quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017
OS POPULISMOS
Pelo povo e para o povo. É este o slogan que define hoje a governação dos países. Herança da Revolução francesa, o populismo é a forma democrática de conduzir os povos dum modo ordeiro e maioritariamente aceitável. O oposto ao populismo é a ditadura, forma enviesada de exercicio do poder, normalmente fruto de golpes de Estado ou de mudanças violentas de orientação politica e sempre justificado por um caso de necessidade transitório.
Mas governar pelo povo e para o povo pressupõe a captura da vontade colectiva maioritaria, que é muito voluvel e escorregadia e por isso mesmo exige um grau apuradissimo de percepção dessa vontade a todo o momento. A vontade popular é um fenómeno muito instável, susceptivel de mudar ao mais pequeno sopro, inconstante e sem direcção definida. Por isso é que os lideres politicos se distinguem uns dos outros, mais pela capacidade de percepção destes fenómenos do que pela capacidade de gestão colectiva da coisa publica. É raro o chefe do governo que seja ao mesmo tempo competente e que possua essa indispensável capacidade de permanente percepção do fenómeno polpulista. Governar em democracia é muito mais dificil e de resultados muito mais aleatórios do que governar em ditadura. Seria como guiar um automóvel numa estrada recta e sem obstáculos ou fazê-lo numa pista de off-road cheia de obstáculos e de dificuldades à progressão do veiculo.
O povo de hoje é maioritariamente composto pela classe média, mole imensa de cidadãos com um nivel de vida medio, com dificuldades para evoluir, mas com as necessidades básicas asseguradas. Tem instrucção básica, rendimento minimo garantido, saude e segurança social gratuitas e alguns até umas poupançazitas. É para esta gente que os politicos governam. É por isso que o futebol (ópio do povo) e os espectáculos e as novelas imbecilizados que as televisões generalistas proporcionam, são os meios privilegiados para contactar com o povo. A chamada cultura sofisticada (ópera, ballet, teatro sério, espectáculos de qualidade) não progride em Portugal. Não há actores bons nem espectáculos de qualidade. Quando, de vez em quando, algo de bom aparece, fica esgotado em seis meses. Portugal e os portugueses estão a ser conduzidos para um patamar de vida cada vez mais baixo à medida que o seu nivel intelectual não progride. Daí que a percepção dos populismos, ou seja da vontade popular, seja cada vez mais dificil de encontrar. O que hoje era excitante para um determinado grupo de pessoas deixou de sê-lo amanhã, sendo substituido por outro fenómeno, quiçá oposto, mas mais aliciante do que o de ontem. As manifestações populares que todos os dias ocorrem nas grandes cidades, vituperando determinada medida governamental ou defendendo determinada situação não prevista pela lei, são fenómenos de populismo que devem ser observados como factores de formação permanente da vontade colectiva do povo. Ignorar ou desprezar o seu significado são erros que se podem pagar caro.
O que se verifica por vezes é que, por falta de percepção politica ou até por cobardia ou por intransigencia, os governos erram clamorosamente nas suas decisões. É por isso que cada vez mais vezes surgem forças minoritárias que se aproveitam dessas falhas governativas para capturar o populismo dos descontentes e imporem as suas teses extremistas em eleições democraticas que imediatamente são contestadas (por vezes no próprio dia da sua inauguração) dando origem a novas manifestações de populismo de sinal contrário. É este o momento que nos coube viver neste inicio de século conturbado e incerto. Esperemos que estas mudanças de paradigma não degenerem em situações de dificil controle que nos arrastarão a todos para niveis de sobrevivência primitivos se não para a morte certa, dolorosa e inevitável. Inch Alá!
ALBINO ZEFERINO 16/2/2017
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário