terça-feira, 11 de junho de 2013

A MITIFICAÇÃO DO EMPREGO


          Neste período de profunda crise económica e social em que hoje estamos mergulhados, que está a desmanchar os conceitos de vida a que nos habituamos desde há decadas e que a crise está dramaticamente a pôr em causa, parece-me adequado abordar um tema assaz melindroso, mas cuja análise se torna indispensável nesta fase de mudança dolorosa a que a crise nos está sujeitando.
          O conceito de emprego como actividade laboral geradora de riqueza e portanto indispensável ao homem como base da sua sustentação financeira está hoje em franco declinio.  Á dicotomia clássica entre trabalho e capital -  base das teorias económicas do século XX  -  substiuiu-se hoje o conceito mais amplo de produtividade, que engloba uma miríade de realidades que vão desde a investigação tecnológica à robótica, passando pelo ambiente e pelo ordenamento do território, visando a produção massiça de bens e de serviços muito para além das necessidades nacionais e conferindo uma característica global a qualquer actividade económica.  Tal como a economia de subsistencia anterior à revolução industrial inglesa deu lugar às fábricas e à produção ordenada de bens em função das necessidades nacionais, a globalização de hoje    já não se compadece com as limitações à produção que as leis nacionais impõem, cativas de conceitos desajustados duma realidade inexistente à época em que começaram a ser aplicados, por se revelarem hoje limitativos das capacidades produtivas das unidades de produção de dimensão global.
          Quero com isto dizer que o conceito de emprego como modo de vida individualizado de trabalho, tende cada vez mais a desaparecer.  Hoje em dia o que conta é o posto de trabalho em si, que - tal como nos submarinos -  funciona em regime de "cama quente".  O lugar não pertence a ninguém individualmente considerado, mas é usado ininterruptamente pelos trabalhadores que para ele estiverem escalados. Assim a produção não pára e consegue-se extrair das unidades produtivas o máximo da sua capacidade, tornando o produto final mais barato e de melhor qualidade.  E à medida que a tecnologia avança, mais automatizada está a produção e mais globalizada ela se torna.  A intervenção humana enquanto agente produtivo será cada vez menos importante, mas mais exigente sob o ponto de vista técnico, seja em que unidade produtiva fôr.
          Daqui decorre que a organização colectiva do trabalho dominada pelos sindicatos (com os seus meios de pressão social cada vez menos bem compreendidos pelos próprios trabalhadores e pela população em geral) está em perda de influencia nas sociedades modernas.  Cada vez menos se luta pela preservação dos postos de trabalho, que deixaram de ser individualizados e que cada vez com mais frequencia são substituidos por outros mais modernos e mais adequados ao tipo de trabalho a que se destinam.  O emprego deu lugar à actividade produtiva, que procura a melhor produtividade pelo mais baixo preço.
          Da mesma forma que deixou de se justificar falar em emprego, tambem já não faz sentido falar-se em desemprego. E mais desadequado ainda será definir os níveis de produtividade de um país pelos níveis de desempregados registados nesse país. O desempregado não é necessariamente o técnico sem trabalho, ou o operário especializado sem ocupação profissional.  Normalmente é o continuo, o trolha ou o porteiro, cujo lugar a sociedade eliminou por inutil, ou a criada de servir ou a telefonista, que foi substituida com vantagem pela REDIS ou pela imigrante cabo-verdiana ou brasileira.  Veja-se uma manhã a fila dos ditos desempregados aguardando vez nos centros de desemprego. Serão todos eles (ou mesmo a maioria) técnicos qualificados (canalizadores, carpinteiros, electricistas, etc.) ou jovens licenciados à procura do primeiro emprego?  Não creio.

                                     ALBINO ZEFERINO          11/6/2013

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