Aproxima-se este fim de semana o periodo fulcral
para o futuro do euro e da União europeia como a conhecemos. Até
agora, pelo menos formalmente, a União europeia tem sobrevivido com
altos e baixos a todas as vicissitudes por onde tem passado sem
retroceder a sua marcha para uma cada vez maior integração no mundo
globalizado de hoje. Com a crise na Grécia a mostrar resistencias
continuadas na sua resolução, o presidente Samaras vai ser chamado a
Berlim e a Paris (e não a Bruxelas como seria normal) para lhe ser
oficialmente comunicado o veredicto europeu. Face à impossibilidade
grega em cumprir com o programa que lhe foi imposto pelos seus
credores, os seus pares europeus não vão ter outro remédio senão
confrontar a Grécia com a inevitabilidade da sua saída da zona euro. A
aceitação do pedido grego de prolongar o período estabelecido para o
cumprimento das suas obrigações orçamentais iria abrir um precedente
perigisíssimo para o futuro da moeda comum que Berlim (secundada por
Paris) não está disposta a correr, agora que Espanha e Itália se
preparam para pedir tambem resgates financeiros aos seus credores.
A questão grega irá assim determinar um novo rumo
na caminhada comum europeia que passará forçosamente por um recuo do
processo integrador europeu, uma vez que pela primeira vez irá
experimentar um abandono formal de um país membro do clube
vanguardista do euro de uma politica comum considerada chave do
projecto comunitário. Como evitar então que a saída forçada da Grécia
do euro não faça desmoronar o projecto no seu todo arrastando atrás de
si outros países igualmente intervencionados como Portugal? Só haverá
uma maneira: negociando a saída da Grécia da zona euro e
comprometendo-se a ajudá-la no seu novo caminho. Será provavelmente
estabelecido um mecanismo cambial fixo para a reintrodução do dracma e
ao mesmo tempo será dado à Grécia mais tempo e melhores condições para
cumprir os objectivos orçamentais ajustados. Só desta maneira se
evitará um desmembramento desordenado da moeda unica europeia o que
provocaria uma crise mundial, essa sim fatal para o desenvolvimento da
humanidade como hoje a conhecemos.
E Portugal? Que consequencias trará para este
pequeno e insignificante país uma profunda alteração no processo
europeu que os portugueses - entalados entre a inconsciencia grega e o
orgulho espanhol - vivem como decisivo para o seu futuro como país
soberano e independente há mais de 800 anos? Eu diria que haverá boas
e más consequencias. As boas são a convicção de que ou cumprimos
aquilo a que nos comprometemos da forma e no tempo em que ficou
estabelecido e mais tarde ou mais cedo sairemos deste buraco (calando
de vez com as vozes demagogicas que nos impelem para o abismo) ou
ser-nos-á aplicada a mesma receita que irá ser imposta aos gregos. As
más consequencias serão uma recomposição institucional dos mecanismos
de intervenção europeus que a saída forçada da Grécia do euro
certamente determinará e da qual a posição de Portugal (mesmo que se
porte bem) sairá necessariamente debilitada. Não é impunemente que
estamos sob intervenção estrangeira e da qual não nos livraremos tão
cedo.
ALBINO ZEFERINO
21/8/2012
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