quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

O FIM DO CICLO


          Com a aproximação do fim da intervenção da troika começam a chegar sinais de que Portugal se aproxima tambem do fim de um ciclo politico. A inevitabilidade do recurso a um programa cautelar, que terá que ser desenhado especialmente para nós (pois deixamos de ter guião com o descolamento da Irlanda), está a criar no espírito dos que mandam uma sensação de déja vu que os empurra para o imobilismo próprio dos fins de ciclo. Já não interessa lutar pelos lugares, interessa agora mais encontrar soluções alternativas (porventura melhores) que constituam recompensa pelos sacrificios efectuados.  Por outro lado, a melhoria da situação na Europa (onde já se fala de recuperação económica) atrai muitos dos ainda responsáveis pelas coisas da governação para fora, onde julgam poder vingar do mesmo modo que pensam tê-lo feito aqui. Chegamos à recta final desta corrida, onde vale tudo para chegar à meta antes do parceiro.
          Tambem do lado dos candidatos à sucessão já se nota a busca de lugares ao sol. A recente decisão de Seguro de organizar uns Estados Gerais socialistas (como Sócrates e Guterres fizeram antes da consagração eleitoral) não é mais do que apresentar a escrutinio interno os candidatos a governantes. O próprio Seguro, seguro da sua próxima eleição, já não fala exaltado na substituição indispensável de Passos, que, para ele, estaria conduzindo o país para a desgraça, pensando, pelo contrário, que a breve trecho será ele o alvo visado pela populaça descontente com as medidas proteccionistas dos credores, que continuarão enquanto não se conseguir sanear decisivamente este país ingovernável e ingovernado.
          Os congressos partidários já anunciados (onde serão escolhidos os candidatos a deputados europeus, deixando os sobrantes para as novas listas de deputados nacionais a apresentar nas próximas eleições legislativas, que todos anteveem para o ano) são tambem sinais clássicos de preparação para novas lutas. Todos querem ficar bem na fotografia. Os de hoje escondem-se por detrás daqueles que julgam poder tapá-los; os de amanhã esticam os pescoços em bicos de pés para que se lhes vejam as cabeças atrás dos chefes.
          A politica é isto mesmo. Os que mandam, julgam-se predestinados para mandar até ao momento em que verificam que afinal o seu destino é aproveitar-se do lugar que lhes saiu na rifa. Os que aspiram a mandar, no que pensam é na vã glória do poder e só depois se apercebem que mandar não é só dar ordens.

                             ALBINO ZEFERINO                                      11/12/2013

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