segunda-feira, 17 de junho de 2013

CARTA ABERTA DE CAMARADA A CAMARADA



                          Camarada Mário Nogueira,

          Escrevo-te esta para te demonstrar a minha solidariedade militante na causa que estás corajosamente defendendo da preservação dos postos de trabalho dos teus colegas injustamente ameaçados de despedimento colectivo pela acção conta-revolucionária deste governo de direita que nos ataca todos os dias com ameaças e acções atentatórias dos direitos legitimamente adquiridos durante a gloriosa revolução dos cravos, que derrubou o fascismo em Portugal para sempre.
          Sempre admirei a tua coragem e o teu desassombro desde os bancos da nossa escola primária em Outeiro de Gatos, onde tu - sempre atento às manobras reaccionárias dos professores de então, vendidos ao capitalismo opressor - não permitias que eles nos obnubilassem o espírito com histórias da carochinha de milagres da Fátima e de conquistas gloriosas noutros continentes.  Certamente por isso optaste pelo  magistério primário, pois uma cabeça como a tua bem podia ter sido melhor aproveitada em tarefas mais altas.  Mas compreendo a tua abnegação de verdadeiro homem da revolução, que prefere instruir os mais pequenos no caminho da verdade, às lutas partidárias por vezes inglórias e sem sentido.
         Na tentativa de te ajudar, resolvi há dias deitar-me a fazer umas contas simples mas trabalhosas. Contei todos os meninos e meninas que frequentam o ensino publico em Portugal inteiro (incluindo as ilhas adjacentes e as comunidades portuguesas no estrangeiro para onde mandamos milhares de professores portugueses para ensinarem a nossa lingua aos pequenotes) e dividi-os pelos professores existentes (do quadro, contratados, a regime 0, de licença, estagiários, destacados, requisitados como tu, enfim, a malta toda que recebe ordenado do Estado) e cheguei à conclusão que temos o rácio mais baixo de todo o mundo, ou seja, o de 1 professor por cada 4 alunos.  Estamos certamente à cabeça do grupo de países que melhores condições oferecem aos seus filhos para se cultivarem. A continuarmos assim seremos uma Suécia do sul de Europa dentro de pouco tempo.
          Não percebo assim a razão pela qual este governo reaccionário que nos governa a meias com a famosa troika, que só nos tem prejudicado lançando sobre nós austeridade e mais austeridade, quer despedir 30 mil dos teus colegas, se eles se têm mostrado tão diligentes na sua acção educadora. E isto de contestarem a greve que tu decretaste para reagir a estas medidas de agressão da vossa classe (dentro de toda a legalidade constitucional e à sombra dos direitos adquiridos pelo glorioso 25 de Abril) só porque ela caiu por acaso no período dos exames, é mesmo próprio de fascistas.
          Continua camarada com o teu abnegado trabalho, que o povo está contigo.  Mesmo aqueles que vão ficar com as férias todas lixadas por terem que aturar os gandulos dos filhos em casa por mais umas semanas, "estudando" o que vocês lhes ensinaram, até à marcação de novos exames.
          Saudações democráticas do teu camarada

                                             ALBINO ZEFERINO (correspondente diplomático aposentado)

           Lisboa, 17 /6/2013
       

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