quarta-feira, 27 de setembro de 2017

A INDEPENDÊNCIA DA CATALUNHA


          Tal como em 1936 com o inicio da Guerra civil espanhola, que opôs republicanos (rojos) a nacionalistas (franquistas) e que foi o prenúncio da devastadora 2a Guerra mundial que quase destruiu a Europa de então, tambem agora a tentativa catalã de se desligar da soberania do Estado espanhol parece estar a prenunciar uma tragédia para o futuro da Europa de hoje, consubstanciada na esperançosa União de Estados conhecida por União europeia.
          De facto, o lançamento de um referendo sobre a vontade dos catalães em separar-se da Espanha autonómica criada em 1978, após o desaparecimento do franquismo vencedor da guerra de Espanha, poderá provocar, se dele sair resposta positiva, um abalo definitivo nas esperanças europeias duma forte união politica continental que evite o desmembramento a prazo dum projecto virtuoso criado já há mais de 60 anos. O governo central em Madrid e as estruturas comunitárias em Bruxelas já manifestaram a sua oposição à realização do referendo, classificando-o Madrid como inconstitucional e prevenindo Bruxelas da não aceitação da Catalunha - caso se torne independente - como membro da UE.
          O caso é assim bicudo, pois configura uma espécie de quadratura do circulo (muito própria da idiossincracia espanhola, fértil em provocar situações de ruptura).  A saida da Catalunha do Estado espanhol poderá ter um efeito em cadeia relativamente a outras autonomias igualmente ciosas da sua identidade historico-cultural, como o País Basco ou a Galiza, o que alteraria substancialmente o quadro politico ibérico e poderia romper o delicado equilibrio conseguido em 1978 pelos obreiros da transição espanhola.
          Para Portugal - ao contrário do que secretamente muito observadores desejam - não creio que tal desiderato nos traga quaisquer beneficios.  Portugal, isolado numa Ibéria desconjuntada e portanto fraca, seria pasto para muitos predadores mundiais (China, EUA, Angola, Brasil, Russia, etc.) que de pronto avançariam sobre nós como abutres sem qualquer contemplação ou pudor, ocupando sem cerimónias ou entraves o pouco que ainda resta deste belo país à beira mar plantado. E não venham bloquistas, comunistas e quejandos afirmar que não, que, sem a Espanha unida e ameaçadora aqui ao lado, Portugal poderia tornar-se numa segunda Suiça periférica mas de cariz tropical e com laivos cubanos.  Deus nos livre desta desdita e desta malta preversa que só quer o nosso mal e o da nossa terra de séculos.
          A meu ver, porém, a coisa não chegará tão longe. Já é tarde para Barcelona recuar na realização do referendo, mas a sua inconstitucionalidade óbvia não irá permitir que do seu resultado (se for positivo, como julgo) os nacionalistas catalães possam extrair qualquer resultado concreto.  Ficará a ideia de que os catalães não se conformam com a sua dependência a um Estado central (monárquico, ortodoxo e asfixiador) mas tudo ficará na mesma.  A Constituição politica espanhola foi bem blindada pelos obreiros da "transicion" e só com nova guerra civil (que ninguem deseja) será possivel alterar a estrutura autonómica do Estado espanhol.  Não é possivel fazer uma revolução por referendo.

                   ALBINO  ZEFERINO                                                                        27/9/2017
         

3 comentários:

  1. Caríssimo, apresentas aqui um bom e sensato texto é que expões a realidade política, sob a lupa aten de um diplomata.
    Permite-me então que faça alguns reparos:
    Um a enorme confusão grassa na opinião pública e publicada (suponho que fruto de propaganda deliberada), em que fala de uma forma, que parece que estamos perante uma declaração unilateral de independência, do que de um mero referendo consultivo.
    Em função disto, afiguram-se-me algumas questões:
    1 - Se o referendo é ilegal, os seus resultados são nulos, servindo apenas de indicador da vontade dos Catalães.
    2 - Segundo Rajoy afirma, os independentistas são uma minoria. Sendo assim, porque não deixar realizar o referendo e automáticamente a questão?
    3 - Desta forma, Madrid mais não dá que um enorme sinal de fraqueza, pois até O Podemos afirmou na televisão ser contra qualquer acto independentista unilateral.
    Ao colocar um exageradíssimo dispositivo repressivo na Catalunha, Rajoy apenas está a gritar aos 4 ventos que está com medo, e simultâneamente está a criar um inusitado alfobre de Nacionalistas na imensa mole de indecisos que são apresentados nas sondagens.
    4 - Imaginando que o referendo se realizaria em liberdade, e o "Sim" ganhava, seria uma estupenda oportunidade para alterar os estatutos autonómicos e dar-lhes uma forma confederativa, que provávelmente seria a forma ideal de organização política em Espanha, que até poderia tornar viável a putativa União Ibérica que tantos preconizam.
    CASTELA continua a ser o que sempre foi e sempre será: Um reino com tiques hegemónicos acencestrais e que decerto perdurarão, enquanto a Centralidade Madrid se mantiver como está.
    Nota: Quanto à Constituição de 1978, referendada maioritáriamente pelos Catalães, foi devidamente alterada pelo Tribunal Constitucional, após o referendo, modificando substancialmente a natureza do que foi votado.

    Após todo este arrazoado, termino com uma declaração política, resumida numa única frase: Sóc Catalá...!

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  2. Desculpa os erros, mas o meu corrector automático, prega-me por vezes partidas. Penso que entenderás o que eu quis dizer, e que desenvolverei num texto do Velho da Montanha, que partilharei no FB. Abraço!

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  3. Meu excelente e caríssimo Amigo
    Muito obrigado pelo teu elucidado e inteligente comentário ao artiguinho do meu Albino Zeferino sobre a Catalunha
    A Espanha sempre foi fonte de tensões e de contradições políticas que só a ditadura franquisra abafou após violenta guerra civil que quase desfazia o que com dificuldade a monarquia borbonica conseguiu unir.
    Com a democracia voltou-se a precariedade das relações que demonstram o que atras digo é que o nosso Albino quis salientar
    Obrig Ze Maria pelos teus sempre bem-vindos comentários
    Grande abraço
    Teu amigo de sempre

    Eurico

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