domingo, 2 de junho de 2013
OS PALHAÇOS
Em Portugal, quando alguém quer manifestar desprezo por outrém chama-lhe palhaço, que é como quem diz: o que tu fazes não tem valor, é coisa risível, irrelevante e sem graça. Porém isto não é verdade. Desde que o homem inventou o teatro como forma de representação de imagens ou de situações, que o actor que faz de palhaço é sempre escolhido de entre os que melhor representam. Porque se é extremamente dificil representar algo ou alguém, mais dificil ainda é representar uma situação que mexe com os estados d´alma dos outros. Experimentem contar uma anedota. O que mexe com os ouvintes, é menos a situação que se quer representar e mais a forma como o contador conta a anedota. Uma boa anedota só é verdadeiramente apreciada quando é contada por alguem que sabe contar anedotas. No circo, por exemplo, é o palhaço pobre que faz rir e não o rico que provoca a acção do outro. O palhaço pobre representa o esperto, o oportuno, aquele que se aproveita da ingenuidade pomposa do rico para fazer graça à custa dele. O vulgar palhaço é sempre alguem que inteligentemente aproveita os deslizes dos outros para fazer graça. E fazer graça é o que os palhaços procuram para animar os espectadores.
Quando alguem quer menosprezar outra pessoa chama-lhe palhaço. Palhaço é porem alguem que se esforça por fazer graça e fazer graça é extremamente dificil de fazer. Os antigos bobos (ou palhaços da corte) eram pessoas influentes e que privavam com os monarcas, que deles se serviam para se animarem e para criarem ambientes favoráveis aos seus interesses. Não deve portanto ficar ofendido aquele a quem outrem chama de palhaço, pois ao ser distinguido com esse epíteto, o denominado palhaço está a ser distinguido dos demais pela capacidade que o pretenso ofensor lhe atribui de fazer rir os outros e fazer rir os demais é uma qualidade humana rara. Em vez de se ofender e por vezes até tirar desforço dessa pretensa ofensa, o pretenso ofendido deve agradecer ao pretenso ofensor a atenção que este lhe atribuiu na denominação de palhaço.
Deixemo-nos pois de melindres ridiculos que não representam mais do que complexos de inferioridade social, que muito abundam neste país de brandos costumes de sisudos, onde os umbigos de cada um são mirados pelos próprios com a complacencia provinciana de deuses salvadores duma pátria esfrangalhada por decadas de inconsciencia colectiva e de gastos irresponsáveis.
ALBINO ZEFERINO 2/6/2013
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