quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

OS AJUSTAMENTOS SALARIAIS


          Quando se fala em ajustamentos salariais em Portugal quer-se pura e simplesmente significar diminuição da massa salarial. Pois se estamos em crise económica resultante de gastarmos mais do que produzimos, é mister que os factores de produção se adaptem à capacidade dessa mesma produção. Assim sendo, tal como os lucros do capital baixam (e por vezes até ficam negativos) em periodos de crise, tambem os proventos do trabalho devem reflectir essa mesma tendência. Mas curiosamente em Portugal não é assim. Por cá, desde o 25 de abril que passou a ser tabu relacionar os salários com a produção, ou seja fazer depender o seu aumento (ou diminuição) do aumento ou diminuição da capacidade produtiva do país. Que os investidores (aqui chamam-lhes empresários, como antes se denominavam os produtores dos espectáculos populares) fiquem sujeitos às leis do mercado ninguem contesta, mas que os trabalhadores se sujeitem às mesmas regras, já não. Ou seja, greves sim, lay-out não. Ou melhor ainda: Falências sim, desemprego não. E quem aguenta isto? O Estado é claro. Ao Estado compete pagar as consequencias dos desatinos laborais (desde as convenções colectivas de trabalho negociadas como se tratassem de negócios de feira, às admissões sem critério económico subjacente apenas para pagar favores, passando pelas greves e pelas paralizações de trabalho politicamente motivadas) mas já não os prejuizos dos capitalistas resultantes desses mesmos desatinos laborais.
          Não se venha dizer, como recentemente a ministra das Finanças veio apregoar para a televisão (para troika ouvir) que os "ajustamentos salariais" com o sector privado estavam feitos, como quem quer significar que o trabalho do governo estava concluido neste sector, quando ainda não se sabe sequer (a menos de um mes do fim do ano) em quanto vamos falhar este ano a meta do défice.  Os portugueses não são parvos e hoje já não são enganados tão facilmente. É natural que o governo queira deixar fechados com a troika todos os dossiers antes do fim do perido de intervenção. Mas para isso há que fazer as coisas como elas devem ser feitas (e já se perdeu muito tempo) e não tentar precipitadamente fingir que tudo vai bem no reino da Dinamarca. Já se sabe (agora que terminaram as duras negociações inter-partidárias alemãs para a formação do novo governo germanico) que mais dinheiro para os indigentes não virá. O que há que fazer é preserverar no esforço de saneamento financeiro do país, acabando com os tabus abrileiros e não embarcando em facilitismos eleitoralistas, fingindo que tudo está bem quando tudo ainda continua mal.

                          ALBINO ZEFERINO                           4/12/2013

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