À medida que o tempo vai passando e os laudos
trimestrais da troika vão caindo e libertando os consequentes milhões
necessários para a nossa sobrevivência, o propalado liberalismo
reformador do governo vai esmorecendo. Esquecem-se os doutos
governantes que isto faz parte dum processo global que ainda está no
principio e que ninguem garante que prossiga da forma soft como tem
acontecido até agora. O governo portugues está sob monitorização
constante e não se pense que qualquer deslize possa ser tolerado sem
consequências.
Vem isto a propósito da recente limitação dos
ordenados dos gestores publicos. Pensarão os senhores ministros,
sentados nas suas cadeiras já quentes de escassos meses de função, que
já podem afrouxar o entusiasmo inicial que os levou ao poder,
começando a ladaínha da distribuição de lugares entre amigos e
capangas partidários? Não quero crer que esta decisão, que sob uma
manhosa capa moralizante, se destina a preservar o espólio económico
do Estado, tentando travar quaisquer veleidades troikianas de
liberalização total do sector empresarial publico. Sob o pretexto
pueril de fazer poupar com esta medida mais de 2 milhões de euros por
ano ao Estado, o governo portugues o que parece estar a fazer é a
tentar guardar para si a possibilidade de continuar a distribuir
benesses e favores a sócios e a parceiros, tal como outros antes de si
fizeram e que deixaram por isso mesmo chegar o país até onde chegou.
Partindo do princípio de que o anunciado processo
de privatizações vai por diante com a venda da TAP, da ANA e dos
correios, entre outros, grande parte do sector empresarial do Estado
continua em mãos publicas em regime de concorrencia com o sector
privado. Com a fixação de tectos salariais para os gestores dessas
empresas, o governo prepara a habitual dança de cadeiras
caracteristica do inicio dos mandatos (neste caso com um ano de atraso
por razões que se prendem com a existencia da troika). O portugues
adapta-se bem ás novas situações: primeiro assusta-se e encolhe-se;
depois aproxima-se e aceita como coisa natural e por fim confraterniza
tentando negociar para que tudo fique mais ou menos na mesma.
Mas mesmo aceitando esta lei como necessária,
perguntarei porque razão foram estas almas dividir as empresas do
Estado em 3 categorias deixando de fora da "contenção salarial" uma
quarta categoria de empresas, com o argumento saloio de que funcionam
em regime de concorrencia. E as outras funcionam em que regime? No de
monopólio? Sejamos sérios e não brinquemos com coisas sérias. Vamos
por partes: Qual a razão para permanecerem na esfera do Estado
empresas como a Empordef, a Parpublica, as Águas de Portugal, a CP, a
ValorSul, a Sagestamo, a EMEF, a Carris, a Empresa Geral de Fomento
(esta vem do tempo do Salazar!) a Administração do Porto de Lisboa, as
Estradas de Portugal, os Metros de Lisboa e do Porto, a Lusa, a
Transtejo, a Enatur, a Docapesca, a Companhia das Lezirias, a Edisoft,
etc. etc. E será legitimo que os administradores (?) destes abantesmas
ganhem entre 7.500 e 6.000 euros mensais (mais carro, telefone e
cartão de crédito) por mês quando a maioria dos portugueses empregados
aufere menos de mil euros mensais? Não creio. O que creio é que este
governo começa a desligar-se da realidade das coisas tal como os
outros faziam, embriagados com o poder que obnubila os espíritos e
corroi as mentes. A troika não justifica tudo, como não perdoa tudo,
nem deixa de registar tudo o que vê ( e vê quase tudo).
ALBINO ZEFERINO 4/4/2012
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