Prestes a cumprir 40 anos, a revolução do 25 de Abril de 1974 atingiu uma idade onde já é possivel fazer-lhe um balanço desapaixonado. Para que serviu? Que vantagens trouxe? Quem beneficiou com ela? Quem ficou prejudicado? O que acrescentou o 25 de abril à história de Portugal?
Comecemos pelo principio. Lançada pelos tres D - democratização, descolonização e desenvolvimento - a ultima revolução da já longa história deste país trágico-cómico pretendeu acima de tudo terminar uma guerra sem fim, que se travava longe e sem hipóteses de ser vencida. Tinhamos entrado num impasse com os terroristas, donde dificilmente poderiamos sair sem custos. A saida teria que ser negociada, isto é, politicamente motivada e dirigida. Vendo que os politicos de então estavam divididos e pouco convencidos em abdicar dos principios que eles próprios consideravam vitais para a manutenção da independência de Portugal, os militares de abril resolveram rebelar-se e manifestar pelas armas o seu desacordo quanto à continuação da guerra. A adesão popular foi imediata e sem reservas (melhor dizendo, sem reflexão) pois imaginava-se que, acabada a guerra, tudo o resto continuaria como dantes. É isso o que todas as revoluções têm em comum. Imprevisibilidade nas suas consequencias.
Ao fim da guerra no Ultramar (à qual a maioria dos jovens da época nunca aderira convictamente) os militares revoltosos juntaram a promessa da democratização do país. Desde há mais de 40 anos que Portugal vivia pacata e pobremente à sombra de um regime que tinha trazido ao país um pouco de sossego à confusão politica resultante dos primeiros anos da republica, mas à custa de alguma segregação social e económica que opunha as classes mais possidentes à maioria pobre dos restantes cidadãos. O regresso anunciado da democracia que a maioria do povo portugues nunca tinha experimentado, conferia às promessas dos militares uma novidade modernizadora, dificil de esconder nos corações angustiados da maioria dos portugueses de então. Para compor o ramalhete das promessas, os militares revoltosos juntaram-lhe o desenvolvimento. O desenvolvimento significava para a maioria das pessoas, modernidade, riqueza, mundanismo e acesso a certos bens de consumo, que naquela altura eram raros e caros. Tudo isto era apetecível a uma população maioritariamente ignorante, inculta e iletrada.
Só que as promessas não foram cumpridas da forma que a maioria das pessoas esperava. O fim da guerra não trouxe nem glória nem fama. A democratização foi capturada à nascença pelos sectores mais radicais da revolução, que pretenderam pura e simplesmente substituir-se ao poder instalado sem fazer quaisquer concessões, não permitindo que a democracia se instalasse ordeira, progressivamente e sem distorções que a desvirtuam e o verdadeiro desenvolvimento nunca surgiu até hoje; eramos um país pobre e um país pobre continuamos a ser.
As independências africanas resultaram na sua maioria em guerras civis fratricidas e o desenvolvimento dos novos países ainda está hoje longe de se considerar adquirido. Nalguns países (se não em todas as antigas colónias portuguesas) a vida das respectivas populações perdeu qualidade e as esperanças de que a independência trazia de novas oportunidades de desenvolvimento não se concretizou. A democracia formal de que Portugal e as suas antigas colónias juridicamente gozam não trouxeram aos respectivos povos as garantias de melhoria de vida que os revolucionários militares de abril tinham prometido. E o desenvolvimento tem sido incipiente, quer no Portugal europeu, quer nos novos países africanos de expressão portuguesa ou em Timor. A liberdade conquistada não serviu até hoje senão para a criação de lobbies e para a difusão de esquemas de corrupção em larga escala, comprometedores de um desenvolvimento equilibrado e progressivo que permita o exercicio do poder verdadeiramente democrático, próprio dos países mais desenvolvidos e progressivos do mundo, onde pretendemos incluir-nos.
Poderemos dizer que a revolução que cumpre dentro de dias 40 anos de vida nos trouxe (e aos países que criamos) mais bem-estar e mais oportunidades do que aquelas que o regime caduco e sem futuro nos oferecia há 40 anos? Será dificil responder positivamente a esta magna questão, mesmo que queiramos justificar um gesto inegavelmente corajoso e determinado, feito por meia-duzia de iluminados e aceite inconscientemente pela maioria da população descrente e cansada duma politica sem futuro e sem visão.
ALBINO ZEFERINO 22/4/2014
Ao fim da guerra no Ultramar (à qual a maioria dos jovens da época nunca aderira convictamente) os militares revoltosos juntaram a promessa da democratização do país. Desde há mais de 40 anos que Portugal vivia pacata e pobremente à sombra de um regime que tinha trazido ao país um pouco de sossego à confusão politica resultante dos primeiros anos da republica, mas à custa de alguma segregação social e económica que opunha as classes mais possidentes à maioria pobre dos restantes cidadãos. O regresso anunciado da democracia que a maioria do povo portugues nunca tinha experimentado, conferia às promessas dos militares uma novidade modernizadora, dificil de esconder nos corações angustiados da maioria dos portugueses de então. Para compor o ramalhete das promessas, os militares revoltosos juntaram-lhe o desenvolvimento. O desenvolvimento significava para a maioria das pessoas, modernidade, riqueza, mundanismo e acesso a certos bens de consumo, que naquela altura eram raros e caros. Tudo isto era apetecível a uma população maioritariamente ignorante, inculta e iletrada.
Só que as promessas não foram cumpridas da forma que a maioria das pessoas esperava. O fim da guerra não trouxe nem glória nem fama. A democratização foi capturada à nascença pelos sectores mais radicais da revolução, que pretenderam pura e simplesmente substituir-se ao poder instalado sem fazer quaisquer concessões, não permitindo que a democracia se instalasse ordeira, progressivamente e sem distorções que a desvirtuam e o verdadeiro desenvolvimento nunca surgiu até hoje; eramos um país pobre e um país pobre continuamos a ser.
As independências africanas resultaram na sua maioria em guerras civis fratricidas e o desenvolvimento dos novos países ainda está hoje longe de se considerar adquirido. Nalguns países (se não em todas as antigas colónias portuguesas) a vida das respectivas populações perdeu qualidade e as esperanças de que a independência trazia de novas oportunidades de desenvolvimento não se concretizou. A democracia formal de que Portugal e as suas antigas colónias juridicamente gozam não trouxeram aos respectivos povos as garantias de melhoria de vida que os revolucionários militares de abril tinham prometido. E o desenvolvimento tem sido incipiente, quer no Portugal europeu, quer nos novos países africanos de expressão portuguesa ou em Timor. A liberdade conquistada não serviu até hoje senão para a criação de lobbies e para a difusão de esquemas de corrupção em larga escala, comprometedores de um desenvolvimento equilibrado e progressivo que permita o exercicio do poder verdadeiramente democrático, próprio dos países mais desenvolvidos e progressivos do mundo, onde pretendemos incluir-nos.
Poderemos dizer que a revolução que cumpre dentro de dias 40 anos de vida nos trouxe (e aos países que criamos) mais bem-estar e mais oportunidades do que aquelas que o regime caduco e sem futuro nos oferecia há 40 anos? Será dificil responder positivamente a esta magna questão, mesmo que queiramos justificar um gesto inegavelmente corajoso e determinado, feito por meia-duzia de iluminados e aceite inconscientemente pela maioria da população descrente e cansada duma politica sem futuro e sem visão.
ALBINO ZEFERINO 22/4/2014
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