quarta-feira, 4 de abril de 2012

O GRANDE DESAPONTAMENTO

À medida que o tempo vai passando e os laudos 
trimestrais da troika vão caindo e libertando os consequentes milhões 
necessários para a nossa sobrevivência, o propalado liberalismo 
reformador do governo vai esmorecendo. Esquecem-se os doutos 
governantes que isto faz parte dum processo global que ainda está no 
principio e que ninguem garante que prossiga da forma soft como tem 
acontecido até agora. O governo portugues está sob monitorização 
constante e não se pense que qualquer deslize possa ser tolerado sem 
consequências. 
Vem isto a propósito da recente limitação dos 
ordenados dos gestores publicos. Pensarão os senhores ministros, 
sentados nas suas cadeiras já quentes de escassos meses de função, que 
já podem afrouxar o entusiasmo inicial que os levou ao poder, 
começando a ladaínha da distribuição de lugares entre amigos e 
capangas partidários? Não quero crer que esta decisão, que sob uma 
manhosa capa moralizante, se destina a preservar o espólio económico 
do Estado, tentando travar quaisquer veleidades troikianas de 
liberalização total do sector empresarial publico. Sob o pretexto 
pueril de fazer poupar com esta medida mais de 2 milhões de euros por 
ano ao Estado, o governo portugues o que parece estar a fazer é a 
tentar guardar para si a possibilidade de continuar a distribuir 
benesses e favores a sócios e a parceiros, tal como outros antes de si 
fizeram e que deixaram por isso mesmo chegar o país até onde chegou. 
Partindo do princípio de que o anunciado processo 
de privatizações vai por diante com a venda da TAP, da ANA e dos 
correios, entre outros, grande parte do sector empresarial do Estado 
continua em mãos publicas em regime de concorrencia com o sector 
privado. Com a fixação de tectos salariais para os gestores dessas 
empresas, o governo prepara a habitual dança de cadeiras 
caracteristica do inicio dos mandatos (neste caso com um ano de atraso 
por razões que se prendem com a existencia da troika). O portugues 
adapta-se bem ás novas situações: primeiro assusta-se e encolhe-se; 
depois aproxima-se e aceita como coisa natural e por fim confraterniza 
tentando negociar para que tudo fique mais ou menos na mesma. 
Mas mesmo aceitando esta lei como necessária, 
perguntarei porque razão foram estas almas dividir as empresas do 
Estado em 3 categorias deixando de fora da "contenção salarial" uma 
quarta categoria de empresas, com o argumento saloio de que funcionam 
em regime de concorrencia. E as outras funcionam em que regime? No de 
monopólio? Sejamos sérios e não brinquemos com coisas sérias. Vamos 
por partes: Qual a razão para permanecerem na esfera do Estado 
empresas como a Empordef, a Parpublica, as Águas de Portugal, a CP, a 
ValorSul, a Sagestamo, a EMEF, a Carris, a Empresa Geral de Fomento 
(esta vem do tempo do Salazar!) a Administração do Porto de Lisboa, as 
Estradas de Portugal, os Metros de Lisboa e do Porto, a Lusa, a 
Transtejo, a Enatur, a Docapesca, a Companhia das Lezirias, a Edisoft, 
etc. etc. E será legitimo que os administradores (?) destes abantesmas 
ganhem entre 7.500 e 6.000 euros mensais (mais carro, telefone e 
cartão de crédito) por mês quando a maioria dos portugueses empregados 
aufere menos de mil euros mensais? Não creio. O que creio é que este 
governo começa a desligar-se da realidade das coisas tal como os 
outros faziam, embriagados com o poder que obnubila os espíritos e 
corroi as mentes. A troika não justifica tudo, como não perdoa tudo, 
nem deixa de registar tudo o que vê ( e vê quase tudo). 

ALBINO ZEFERINO 4/4/2012 

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