento ilicito e imoral.
          O afastamento do reformador Simões Pereira é sinal de que nada mais é possivel fazer para desviar aquela gente do seu trágico destino que será infelizmente o desaparecimento dum Estado que nunca deveria ter visto a luz do dia. Mais uma triste consequencia dos utópicos sonhos abrileiros que conduziram Portugal e os seus territórios ultramarinos para a desgraça colectiva em que se tornaram. Não fora o internacionalismo comunista (entretanto desmascarado) e nada disto se teria passado. Portugal teria evoluido naturalmente para uma democracia europeia (sem os sobressaltos que Otelos, Gonçalves e Cia nos impuseram) evitando intervenções externas e submissões vergonhosas aos ditames de outros e Angola, Guiné e Moçambique não teriam passado pelas guerras civis pós-independencias que os destruiram e os transformaram em campos de batalha pela conquista do poder que permitiu a alguns deles controlar os ricos recursos que os seus territórios possuem (petroleo, diamantes, ouro e tráfico de droga).
          Ao menos que mais esta tragédia sirva para abrir os olhos aos portugueses incautos. A preocupação (muito lusitana) de dividir o poder com receio que a concentração dele se torne abusiva faz com que o papel do presidente da Republica tenha um relevo que não deveria ter. A não atribuição ao governo e ao Parlamento da totalidade dos poderes do Estado deixando ao presidente apenas um papel representativo, confere a este uma convicção de arbitrariedade nas suas decisões que pode conduzir a impasses como este que agora a Guiné-Bissau está a sofrer. A ambiguidade da constituição portuguesa (bem como as dos países que falam a nossa lingua, excepção feita ao Brasil) neste particular, confere à eleição do orgão uma importancia que não deveria ter e que por isso torna dificil a escolha do melhor candidato. Para mim o bom candidato é aquele que menos promete e que menos actua, deixando o protagonismo apenas e só para os momentos de crise. E nessa altura as decisões terão que obedecer essencialmente aos critérios do bom senso e da moderação e não a ditames partidários ou ideológicos que incendeiam as mentes e as vontades.

                           ALBINO ZEFERINO                                          14/8/2015

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