sábado, 12 de abril de 2014

A PLATAFORMA MARITIMA PORTUGUESA


          Desde sempre que os portugueses procuraram algo onde agarrar-se para pendurar a endémica dependencia em que nasceram. Está-lhes na massa do sangue como soi dizer-se. São um povo colectivista no mau sentido, ou seja, não têm iniciativa individual para avançar, precisando sempre de algo ou de alguem que os anime a moverem-se. Tal como os jumentos, que se não fosse o chicote do dono ficariam placidamente esperando inputs (como hoje se diz), marchando pachorrentemente em redor da nora.
          Se bem atentarmos, veremos que não existem portugueses que se tenham distinguido por feitos ou descobertas individuais. Há os chefes militares, os lideres politicos e as equipas vencedoras. Não há prémios Nobel, nem empreendedores excepcionais, nem compositores famosos ou escritores de excepção (vá lá o Pessoa, mas que não era sequer completamente portugues). E se atentarmos ainda melhor, verificamos que mesmo esses que se distinguiram por mandar ou ter influencia nos outros, fizeram-no sempre dependentes ou mancomundados por estrangeiros. O caso actual é paradigmatico. Passos Coelho ficou intimamente ligado a Merkel e aos alemães, que lhe deram a força necessária para desencadear as reformas (modestissimas) que empreendeu.
          Agora que vão ficar sem a "protecção" da troika (desculpa para as aleivosias governamentais contra os interesses instalados) os portugas começaram à procura do seu novo D. Sebastião. À falta de melhor, "descobriram" uma coisa que sempre lá esteve, quietinha e sossegada, que é o Mar. Ele é o surf e as ondas da Nazaré, é os paquetes carregados de turistas que desembarcam por escassas horas no Terreiro do Paço a tempo de um cafezinho no Martinho da Arcada, é as férias no Algarve entalados como sardinhas em lata nos aldeamentos turisticos manhosos, é a Foz do Douro e a praia do Moledo, fria como ó caraças, é a Caparica e as bichas na ponte, são as praias desertas e desprotegidas da costa alentejana, etc.etc.
          Mas parece que o mar é mais do que isto. Dizem alguns com estudos que a nossa plataforma continental (contando com os Açores e com a Madeira e sobretudo com as ilhas Selvagens, que ninguem lá mora), cobre quase metade do oceano atlantico, o que aumenta o território nacional dez vezes mais. Reconhecida a soberania portuguesa sobre essa área aquática, passariamos a ser de longe o mais extenso país europeu.  Mas a questão é precisamente essa mesmo. Quererão os outros países do mundo (a questão está há anos para decisão no Conselho de Segurança da ONU) deixar a Portugal sózinho a responsabilidade na administração de tão vasta área? Não me parece. Pois se nós não conseguimos administrar capazmente este jardinzinho à beira-mar plantado, como teremos capacidade para explorar, fiscalizar, gerir, investigar, negociar, implementar ou até comerciar, as enormes riquezas que se adivinham nesta área descomunal e profunda do universo?
          Tal como com os territórios descobertos nos séculos XV e XVI e depois com as colónias nos séculos XIX e XX, os nossos "amigos" (vizinhos e credores) sempre nos quiseram "ajudar" a gerir aquele império descomunal para o nosso tamanho e para as nossas capacidades. De novo reduzidos a este quadradinho engraçado no extremo suroeste da Europa, receio que os nossos "amigos" apenas aguardem que os ânimos universais arrefeçam para (como antes fizeram) dividir ou destinar a concessão de tão vastas áreas de riquezas desconhecidas. Para Portugal ficará (se algo sobrar da partilha) a pesca nas 12 milhas da ordem e a livre circulação maritima por uma área que figurará como pertencente formalmente aos portugueses.
          Não nos esqueçamos nunca do ultimato ingles de 1890. Se D. Carlos não tivesse recuado, os bifes tinham disparado mesmo.

                                           ALBINO ZEFERINO                                     12/4/2014
       

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