Os portugueses andam desiludidos. Uns porque
consideram que esta crise que sobre eles caiu como um raio está a
destruir tudo aquilo pelo que ansiavam os seus pais e que a revolução
lhes trouxe duma assentada e sem esforço numa fria madrugada de abril.
Agora será mais doloroso para eles voltar para trás ao fim de todos
estes anos de falsas alegrias e de amanhãs que cantam. Outros,
habituados ao doce remanso da bananeira plantada pelos seus pais e de
cuja sombra foram abruptamente afastados pelo povo ensandecido,
anseiam por vingança clamando uma maior determinação e vontade no
retorno a uma situação que eles julgam possivel mas que está morta e
enterrada há muito tempo.
O que está em causa não é porém um regresso a um
passado que (com as suas virtudes e glórias e as suas injustiças e
arbitrariedades) já fez história, mas sim a uma modernização do
sistema politico, social e económico portugues mais de acordo com os
sistemas democráticos vigentes nos outros países comunitários. Até
agora, a insignificância de Portugal no contexto da Comunidade
europeia escondeu as incongruências que os excessos da revolução de
abril trouxeram ao país, não mostrando contudo qualquer relevância
para o processo integrador europeu.
Agora, porém, que uma crise profunda se abateu
sobre a Europa que está exigindo esforços excepcionais na tentativa da
sua resolução, todas as incongruências económicas e sociais
verificadas nos países sob intervenção financeira (ou seja, gozando de
regimes financeiros excepcionalmente mais favoráveis) ficaram à vista
de todos e estão a ser objecto de reformas saneadoras fortemente
escrutinadas pelos que passaram a sustentar os portugueses. Não há que
ter ilusões. Sem as reformas profundas que o memorando da troika
obriga o governo portugues a fazer não será possivel sair deste buraco
profundo onde Portugal se encontra. Só depois de saneadas as contas
(custe o que custar) e revisto o ordenamento juridico sobre o qual
assenta o regime politico-social portugues no sentido de o adaptar aos
outros regimes dos países com os quais Portugal pretende integrar-se,
é que será possivel pôr em marcha quaisquer programas de crescimento
económico e de aumento da empregabilidade em Portugal. Pensar que, sem
um prévio saneamento das finaças publicas, qualquer plano
desenvolvimentista terá sucesso é pura especulação demagógica. E
quanto mais depressa for feito, mais facilmente os portugueses sairão
da crise e menos provações terão que suportar.
ALBINO ZEFERINO 4/8/2012
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