domingo, 30 de julho de 2017

VOLTANDO AO BREXIT


          Porque é que me tenho interessado tanto pelo Brexit, poderão perguntar admirados alguns dos meus leitores?  Não será tanto pela fixação que alguns de nós (convenhamos) temos pelo "british way of life", mas pelos danos que presumivelmente a saida do Reino Unido da União europeia vai provocar no processo integrador europeu, do qual sou acérrimo defensor, não tanto por convicção mas mais por instinto de sobreviência nacional.
          Terminada a primeira fase das negociações sem quaisquer resultados palpáveis, a não ser a constatação disso mesmo, o que verifico é que cada vez subsistem menos duvidas no espirito colectivo britanico de que o processo é para continuar, não se falando (nem sequer em murmurio envergonhado) em qualquer retrocesso na controversa decisão unilateral resultante do referendo cameroniano. O modo agastado como Junker se refere ao assunto de cada vez que com ele é confrontado é sintomático do incómodo que o referendo britânico causou nas hostes comunitárias que, pela primeira vez em 60 anos, foram directamente confrontadas com a duvida sobre a inevitabilidade da construcção europeia. A subsistência desta duvida alterou de forma irremediável o conceito de que o alargamento funcionaria como uma panaceia para superar as deficiências governativas que alguns EM evidenciam quando não integrados no projecto maior duma Europa unida e forte, capaz de ombrear com os grandes deste mundo. Parece que voltamos ao tempo da 2ª Grande Guerra quando a pérfida Albion não se deixou conquistar pelas hordas nazis e com a ajuda norte-americana (e tambem canadiana, australiana e neo-zelandesa) impôs à poderosa Alemanha de então uma derrota militar e incondicional, da qual ainda sofre as consequencias.  Será que o futuro nos reservará de novo outro conflito que oponha os integracionistas contra os não integracionistas numa tentativa de alinhar com uns ou com outros dos novos lideres mundiais em presença?
          A segunda fase das negociações tendentes à saida do Reino Unido da UE não começará provavelmente antes de Outubro próximo, pois nada de novo ainda ficou acordado até agora. Nem a factura a pagar pelos britânicos, nem a definição do estatuto dos cidadãos comunitários a viver dentro do RU, nem sequer a criação da fronteira entre a Irlanda do Norte e a Republica da Irlanda. Segundo o comissário europeu Barnier, isto teria bastado para que os lideres da UE dessem luz verde para a abertura da segunda fase das negociações do Brexit, nomeadamente sobre o tema que mais interessa a Londres: a natureza da nova relação do RU com a UE depois do Brexit. Crê-se em Bruxelas que o problema de fundo reside na ausencia de uma posição clara do governo britânico sobre qualquer dos pontos em discussão. Enquanto o ministro eurofóbico Gove defende o estabelecimento de um periodo transitório, após a saida do RU da UE prevista para a primavera de 2019, que permita a livre circulação de cidadãos comunitários por um periodo de dois a cinco anos, a fim de não estrangular as empresas britanicas que deles necessitem, o secretário da Imigração Lewis anunciou um corte total na entrada no RU de cidadãos comunitários logo a partir de Março de 2019, assegurando ser possivel reduzir com esta determinação a chegada global de imigrantes, hoje da ordem dos 248 mil anuais, a apenas cem mil em 2019. Só não explica como. Muita água ainda correrá debaixo desta ponte.

                 ALBINO  ZEFERINO                                                                         30/7/2017

Sem comentários:

Enviar um comentário