Quando as injustiças começam a tornar-se
insuportáveis pela incapacidade dos governos em lidar com as forças
ocultas da sociedade, nascem as condições para as revoluções
socialistas. Uma vez atingido esse ponto, basta esperar pela
oportunidade. Foi o que aconteceu em 14 de julho de 1789 em França com
a tomada da Bastilha ou em 1 de outubro de 1910 na Russia com o
levantamento bolchevique, por exemplo. Mas tambem por cá temos bons
exemplos disto: basta recordar o 1 de dezembro de 1640, o 5 de outubro
de 1910 ou o 25 de abril de 1974. Na base das revoltas sociais o que
normalmente surge é o sentimento de reposição duma situação de justiça
social que foi quebrada. Em 1640, Olivares espezinhava sem piedade os
portugueses subjugados, através duma incompetente e corrupta agente
cujo amante foi defenestrado sem hesitação pela turba sedenta de
justiça. Em 1910 o regime monárquico encontrava-se no seu extretor,
dois anos depois do regicídio que marcou o seu fim. Em 1974, os
comunistas portugueses viram chegada a oportunidade que buscavam desde
a sua fundação para se instalarem, aproveitando um levantamento
militar que contou com o com o apoio do povo cansado da guerra sem fim
nas colónias.
Todas estas situações configuram situações de
desespero social onde a classe trabalhadora (normalmente a mais
numerosa) reage contra os poderes estabelecidos que não souberam gerir
com parcimónia e competência os interesses publicos, entendidos como
interesse de todos e não só de alguns. É compreensível a dificuldade
em gerir um país financeiramente exangue, intervencionado
internacionalmente e sujeito a um programa de reformas duro e
exigente. O que não se compreende é que o governo se deixe enredar na
perigosissima espiral de interesses que normalmente rodeiam estas
situações excepcionais propícias à criação de fortunas ilícitas (que
não ilegais) que lhe tolhem os movimentos e lhe toldam a razão. É
necessário, além duma vontade férrea e de uma honestidade sem mácula,
tambem um equilibrio dificil de conseguir entre a defesa do interesse
de todos, sem hostilizar aqueles que são necessários. Darei um exemplo
entre muitos possiveis. A situação das rendas cobradas à sombra da EDP
já não é possivel escamotear depois da demissão do responsável
político pelo sector. Mas há que não hostilizar os proprietários que
confiaram na nossa boa-fé. Este equilibrio é que é por vezes dificil
de conseguir e que distingue os vulgares dos excepcionais. E neste
momento Portugal precisa de um governo excepcional para reformar um
regime que chegou ao fim com Sócrates e relativamente ao qual ainda
não se vislumbra com clareza qual o seu novo rumo. Uma renegociação
equilibrada das PPP´s será certamente um sinal sobre o caminho que o
governo quer seguir, mas tambem a necessária reforma administrativa do
país sinalizará a genuina vontade do governo em criar algo de
diferente do panorama politico a que os seus antecessores nos
habituaram desde há 37 anos. A tarefa é dura, direi mesmo durissima,
mas é a oportunidade para Passos de ficar na história ao lado de João
Franco ou ao lado de Salazar. A escolha é dele. As consequências
sofre-las-emos todos.
ALBINO ZEFERINO
17/3/2012
Sem comentários:
Enviar um comentário