Ao cabo de um ano de intervenção da "troika" em
Portugal poderá dizer-se que a situação do país não melhorou. Quando
muito, dirão os óptimistas, não piorou. Qual foi então a vantagem da
intervenção estrangeira até agora? Manter-mo-nos vivos, direi eu. Mas
não será tempo de fazer um balanço da situação em termos prospectivos?
Terá valido a pena pedir ajuda internacional? Como estariamos hoje se
não tivesse sido pedida? Eu diria que a grande vantagem da intervenção
da "troika" foi ter proporcionado a mudança de governo. O governo de
Sócrates foi o canto do cisne de um regime iniquo que nos regeu
durante mais de 30 anos baseado em permissas insustentáveis e
permissivel a toda a espécie de diatribes. Tendo começado por ser
auto-gestionário o regime saido do 25 de Abril derivou para a
arbitrariedade com Soares y sus muchachos, acabando definitivamente
com quaisquer veleidades de progresso com Cavaco e os seus amigos
gananciosos. Os sócretinos limitaram-se a dar-lhe a machadada final.
Os passistas actuais constituem a ponte para o advir, tendo tido a
virtude de "abrir" a caixa de Pandora em que o regime se tornou. Mas
se estes não conseguiram melhorar a situação dos portugueses mesmo sob
a batuta da troika e com uma cartilha para seguir, que esperanças
teremos nós com outros que se apresentam como alternativa democrática?
A questão está mal posta. Chegámos ao fim da linha deste percurso com
Passos e os seus Portas. Ninguem conseguirá neste contexto
politico-constitucional safar-nos da desgraça. A questão é de regime.
O regime actual acabou. Há que ter a coragem de aceitar a evidência. O
problema é que a solução já não nos cabe só a nós. Na situação de
dependência em que nos encontramos (espartilhados pelas regras
comunitárias e ainda por cima intervencionados condicionalmente pela
troika) o que se espera do governo portugues é que cumpra o que lhe
mandam fazer. Ora o governo, por incapacidade ou por miopia, não tem
conseguido cumprir o que lhe mandam fazer. Finge que o faz com o
beneplácito da troika (que ainda não tem ordem para o desmascarar) mas
no essencial ainda nada mudou. O que irá então acontecer?
Sem pretender ser vidente, parece-me óbvio que a
troika vai tentar esperar pelo fim do programa de ajuda financeira
(enquanto recupera o mais que puder dos empréstimos que fez) para
impôr a Portugal (e aos demais países faltosos) novas regras de
conduta que nos vão obrigar a mudar de vida. Acabam as bandalheiras a
que os socialistas chamam de Estado social, as benesses laborais
generalizadas e as roubalheiras institucionalizadas, para passarmos a
trabalhar sob novas regras mais duras para os que nos emprestaram o
dinheiro que não conseguimos pagar. E na prática como vai funcionar o
novo regime? As indicações do que se vai passando nos outros países
intervencionados ou a intervencionar permitem extrapolar para o
futuro. Deixado cair este governo (que ficará na história como o
governo de transição para o novo regime) surgirá um governo dito
presidencial (porque empossado pelo Presidente sem eleições) chefiado
por um estrangeirado (muito provavelmente por Vítor Gaspar) que
promoverá uma integração acelerada de Portugal numa nova Europa
constituida por Estados e Regiões de geometria politica variável e
diferenciada, que será a União europeia do futuro, capaz de ombrear
com os blocos continentais emergentes. Constituição, partidos
políticos, direitos e garantias individuais serão revistos em função
do mérito revelado e sempre subordinados à vontade das instituições
comunitárias, ultimo recurso de apelo dos cidadãos que se considerem
lesados pelo seu governo. Teremos uma troika permanente para nos dizer
o que fazer e que já não precisará de disfaçar os puxões de orelhas
que nos dará quando não fizermos o que nos mande.
ALBINIO ZEFERINO
11/4/2012
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