quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

A GLOBALIZAÇÃO


          Fala-se muito hoje da globalização, normalmente para justificar muitas das medidas de ajustamento (ou de adaptação às novas realidades, como se queira) que diversos países foram obrigados a adoptar para simplesmente não serem atirados para fora do sistema. O sistema a que me refiro é a forma de viver possivel entre os chamados países desenvolvidos, que se caracteriza essencialmente por elevados níveis de vida das populações, protecção social  generalizada, I&D avançados e acesso indiscriminado aos meios de produção.  Para isto, os diversos países associaram-se entre si por critérios geográficos, originando grandes grupos organizacionais que disputam entre si a primazia em diversos sectores e naturalmente a influencia de uns sobre os outros. Portugal faz parte de várias dessas organizações internacionais, mas apenas uma é determinante no que toca ao seu desenvolvimento. Refiro-me naturalmente à União europeia. 
          Nascida no rescaldo da II Grande Guerra, cataclismo ao qual a nossa pequenez e insignificancia nos poupou, só conseguimos aderir à então Comunidade Económica Europeia em 1986, época em que lambiamos as feridas resultantes duma descolonização apressada e procuravamos desesperadamente um caminho por onde seguir, desamparados pela consciencialização da perda das colónias e aterrados com o natural regresso do castelhano, escorraçado 300 anos antes. Deslumbrados com os milhões que nos mandavam de Bruxelas e enebriados com a importancia institucional que os outros parceiros nos concediam, nunca conseguimos realmente integrar-nos no complexo e cínico universo europeu, antes pelo contrário deixavamo-nos cada vez mais embalar nas conversinhas terceiro-mundistas das comunidades irmãs luso-parlantes ou na proximidade antropológica com os norte-africanos, bem patente no fraterno relacionamento entre as comunidades argelinas e portuguesas imigradas em Paris.
          Onde então nos encontramos hoje? Somos ainda europeus, ou já nos consideramos africanos como antes se dizia na tentativa de bacocamente tentar convencer outros duma fantasia nunca desmentida? Confesso que não sei, mas não me conformo com esta duvida. Para mim sempre fomos europeus, mesmo quando se dizia que eramos a parte europeia dum país intercontinental uno do Minho a Timor. Agora que já não há desculpa para negar a nossa pertença essencial ao continente onde nascemos, é para mim dificil de entender as reacções que se registam ao aprofundamento duma integração europeia indispensável à nossa sobrevivencia como país civilizado pertencente ao primeiro-mundo. Ou será que os que reagem não renegam a pertença à Europa, querendo apenas viver à custa dela mas sem as responsabilidades que essa pertença implica? Será que juntando-nos a outros reactores (como os gregos e alguns espanhois) ganharemos algo dos que nos sustentam? Ou pelo contrário arriscamo-nos a sermos expelidos para fora do sistema que tanto tempo e esforço nos custou a penetrar? E depois onde nos inserimos? Na Europa dos pobres que naturalmente fará pandam com as primaveras árabes que cada vez mais se estão transformando em outonos? Ou preferimos passar a ser a colónia europeia do gigante angolano (como eles foram a colónia perdilecta do Portugal ultramarino)? Sozinhos é que não nos governamos. Já lá vai o tempo do orgulhosamente sós.

                    ALBINO ZEFERINO                           12/12/2013 

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